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Interior

Bispo responde crítica de produtora de que CNBB é “braço demoníaco da igreja”

Em artigo, Redovino Rizzardo chama declarações de “calúnias” e diz que acusações contra o Cimi refletem insatisfação de quem não aceita envolvimento da igreja em defesa dos excluídos

Helio de Freitas, de Dourados | 27/08/2015 10:59
O bispo da diocese de Dourados, dom Redovino Rizzardo, escreveu artigo para rebater declarações de fazendeira (Foto: Divulgação)
O bispo da diocese de Dourados, dom Redovino Rizzardo, escreveu artigo para rebater declarações de fazendeira (Foto: Divulgação)

Em artigo publicado nesta quinta-feira (27), o bispo dom Redovino Rizzardo, da diocese de Dourados, rebate as declarações feitas pela produtora rural Luana Ruiz Silva em vídeo que circulou nas redes sociais e meios de comunicação, na segunda-feira (24). Ela acusou o Cimi (Conselho Indigenista Missionário) de organizar as invasões no município de Antonio João e chamou a CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) de “braço demoníaco da igreja”.

O religioso afirma que a produtora rural – filha de um dos proprietários das fazendas ocupadas pelos índios nos últimos cinco dias - desafogou seu ressentimento contra a CNBB por sentir “seus interesses prejudicados”.

Lideranças organizaram ocupações – “Antes de tudo gostaria de esclarecer que na quinta-feira, dia 20 de agosto, membros do Cimi participavam de uma reunião comigo em Dourados, numa tentativa de diálogo com produtores rurais de Amambai. Se se achavam em Dourados, não poderiam estar em Antonio João destituindo caciques e incentivando ocupações. Afirmar que os índios se deixam manipular pelo Cimi em suas iniciativas e decisões é menosprezar a inteligência de suas lideranças, as únicas responsáveis pelas “invasões” (assim vistas pelos produtores rurais) ou “retomadas” (como são consideradas pelos indígenas)”, afirma o bispo Redovino.

O religioso cita que nos 17 municípios que formam a Diocese de Dourados vivem em torno de 35 mil índios e 70 mil agricultores. “Muitos destes últimos são sulistas e gaúchos, como eu. Ou seja, pessoas habituadas a cultivar a terra. Migrantes que aqui chegaram a partir de 1970 e que adquiriram legalmente suas propriedades. E que delas precisam para sobreviver e para construir a riqueza do país”.

Bode expiatório – O bispo douradense acusa pessoas “com poder político e econômico” nas mãos de “envenenarem” os produtores rurais, “justamente insatisfeitos ante uma situação de conflito que se prolonga indefinidamente e que a todos prejudica, índios e agricultores, já que o governo central teima em não tomar providências”. Segundo Redovino, “parece mais fácil e mais cômodo a essas pessoas transformar o Cimi no bode expiatório do momento”.

Redovino Rizzardo afirma que por várias oportunidades os bispos de Mato Grosso do Sul se manifestaram sobre os conflitos por terra envolvendo índios e fazendeiros. “Fizemos uma proposta levantada por agricultores e indígenas, que nos parecia a única viável: a indenização justa das terras identificadas como indígenas pelo governo, a fim de que também os índios – do jeito que seus costumes e sua cultura pedem – tirem seu sustento, assim como fazem os demais agricultores do Estado”.

Calúnias – O bispo chamou de “calúnias pesadas e insustentáveis” as declarações da fazendeira de Antônio João e disse que medidas judiciais estão sendo estudadas. “Tais calúnias refletem a insatisfação de quantos não aceitam o envolvimento da igreja na defesa e na promoção dos excluídos e marginalizados, para não perderem seus privilégios. É o que, com outras palavras, afirmava Dom Hélder Câmara: ‘Quando dou comida aos pobres, me chamam de santo. Quando pergunto por que eles são pobres, me acusam de comunista!’”.

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