Após despejo, indígenas seguem em área de confronto
Guarani-kaiowás recuaram da sede após ação da polícia, mas barracos continuam em área de lavoura
Indígenas expulsos pela Polícia Militar dos arredores da sede da Fazenda Do Inho, em Rio Brilhante (a 160 km de Campo Grande), mantêm a ocupação da área de lavoura onde entraram na madrugada de sexta-feira (3).
Alguns barracos já estão prontos e outros sendo montados no espaço localizado entre a sede e a mata, nos fundos da propriedade, onde estavam acampados há pelo menos 15 anos.
Anderson Santos, assessor jurídico do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), disse que o clima é de aparente tranquilidade. Nesta segunda-feira, começou no local a Aty Guasu (Grande Assembleia do Povo Kaiowá e Guarani). Em torno de 500 pessoas estão no acampamento.
Segundo o advogado, a colheita da soja foi concluída no fim de semana. Na sexta-feira, o proprietário, Raul das Neves Junior, registrou boletim de ocorrência na Polícia Civil informando que dos 360 hectares plantados com soja, apenas 40 hectares tinham sido colhidos.
Os indígenas que ampliaram a ocupação da Fazenda Do Inho na sexta-feira e ocupam parte da fazenda vizinha, a Santo Antonio, reivindicam a demarcação do território tradicional Laranjeira-Ñanderu, que faz parte da Terra Indígena Brilhantepeguá, em fase de identificação.
A área da qual fazem parte as fazendas Do Inho e Santo Antonio já passou por perícia judicial há alguns anos e o trabalho teria confirmado a tradicionalidade. A Justiça deu sentença favorável à demarcação, mas o processo não andou depois disso.
Despejo e prisões – Na sexta-feira à tarde, mesmo sem mandado judicial, a Polícia Militar expulsou os indígenas das cercanias da sede da Fazenda do Inho.
Clara Barbosa de Almeida, Adalton Barbosa de Almeida e Lucimar Sanbrio Centurião, o Lucas, foram presos em flagrante por esbulho possessório (invasão), resistência e desobediência. No sábado (4), eles foram soltos por ordem da juíza plantonista Monique Antunes Krieger.
Também no sábado, o procurador da República Marco Antonio Delfino de Almeida foi ao acampamento para conversar com os indígenas e tomar ciência da ação da polícia, considerada ilegal devido à ausência de ordem judicial.
Ainda na sexta-feira, o secretário estadual de Justiça e Segurança Pública, Antonio Carlos Videira, disse que a PM interviu devido a suposto risco de confronto na região.
“A exemplo da invasão anterior na mesma propriedade [fevereiro de 2022], acampados sem-terra pretendiam invadir a área para pressionar a criação ali de um assentamento, cuja desapropriação geraria indenização ao produtor, porém como a área também é desejada pelos indígenas que estão ao lado, esses resolveram invadir antes”, afirmou.