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Interior

Após despejo, indígenas seguem em área de confronto

Guarani-kaiowás recuaram da sede após ação da polícia, mas barracos continuam em área de lavoura

Helio de Freitas, de Dourados | 06/03/2023 14:26
Barracos prontos e outros sendo levantados na Fazenda Do Inho, em Rio Brilhante (Foto: Anderson Santos)
Barracos prontos e outros sendo levantados na Fazenda Do Inho, em Rio Brilhante (Foto: Anderson Santos)

Indígenas expulsos pela Polícia Militar dos arredores da sede da Fazenda Do Inho, em Rio Brilhante (a 160 km de Campo Grande), mantêm a ocupação da área de lavoura onde entraram na madrugada de sexta-feira (3).

Alguns barracos já estão prontos e outros sendo montados no espaço localizado entre a sede e a mata, nos fundos da propriedade, onde estavam acampados há pelo menos 15 anos.

Anderson Santos, assessor jurídico do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), disse que o clima é de aparente tranquilidade. Nesta segunda-feira, começou no local a Aty Guasu (Grande Assembleia do Povo Kaiowá e Guarani). Em torno de 500 pessoas estão no acampamento.

Segundo o advogado, a colheita da soja foi concluída no fim de semana. Na sexta-feira, o proprietário, Raul das Neves Junior, registrou boletim de ocorrência na Polícia Civil informando que dos 360 hectares plantados com soja, apenas 40 hectares tinham sido colhidos.

Os indígenas que ampliaram a ocupação da Fazenda Do Inho na sexta-feira e ocupam parte da fazenda vizinha, a Santo Antonio, reivindicam a demarcação do território tradicional Laranjeira-Ñanderu, que faz parte da Terra Indígena Brilhantepeguá, em fase de identificação.

A área da qual fazem parte as fazendas Do Inho e Santo Antonio já passou por perícia judicial há alguns anos e o trabalho teria confirmado a tradicionalidade. A Justiça deu sentença favorável à demarcação, mas o processo não andou depois disso.

Despejo e prisões – Na sexta-feira à tarde, mesmo sem mandado judicial, a Polícia Militar expulsou os indígenas das cercanias da sede da Fazenda do Inho.

Clara Barbosa de Almeida, Adalton Barbosa de Almeida e Lucimar Sanbrio Centurião, o Lucas, foram presos em flagrante por esbulho possessório (invasão), resistência e desobediência. No sábado (4), eles foram soltos por ordem da juíza plantonista Monique Antunes Krieger.

Também no sábado, o procurador da República Marco Antonio Delfino de Almeida foi ao acampamento para conversar com os indígenas e tomar ciência da ação da polícia, considerada ilegal devido à ausência de ordem judicial.

Ainda na sexta-feira, o secretário estadual de Justiça e Segurança Pública, Antonio Carlos Videira, disse que a PM interviu devido a suposto risco de confronto na região.

“A exemplo da invasão anterior na mesma propriedade [fevereiro de 2022], acampados sem-terra pretendiam invadir a área para pressionar a criação ali de um assentamento, cuja desapropriação geraria indenização ao produtor, porém como a área também é desejada pelos indígenas que estão ao lado, esses resolveram invadir antes”, afirmou.

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