Boné de rapaz levado em viatura do DOF é achado em Golf e intriga família
Vídeo de câmera de segurança mostra Rodney Santos usando boné vermelho quando foi levado para viatura; família denuncia que polícia só aceitou registrar desaparecimento após ver gravação
Familiares dos irmãos Rodney Campos dos Santos, 27, e Edney Bruno Ortiz Amorim, 20, desaparecidos desde sábado (12) em Ponta Porã, a 323 km de Campo Grande, continuam sem pistas deles e conforme o tempo passa o desespero e a angústia só aumentam. Os dois sumiram depois de serem abordados por uma equipe do DOF (Departamento de Operações de Fronteira) em um posto de combustíveis na saída para o município de Antônio João.
Um vídeo gravado por câmeras de segurança do posto mostra Rodney sendo levado para a viatura e depois o veículo saindo do local enquanto Edney foi colocado no banco traseiro do Golf e acompanhado por três policiais. Um deles dirigiu o carro, que saiu atrás da viatura. O Golf foi encontrado no mesmo dia, no lado paraguaio da fronteira.
Na manhã de hoje (17), pessoas ligadas à família, que por medida de segurança pediram para não terem o nome divulgado, afirmaram ao Campo Grande News que os fatos intrigantes sobre o desaparecimento só aumentam.
O boné vermelho, usado por Rodney no momento em que ele era levado para a viatura, foi encontrado no banco traseiro do Golf. “Por que o boné que estava sendo usado pelo Rodney no momento que ele entrou na viatura estava no Golf? E por que o carro está todo sujo por dentro?”, questiona um parente dos irmãos.
Até agora a direção do DOF se manifestou apenas através de uma nota oficial, divulgada ontem à noite, informando que o diretor do departamento, coronel PM Kleber Haddad Lane, instaurou um Inquérito Policial Militar para apuração dos fatos tão logo teve acesso às imagens da abordagem. Os policiais militares de serviço daquela área foram afastados e aguardam as investigações.
Golf – De acordo com familiares ouvidos pela reportagem, o posto de combustíveis onde os irmãos foram abordados, por volta de 11h40 de sábado, fica na saída para Antônio João. Já o Golf usado por eles foi encontrado no bairro Defensores del Chaco, em Pedro Juan Caballero, a cem metros da Linha Internacional, na saída para Dourados – do outro lado da cidade.
“Por enquanto só temos um monte de perguntas, porque nada está batendo”, disse um parente dos irmãos. Ontem, o pai deles, Claudinei Amorin dos Santos, pediu ajuda de toda a população da fronteira para localizar os filhos. O carro está apreendido na Polícia Nacional, em Pedro Juan.
B.O só após o vídeo – Parentes dos irmãos desaparecidos afirmam que a Polícia Civil só aceitou registrar o boletim de ocorrência sobre o caso após a família conseguir uma cópia do vídeo mostrando a abordagem.
“Como tinha o grande nome envolvido [DOF], não podiam fazer o boletim de ocorrência sem provas, mas aí levamos o vídeo e só ontem [dia 16] conseguimos registrar o desaparecimento”, afirmou o parente de Rodney e Edney.
Apesar de Rodney ter antecedentes criminais por tráfico de drogas, os familiares afirmam que eles não estavam com armas ou entorpecentes. “Nem com dinheiro eles estavam”.
Rodney tinha sido condenado por tráfico em 2012 e após dois anos cumprindo pena ganhou regime semiaberto e começou a trabalhar em lojas do comércio de Ponta Porã. No ano passado ele foi beneficiado com a liberdade condicional. Edney não tem antecedentes.
O caso – As imagens da câmera de segurança do posto onde os irmãos foram abordados são a última aparição dos irmãos. Na primeira gravação é possível ver os jovens sendo abordados e tendo os documentos e pertences checados pelos policiais. Já nesta última, mais completa, os irmãos são vistos sendo levados pelos policiais. Um deles, de roupa vermelha, seguiu na viatura do DOF, enquanto o outro, de roupa cor vinho, foi no carro.
Na noite de ontem, o secretário estadual de Justiça e Segurança Pública, José Carlos Barbosa, disse ao Campo Grande News que o caso foi transferido para a DEH (Delegacia Especializa de Repressão aos Crimes de Homicídios).
"Tão logo tomei conhecimento, determinei ao delegado geral [Marcelo Vargas] da Polícia Civil para que avoque o inquérito e possa as investigações ser conduzidas pelo setor de pessoas desaparecidas da delegacia especializada de homicídios da Capital", explicou José Carlos Barbosa. Vargas confirmou que o inquérito será cuidado pela DEH em Campo Grande.