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Interior

Entre fracasso e heroísmo, evento histórico de MS completa 150 anos

Ricardo Campos Jr. e Aline dos Santos | 13/07/2017 13:20
Ator faz papel de soldado brasileiro durante encenação da explosão da igreja em Guia Lopes (Foto: Marcos Ermínio)
Ator faz papel de soldado brasileiro durante encenação da explosão da igreja em Guia Lopes (Foto: Marcos Ermínio)

Considerada um dos eventos mais marcantes da Guerra do Paraguai, a Retirada da Laguna completa 150 anos em 2017. Do ponto de vista militar, a expedição que visava conquistar terras paraguaias é considerada um fracasso, mas a coragem e resistência dos poucos que sobreviveram à fome, doenças e todas as intempéries em nome da soberania nacional dá toques de heroísmo ao evento.

Em 1877, uma coluna com 1.680 homens comandada pelo coronel Manuel Pedro Drago partiu do Rio de Janeiro no intuito de barrar o avanço das tropas paraguaias em território brasileiro. O grupo posteriormente pelo coronel Carlos de Morais Camisão, que decidiu invadir o país vizinho.

Um dos cenários montados para o evento (Foto: Marcos Ermínio)
Um dos cenários montados para o evento (Foto: Marcos Ermínio)

O problema é que não haviam alimentos suficientes para a tropa. Alguns ainda pegaram cólera, tifo e outras doenças comuns na época e ficaram pelo caminho. O grupo conseguiu chegar até a cidade de Laguna, quando percebeu a falha na logística e resolveu voltar.

Durante o retorno, ao chegar na Vila Nioac, hoje o conhecido município de Nioaque, o exército foi surpreendido por uma armadilha que havia sido deixada por soldados paraguaios que haviam passado pelo local pouco antes. Na igreja do vilarejo foram instaladas bombas e um isqueiro acesso por um soldado incauto gerou uma explosão que matou vários e desconfigurou tantos outros.

Esse episódio é lembrado todos os anos na cidade no dia 13 de julho e este ano não foi diferente. Um elenco com cerca de 150 pessoas encena a dolorosa memória. O Exército emprega 400 pessoas na atividade para organização e infraestrutura.

“Talvez o evento tenha sido heróico por ter sido trágico. Do ponto de vista militar foi um fracasso, mas do ponto de vista de valores, foi heróico. Há alguns pontos que até hoje não conseguiram elucidar. Por exemplo, na expedição, não se sabe se eles contabilizaram as mulheres, crianças e comerciantes que costumavam acompanhar esse tipo de coluna”, diz o historiador militar, bacharel em direito e coronel da reserva Wellington Corlete dos Santos.

O tenente-coronel Moacyr Azevedo Junior lembra que o retorno da tropa durou 32 dias, tendo ela passado pelos territórios hoje comprendidos por Bela Vista, Jardim, Nioaque e Aquidauana. “NA explosão da Igreja, muitos morreram e vários ficaram feridos. É esse episódio marcante que eles reproduzem”, conta.

Monumento em homenagem a José Porfírio na praça de Guia Lopes (Foto: Marcos Ermínio)
Monumento em homenagem a José Porfírio na praça de Guia Lopes (Foto: Marcos Ermínio)

Memória – Em Nioaque, um monumento retratando um homem em um cavalo lembra a figura de José Porfírio. Ele era comandante do corpo de caçadores da tropa durante a Retirada da Laguna e deixou descendentes na região.

Pouco se conhece da origem dele. Sabe-se que é descendente de portugueses. Ele foi uma das figuras romantizadas no romance de Visconde de Taunay sobre a retirada, assim como Guia Lopes, que ajudou as tropas doando gado.

Os sobreviventes que conseguiram chegar até Cuiabá receberam das mãos do imperador Dom Pedro II a medalha “Constância e Valor” como reconhecimento por todos os sofrimentos que enfrentaram.

Público – A trabalhadora autônoma Maria dos Reis, 37 anos, mora em Bataguassu e foi até Guia Lopes para acompanhar a encenação, pois o filho e o irmão são militares do Exército e participaram do evento. “Achei emocionante. Com certeza ele nos transporta para aquela época”, afirma.

O secretário estadual de cultura, turismo, inovação e empreendedorismo, Athayde Nery, afirma que o governo disponibilizou R$ 40 mil para o evento. Segundo ele, a Guerra do Paraguai com todos os seus episódios ajudou a delimitar a geografia de Mato Grosso do Sul.

“A nossa história tem forte ligação com essa epopeia que foi a retirada da laguna. Os índios também participavam. Guaicurus e terena indicavam os caminhos que as tropas percorriam”, afirma.

Festa – O prefeito de Nioaque, Valdir Junior, diz que a cidade comemora aniversário de emancipação polícia no dia 18 de julho e o teatro faz parte da programação. Hoje a tarde, dando sequência às festividades, haverá uma partida de futebol com o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC/RJ) e show com o grupo tradição nessa sexta-feira (14), quando foi decretado ponto facultativo.

Matéria editada às 8h do dia 17/07 para correção de informações.

Exército ajudou a organizar evento com estrutura e logística (Foto: Marcos Ermínio)
Exército ajudou a organizar evento com estrutura e logística (Foto: Marcos Ermínio)
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