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Interior

Carbonizado na fronteira, Betão tinha ligação até com ex-governador do MT

Alberto Nogueira foi servidor estadual e em 2004 teve ligação na morte de empresário e um geólogo em SP; ex-senador Júlio Campos foi apontado como mandante

Helio de Freitas, de Dourados | 22/04/2016 12:00
Corpos de Betão e de policial civil estavam em Hilux queimada no lixão de Bela Vista (Foto: Direto das Ruas)
Corpos de Betão e de policial civil estavam em Hilux queimada no lixão de Bela Vista (Foto: Direto das Ruas)
O policial Anderson Celin Gonçalves da Silva (Foto: Reprodução/Facebook)
O policial Anderson Celin Gonçalves da Silva (Foto: Reprodução/Facebook)
Betão era conhecido com um dos maiores pistoleiros de MS (Foto: Reprodução)
Betão era conhecido com um dos maiores pistoleiros de MS (Foto: Reprodução)

Encontrado carbonizado em uma caminhonete Toyota Hilux no lixão de Bela Vista, a 322 km de Campo Grande, na manhã de ontem (21), junto com o policial civil Anderson Celin Gonçalves da Silva, 36, Alberto Aparecido Roberto Nogueira, 55, o Betão, era considerado um dos maiores pistoleiros de Mato Grosso do Sul, a quem eram atribuídos várias mortes ocorridas no Estado e até fora dele.

Servidor da Secretaria Estadual de Fazenda por vários anos, cargo que manteve mesmo após todas as acusações e prisões, Betão era “respeitado” no submundo do crime, principalmente depois que trocou tiros em uma rua do Centro de Campo Grande, em julho de 2003, com os irmãos Hudson Ortiz e Hudman Ortiz, os dois policiais militares.

Segundo a investigação da Polícia Civil, os irmãos policiais estavam em uma moto e tentaram emboscar Betão para matá-lo. Mesmo com a caminhonete que dirigia em movimento, Betão alvejou os dois, matou Hudson e deixou Hudman ferido. Alberto Nogueira foi absolvido dos crimes, por legítima defesa. Hudman ficou paraplégico.

Na época, Betão já respondia por vários crimes e mesmo assim continuava lotado no governo de Mato Grosso do Sul.

Crimes em São Paulo – Em 2004, Betão foi acusado de participar do assassinato do empresário Antonio Ribeiro Filho e do geólogo húngaro Nicolau Ladislau Erwin Haralyi. O ex-deputado federal, ex-senador e ex-governador de Mato Grosso Júlio Campos foi formalmente acusado de ser o mandante das mortes. O motivo seria a disputa por terra em Aripuanã (MT).

Além de Betão, dois policiais civis e um cabo da Polícia Militar do Mato Grosso do Sul foram acusados de serem os executores dos dois crimes, ocorridos com intervalo de 15 dias.

O então cabo da PM Nelson Barbosa de Oliveira, na época com 41 anos, foi reconhecido por duas testemunhas como o homem que matou o geólogo, no dia 20 de julho, no Morumbi, em São Paulo. Betão dirigia a picape Hilux usada no crime e foi reconhecido por uma testemunha. Ele ainda não tinha sido julgado por esse crime.

Já os policiais civis Ezaquiel Leite Furtado e Eduardo Minare Higa foram presos pelo assassinato do empresário Ribeiro Filho, ocorrido no Guarujá, em 5 de agosto. Eles se tinham se hospedado no mesmo flat onde estava a vítima e foram presos no Aeroporto de Congonhas horas depois do crime.

Segundo notícias da época, Ribeiro Filho era sócio da empresa Agropastoril Cedrobom e o geólogo foi contratado para fazer estudos na área de 87 mil hectares em Aripuanã, onde há jazidas de diamantes, e de outra área, com 11,7 mil hectares, em Juína (MT).

Ameaça contra procurador e armas – Preso várias vezes, Betão nunca ficava muito tempo atrás das grades. Em 2009, foi condenado pelo Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul a três anos em regime semiaberto por corrupção ativa, acusado de tentar subornar o procurador Carlos Alberto Zeola, que apurava improbidade de servidores da Secretaria Estadual de Receita e Controle.

Em 2010, Alberto Nogueira voltou a ser preso, um mês depois de ganhar liberdade, dessa vez pela Polícia Federal, por contrabando e posse ilegal de armas e munições.

No apartamento dele, no bairro Monte Castelo, na Capital, policiais encontraram uma pistola calibre 9 milímetros, um revólver 38, munições de diversos calibres, silenciador, algemas, spray de gás de pimenta, colete a prova de bala, rádio de comunicação, 3 mil dólares e 45 mil reais em espécie.

Na época, seu advogado disse que a PF investigava Betão por contrabando de armas, mas ele teria adquirido o material há mais de 15 anos, quando ainda trabalhava na Secretaria de Fazenda de Mato Grosso do Sul.

Betão também tinha sido preso no Paraguai, acusado de fazer parte de um grupo de matadores profissionais, supostamente financiados por Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar. Deportado, foi entregue à polícia brasileira e na época disse que policiais de Mato Grosso do Sul “armaram” para ele em território paraguaio.

Policial civil – O investigador Anderson Celin Gonçalves da Silva, 36, que estava com as mãos algemadas e foi encontrado carbonizado na Hilux com Betão, morava em Campo Grande e era lotado na delegacia de Jaraguari. A Polícia Civil ainda não se manifestou sobre o caso.

Nesta sexta-feira (22), o Sinpol-MS (Sindicato dos Policiais Civis de Mato Grosso do Sul) divulgou nota em que lamenta a morte de Anderson da Silva “ocorrida em circunstâncias ainda a serem verificadas”.

“Solicitamos a apuração adequada dos fatos e a punição exemplar dos autores”, diz a nota.

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