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Interior

Índia afirma que homens ofereceram carona para aldeia um dia antes de ataque

Paula Maciulevicius | 21/11/2011 18:19

“Foram três dias de passagem e eles perguntando se queria ir embora”, diz mulher que esteve em acampamento antes do atentado

Guarani-kaiowá não segura as lágrimas para expressar tristeza com morte de Nísio. “Foi tanta luta e agora não podemos perder”. (Foto: João Garrigó)
Guarani-kaiowá não segura as lágrimas para expressar tristeza com morte de Nísio. “Foi tanta luta e agora não podemos perder”. (Foto: João Garrigó)

“Já perdemos o mais importante, o Nísio. Isso é uma forma de fazer justiça”, desabafa indígena que esteve no acampamento horas antes do ataque que, segundo os índios, ocorreu na manhã de sexta-feira. A senhora com lágrimas nos olhos e um choro entalado na garganta é Celina da Silva e o depoimento coincide com os relatos feitos até agora, apontando um atentado arquitetado.

Celina entende o português mas responde tudo em guarani. A tradução é feita por Crescencia Martins, 25 anos, parente de Nísio e agente de saúde. O Campo Grande News encontrou Celina na aldeia Amambai, onde ela está desde a noite de quinta-feira.

“Um dia antes o fazendeiro e o capitão falou que quem não quisesse ficar, eles levavam embora. Foram três dias de passagem e eles perguntando se queria ir embora”, conta.

O tal fazendeiro ela afirma ser desconhecido, mas o “capitão” indígena Celina diz ser da aldeia Guaçuti, em Aral Moreira. De caminhonete eles passavam pelo local oferecendo carona para quem quisesse deixar a área.

Entre lágrimas, ela narra que não desconfiava de que algo pudesse acontecer. Celina saiu do local porque estava se sentindo mal e preferiu voltar à aldeia no final da tarde de quinta-feira.

“Muito triste nosso líder ter morrido”. A frase dita destampou o coração da senhora indígena. Com mais de 50 anos e moradora da região a conversa seguiu revivendo os últimos momentos em que passou ao lado de Nísio.

“Aqui a gente já passou fome em luta pelo direito da terra. Foi tanta luta e agora não podemos perder”.

O modo com que as palavras saem da boca de Crescencia, que fazia a tradução para o Campo Grande News mostravam a tristeza não só de quem interpretava a história contada por Celina, mas também de quem vê de perto a perda de um exemplo.

“Eu vou voltar. Se hoje viesse o ônibus buscar, eu volto e para ficar”, declara.

No acampamento o número de pessoas vem crescendo a cada dia. Eles dizem que é por solidariedade e vontade de continuar com a bandeira de Nísio há tanto tempo. Crescencia, a agente de saúde que fazia ponte durante a conversa afirma que os guarani-kaiowá estão fortalecidos.

Segundo ela, a sede não é por vingança, mas justiça. “Quando a gente conhece a luta, se preocupa. Nísio lutava, veio a geração que cresceu e também vai lutar”.

Atentado - Os guarani-kaiowá estavam acampados na região desde o dia primeiro deste mês. Nisio Gomes, líder indígena de 59 anos, teria sofrido ameaças de morte dois dias antes do ataque relatado pelos índios, quando segundo relatos dos indígenas, oito pistoleiros chegaram ao local procurando pelo cacique.

Eles dizem que Nísio foi baleado na cabeça e por todo corpo. Conforme divulgado pelo Cimi (Conselho Indigenista Missionário), durante a correria de tiros, três jovens um de 14 anos, outro de 15 e um de 16 anos teriam sido baleados.

De acordo com lideranças indígenas de aldeias vizinhas, o garoto de 14 anos é neto de Nisio. Ele chegou a ser socorrido, medicado e já teria retornado ao acampamento. Os demais incluindo o líder continuam desaparecidos.

O MPF (Ministério Público Federal) abriu investigação e a perícia da Polícia Civil constatou marcas de sangue em meio à folhas, que remontam a cena de um corpo sendo arrastado, possivelmente de Nisio.

Conforme a comunidade, a ação dos pistoleiros foi por volta das 6h30 da manhã de sexta-feira. De acordo com os índios informaram, eles ocupavam uma cerca caminhonetes Hilux e S-10. Na caçamba de uma delas o corpo de Nisio teria sido levado.

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