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Interior

Empresa de ex-chefe de gabinete ganhou contratos antes mesmo de ter luz ligada

A D'Aço Construção também turbinou capital social de R$ 50 mil para R$ 500 mil

Por Aline dos Santos | 14/08/2024 12:49
Policial do Gaeco na Delegacia de Terenos durante a operação. (Foto: Henrique Kawaminami)
Policial do Gaeco na Delegacia de Terenos durante a operação. (Foto: Henrique Kawaminami)

Empresa de ex-chefe de gabinete em Terenos aumentou capital social de R$ 50 mil para R$ 500 mil no prazo de cinco meses, além de ter conquistado contratos de R$ 1,3 milhão com a prefeitura antes mesmo de ter a energia elétrica ligada.

A situação foi destacada na decisão do juiz Luciano Pedro Beladelli, atuando em substituição legal na Vara Única de Terenos, que autorizou a operação Velatus (velado, em latim), ofensiva do Gecoc (Grupo Especial de Combate à Corrupção), Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) e 1ª Promotoria de Justiça de Terenos contra as suspeitas de corrupção.

Trata-se da D'Aço Construção e Logística, de propriedade de Tiago Lopes de Oliveira, que foi chefe de gabinete. A empresa venceu lotes sem ter sede física e funcionários. A energia elétrica foi ligada em 13 de junho de 2022.

Um mês antes, em 5 de maio de 2022, a D'Aço Construção venceu o lote cinco da Tomada de Preços  002/2022 (valor de R$ 212.976,10). O procedimento englobou a contratação de cinco obras de reforma em unidades  ESF (Estratégia de Saúde da Família).

Em 7 de junho de 2022, mais um contrato: desta vez no valor de R$ 1.107.847,56 para construção de posto de saúde.

“Vale dizer que a empresa teria sido constituída em 24/02/2022, com capital social de R$ 50.000,00 (cinquenta mil reais), e que, em 18/07/2022, teria ocorrido o aumento do capital social para R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais)”, informa a decisão.

Dono da empresa, Tiago Lopes de Oliveira teria atuado como taxista até meados de 2020 e exercido o cargo em comissão de chefe de gabinete do prefeito de Terenos até 28/02/2022, ou seja, quatro dias após ter constituído a empresa D'Aço Construção e Logística. A empresa fica localizada em Terenos, enquanto o mandado de busca e apreensão contra Tiago foi cumprido em endereço de Santa Fé do Sul, no interior de São Paulo.

O fio da meada do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) foi a suspeita de ilegalidades envolvendo Tiago e Hander Grote, empresário apoiador da atual gestão municipal, em procedimentos licitatórios para o fornecimento de serviços de engenharia ao município de Terenos. Hander é dono da HG Empreiteira e Negócios.

“Narrou suposto conluio entre as empresas D'Aço Construção e Logística, Bonanza Comércio e Serviços Eireli, HG Empreiteira e Genilton da Silva Moreira, consistente na apresentação de propostas com valores idênticos e/ou pouco abaixo do restante das outras”.

Viaturas do Gecoc e Gaeco durante cumprimento de mandadosda operação Velatus. (Foto: MPMS)
Viaturas do Gecoc e Gaeco durante cumprimento de mandadosda operação Velatus. (Foto: MPMS)

Com a quebra de dados telemáticos, a investigação identificou mais um suspeito de participar do esquema: Sandro José Bortoloto, proprietário da empresa Angico Construtora e Prestador de Serviços Ltda. É apontada parceria entre Sandro e Cleberson José Chavoni Silva, proprietário da Bonanza Comércio e Serviços Eireli.

“O investigado Tiago Lopes de Oliveira teria recebido transferências bancárias da empresa Angico, inclusive quando ainda ocupava o cargo em comissão na Prefeitura de Terenos. Também haveria mensagens de áudio nas quais Cleberson e Sandro comentariam sobre porcentagens de repasses e pagamentos em favor de ‘Tiago de Terenos’”, informa a decisão judicial.

Em outra passagem, Sandro afirma para Cleberson, dias antes da realização da licitação, que eles iriam se sagrar vencedores: "da reforminha do postinho de saúde da ESF lá da Patagônia, que vai acabar caindo ela pra nós mesmo".

Repercussão - Sobre a investigação, a Prefeitura de Terenos aponta que abrirá sindicâncias para apurar possíveis irregularidades nos contratos e o suposto envolvimento de servidores públicos, além de se colocar à disposição dos órgãos competentes para auxiliar, no que for necessário, as investigações.

“Cabe esclarecer que a administração de Terenos preza pela lisura em todas as suas ações e que os contratos firmados até agora foram aprovados pelos órgãos de fiscalização estaduais”.

A reportagem não conseguiu contato, por meio dos telefones disponíveis na internet, com as empresas D'Aço Construção e Logística, Bonanza Comércio e Serviços Eireli, HG Empreiteira e Negócios, Genilton da Silva Moreira (nome fantasia Base Construtora e Logística) e Angico Construtora e Prestador de Serviços.

Prisões – A operação determinou a prisão preventiva do ex-secretário municipal de Obras e Infraestrutura, Isaac Cardoso Bisneto. Outras duas pessoas foram presas em flagrante.

O empresário Genilton da Silva Moreira tentou atrapalhar o andamento da investigação. Durante buscas determinadas pela Justiça, ele escondeu um notebook no telhado de casa, mas foi pego.

Com o empreiteiro Hander Luiz Corrêa Groti Chaves, de 42 anos, foi localizada pistola automática calibre 22, com oito munições, em nome de outra pessoa. O delegado arbitrou fiança de 7 salários mínimos (R$ 9.884) para liberá-lo.

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Matéria alterada no dia 15 de agosto para correção de informação. Ao contrário do divulgado, Isaac Bisneto não é titular da pasta de Obras. Ele deixou o cargo em 1º de agosto, 12 dias antes da operação.

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