Corrupção em Naviraí incluía extorsão de empresários e fraude em licitações
O esquema desvendado pela Operação Atenas da Polícia Federal em Naviraí, a 366 km de Campo Grande, incluía uma série de atividades criminosas. A rede de corrupção era ampla, conforme explicaram em entrevista coletiva os delegados responsáveis pela operação. O superintendente da PF em Mato Grosso do Sul, Edgar Paulo Marcon, participou da entrevista ao lado de dois promotores de Justiça.
As dez pessoas presas – seis vereadores, três assessores desses mesmos vereadores e a mulher do presidente da Câmara – são acusadas de extorquir empresários em troca da liberação de alvará, fraudar licitações, receber diárias da Câmara por viagens que nunca aconteceram e contratar funcionários para o Legislativo e obrigá-los a fazer empréstimos consignados e ficar com parte desse dinheiro.
Sete acusados tiveram a prisão preventiva decretada – o presidente da Câmara Cícero dos Santos, o Cicinho do PT, os vereadores Marcus Douglas Miranda (PMN), Adriano José Silvério (PMDB), Solange Olímpia Pereira de Castro Melo (PSDB), Carlos Alberto Sanches, o Carlão (PSDB) e Vanderlei Chagas (PSD) e um assessor da Câmara. Outras três pessoas foram presas de forma temporária – dois assessores da Câmara e a mulher de Cicinho do PT, Mainara Santos, dona de uma loja em Naviraí.
Carlos Alberto Sanches e Vanderlei Chagas estavam em Campo Grande e quando souberam da operação procuraram a PF na capital e se entregaram. Os demais foram presos em Naviraí.
A vereadora Solange Melo, 55 anos, é policial civil aposentada e mulher do delegado federal Severino Alexandre de Andrade Melo, que por 16 anos foi titular da delegacia da PF em Naviraí. Em 2005 ele foi transferido para São Paulo.
Candidato a deputado estadual nas eleições deste ano, o vereador Marcus Douglas tinha sido detido no sábado, véspera da votação, por desrespeito à lei eleitoral e desacato ao juiz Eduardo Lacerda Trevisan. Marcus fazia uma carreta na cidade que passou em frente ao Cartório Eleitoral, contrariando a lei. No mesmo dia ele foi liberado. Cicinho do PT também foi candidato a deputado estadual e assim como o colega Marcus Douglas teve problema com a Justiça Eleitoral na véspera das eleições. Um assessor dele foi detido com R$ 19 mil em dinheiro.
Outras 28 pessoas foram levadas para a delegacia da Polícia Federal para depoimentos, que devem durar o dia todo. Também foram cumpridos 35 mandados de busca e apreensão em residências, lojas postos de combustíveis e na Câmara de Vereadores, que foi lacrada pela operação. A loja de Mainara também foi fechada.
Computadores e dezenas de malotes e pastas com documentos foram apreendidos, assim como 27 carros, motos, quatro armas, R$ 70 mil em dinheiro e até um barco de pesca. A Polícia Federal informou que serão necessários vários dias para analisar toda a documentação recolhida durante a operação. Os vereadores e as demais pessoas presas são acusados de formação de quadrilha, corrupção, desvio de recursos públicos e extorsão contra o poder Executivo.
A operação – De acordo com a Polícia Federal, as investigações começaram em novembro de 2013. Através de escutas telefônicas autorizadas pela Justiça, os policiais em conjunto com o Ministério Público Estadual descobriram que vereadores da cidade exigiam e recebiam vantagens indevidas para aprovação de leis e para atuações ilegais na expedição de alvarás para estabelecimentos comerciais. Foi descoberto também um esquema ilegal de recebimento de diárias pagas a servidores públicos municipais por viagens que só existiram no papel.
Nesta quarta-feira de manhã, 200 policiais federais das delegacias de Dourados, Ponta Porã e Naviraí e da Superintendência em Campo Grande foram à Câmara Municipal, às residências dos vereadores e demais suspeitos, em várias empresas e escritórios para fazer as prisões, levar pessoas para depoimento e recolher documentos e computadores.