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Interior

Denúncia sobre agrotóxico foi última colaboração de Leo a ganhar o mundo

Jornalista executado na fronteira colaborou com correspondente do jornal norte-americano em material sobre agrotóxico ilegal

Helio de Freitas, de Dourados | 14/02/2020 15:09
Foto da fronteira imaginária entre Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, publicada em jornal norte-americano (Terrence McCoy/ The Washington Post)
Foto da fronteira imaginária entre Ponta Porã e Pedro Juan Caballero, publicada em jornal norte-americano (Terrence McCoy/ The Washington Post)

“In agricultural giant Brazil, a growing hazard: The illegal trade in pesticides (No gigante agrícola Brasil, um risco crescente: o comércio ilegal de pesticidas)”. Esse é o título da reportagem investigativa publicada no dia 9 deste mês pelo The Washington Post, o lendário jornal norte-americano que tem tiragem diária de 325 mil exemplares e em 2019 superou milhão de assinaturas digitais.

Escrita pelo jornalista norte-americano Terrence McCoy, correspondente do Post instalado no Rio de Janeiro, a reportagem pode ser considerada a última colaboração do jornalista brasiguaio Lourenço Veras, o Leo, executado por três pistoleiros na noite de quarta-feira (12) em Pedro Juan Caballero, cidade paraguaia vizinha de Ponta Porã (MS).

McCoy esteve em Mato Grosso do Sul no início de janeiro. Ele também percorreu a fronteira com o Paraguai, onde recebeu o apoio de Leo Veras. A colaboração foi fundamental para Terrence McCoy descobrir os meandros do contrabando de pesticidas ilegais que saem do Paraguai – alguns vindos da China e outros fabricados ali mesmo – e se espalham pelas principais regiões agrícolas do país.

Para escrever a reportagem, o repórter do Post esteve em Dourados, onde acompanhou o trabalho da PRF (Polícia Rodoviária Federal) de repressão ao contrabando. Em Pedro Juan Caballero, Terrence McCoy conversou com agente da Interpol que informou sobre as fábricas locais de pesticidas ilegais, em funcionamento bem ali na cidade considerada o paraíso para os sul-mato-grossenses por causa dos produtos importados.

McCoy localizou três contrabandistas de pesticidas na cidade fronteiriça que se recusaram a comentar sobre seu comércio legal. “Não porque eles temiam a polícia, disseram eles, mas porque não queriam alertar os concorrentes em potencial sobre quanto dinheiro estavam ganhando”, afirma trecho da reportagem do Post.

“Ao longo da fronteira com o Paraguai, onde a fiscalização aduaneira varia de frouxa a inexistente, o tema parece ainda mais perigoso. A polícia do Paraná encontrou carros cheios de pesticidas ilegais. E no vizinho Mato Grosso do Sul, onde o peso dos pesticidas apreendidos dobrou em 2019, a polícia e os promotores estão cada vez mais reclamando de uma situação em descontrole”, afirma outro trecho da reportagem investigativa.

"Quando você considera todos os fatores, isso é mais lucrativo do que as drogas", disse ao jornalista norte-americano o promotor de Justiça em Dourados, Ricardo Rotunno.

“Eu trabalhei com ele quando fui a Ponta Porã para fazer a reportagem. Desde que conheci Leo, há várias semanas, ele provou ser um jornalista fantástico, um pai e esposo comprometido, e estou com o coração triste por sua morte”, afirmou ao Campo Grande News o repórter Terrence McCoy.

O The Washington Post noticiou ontem a morte de Leo Veras e nesta sexta-feira a equipe do jornal no Brasil continua acompanhando o caso.

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