ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
SETEMBRO, SÁBADO  14    CAMPO GRANDE 21º

Interior

Entidade indígena pede intervenção do STF para cessar violência em MS

Solicitação encaminhada ontem também pede a atuação da PF para garantir a segurança dos guarani-kaiowá

Por Mylena Fraiha | 14/09/2024 13:49
À esquerda indígena ferido na perna, à direita indígena ferido no peito (Foto: Reprodução/Aty Guasu)
À esquerda indígena ferido na perna, à direita indígena ferido no peito (Foto: Reprodução/Aty Guasu)

A Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) solicitou ao STF (Supremo Tribunal Federal) que ordene a suspensão imediata das ações de policiamento ostensivo pela Polícia Militar de MS contra a comunidade indígena guarani-kaiowá de Nhanderu Marangatu, no município de Antônio João, a 319 km da Capital.

A solicitação, encaminhada ontem (13) e endereçada nominalmente ao ministro Gilmar Mendes, também pede a atuação da Polícia Federal para garantir a segurança e a integridade física dos indígenas.

“É precisamente este o caso da tutela de direitos territoriais coletivos dos povos indígenas a ensejar a atuação da Polícia Federal em detrimento da Polícia Militar, já que as terras indígenas, nos termos do texto constitucional, são de propriedade da União e destinam-se à posse permanente e ao usufruto exclusivo dos povos indígenas”, argumenta a Apib no documento.

O pedido também inclui a elaboração de um plano de segurança pelo Estado de Mato Grosso do Sul para proteger a comunidade indígena, a fim de evitar novas violações dos direitos humanos.

O apelo foi motivado por um novo conflito ocorrido na quinta-feira (12), quando um grupo de indígenas, após anos de espera pela demarcação de suas terras, ocuparam a sede da Fazenda Barra, área que se sobrepõe ao território indígena Nhanderu Marangatu.

Segundo a Apib, a Polícia Militar reagiu com ataques armados, sem autorização judicial, o que resultou no ferimentos de três pessoas, incluindo uma mulher que segue hospitalizada, de acordo com a entidade indígena. Documento aponta que as vítimas apresentaram lesões causadas por balas de borracha.

Ponte de acesso à fazenda sendo reconstruída sob a supervisão da Polícia Militar (Foto: Polícia Militar)
Ponte de acesso à fazenda sendo reconstruída sob a supervisão da Polícia Militar (Foto: Polícia Militar)

Em outra matéria publicada pelo Campo Grande News, a Polícia Militar alega que o conflito ocorreu porque os policiais tentaram impedir a invasão da sede da Fazenda Barra e porque os indígenas atearam fogo em uma ponte de madeira que dá acesso à propriedade. Por determinação judicial, a PM está na área desde outubro de 2023 para impedir novas ocupações.

A Polícia Militar também afirmou que houve um acordo com os indígenas para que a ponte fosse reconstruída sem novos conflitos. Segundo o comandante do 4º Batalhão da PM em Ponta Porã, tenente-coronel Edson Guardiano, ele pessoalmente comandou as negociações que resultaram no retorno de boa parte dos indígenas para a aldeia e na retirada dos militares do Batalhão de Choque para a cidade.

Ainda conforme o comandante, alguns poucos indígenas permaneceram nos arredores da fazenda, o que levou à permanência de alguns militares no local, principalmente na sede e na ponte reconstruída. Como símbolo do acordo, um dos indígenas entregou um arco e flecha ao comandante Guardiano.

Conflito histórico - No documento, a Apib também destacou que os ataques recentes são reflexo do aumento da violência contra guarani-kaiowá após a promulgação da Lei 14.701/2023, que intensificou o movimento de reocupação das terras por parte dos indígenas, e consequentemente, a repressão policial no Estado.

A organização também ressaltou que o histórico de violências sistêmicas contra essa etnia está intimamente ligado à falta de demarcação de suas terras tradicionais. “O instrumento normativo, atualmente posto em mesa de conciliação nos autos do julgamento conjunto da ADC 87, ADO 86, ADI 7582, ADI 7583 e ADI 7586, gerou a paralisação dos procedimentos demarcatórios pelo país e ampliou ainda mais a insatisfação dos povos indígenas com a referida mora, os quais, sem perspectiva de ocupação do território tradicional, viram-se sem alternativa senão o início dos movimentos de retomada”.

O TI (Território Indígena) Nhanderu Marangatu foi reconhecido como terra indígena pela Funai (Fundação Nacional dos Povos Indígenas) em 2005, com uma área de 9.317 hectares. No entanto, o processo de demarcação foi interrompido por uma liminar do STF, sob a relatoria do ministro Gilmar Mendes — a quem o recente pedido da Apib foi nominalmente endereçado — e ainda aguarda análise de mérito.

Também é importante mencionar que o cenário de violência estrutural na região onde vive o povo Guarani Kaiowá, em Nhanderu Marangatu, resultou no assassinato do indígena Simião Vihalva em 2016, assim como nos homicídios de Dorvalino Rocha, em 2005, e de Marçal Tupã, em 1983.

Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.

Nos siga no Google Notícias