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Interior

Polícia fez perícia e ouve indígenas do acampamento onde líder foi morto

Paula Maciulevicius | 19/11/2011 10:45

Polícia Federal retornou à região nesta manhã

Nísio já vinha sendo ameaçado e a último dos “avisos” teria vindo dois dias antes do atentado. (Foto: Eliseu Lopes/ CIMI)
Nísio já vinha sendo ameaçado e a último dos “avisos” teria vindo dois dias antes do atentado. (Foto: Eliseu Lopes/ CIMI)

A Polícia Civil realizou perícia no acampamento onde o líder indígena Nísio Gomes, de 59 anos, foi executado na manhã de ontem, durante um atentado praticado por pistoleiros na comunidade Kaiowá Guarani, do acampamento Tekoha Guaiviry, em Amambai, região de fronteira.

Informações dão conta de que pelo menos três pessoas já foram ouvidas pela Polícia Federal em Ponta Porã, entre eles o filho de Nísio, Valmir Gomes e o neto de 14 anos que também foi atingido pelos pistoleiros.

Uma equipe da Polícia Federal voltou à região nessa manhã.

Segundo informações do CIMI (Conselho Indigenista Missionário), o clima na região é muito tenso e de desespero total. Em meio à confusão, crianças e mulheres teriam se perdido na mata e começaram aos poucos se juntar de novo, no final da tarde deste sexta-feira.

Mesmo com o atentado e a comoção pelo desaparecimento de Nísio, os indígenas afirmam que vão continuar no local, disse a Funai.

Parte dos acampados se refugiaram em aldeias em Amambai e Aral Moreira. Até ontem a noite pelo menos 60 deles já estavam de volta ao acampamento.

A mobilização dos guarani-kaiowá agora é para achar o corpo do líder indígena. “Estão tentando localizar na região, tem uma extensa margem no córrego, mas o que se viu foi o corpo sendo levado em uma caminhonete”, afirmou um dos membros da Assembleia Geral do Povo Guarani Kaiowá, Tonico Benites, de 42 anos.

Nísio já vinha sendo ameaçado e a último dos “avisos” teria vindo dois dias antes do atentado.

“Ele era uma pessoa bem marcada, ele mesmo falava que iria morrer. Ele já vinha anunciando”, diz Tonico.

A sensação dos indígenas é de estar sobrevivendo a um genocídio, conforme relatos da Assembleia Geral do Povo Guarani Kaiowá.

O MPF (Ministério Público Federal) está investigando o caso.

Atentado - Segundo informações do CIMI, pelo menos 40 pistoleiros estariam envolvidos no ataque. Nísio foi executado com tiros de calibre 12, aponta o conselho.

Ainda conforme informações do órgão, os homens estavam com máscaras, jaquetas escuras e pediram para todos deitarem no chão durante o ataque.

O líder indígena foi executado em frente ao filho, que ainda tentou impedir e foi contido com tiros de bala de borracha, informa o CIMI, acrescentando que a ação dos pistoleiros foi respaldada por cerca de uma dezena de caminhonetes – marcas Hilux e S-10 nas cores preta, vermelha e verde. Na caçamba de uma delas o corpo do cacique Nísio foi levado.

Segundo informações de movimento político guarani-kaiowá, a área de Guaiviry é uma das que foi incluída nos processos de identificação de terras indígenas iniciados em MS pela Funai em 2008 e o relatório está em fase de conclusão.

Os indígenas ocuparam a área onde aconteceu o conflito há cerca de 15 dias e já vinham recebendo visitas da Funai e da Polícia Federal. Ainda assim, como vem acontecendo em outras áreas em conflito, isso não tem sido suficiente para coibir as agressões realizadas por homens armados a serviço dos fazendeiros da região, reclama o movimento.

Comitiva com integrantes da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) e conselho Aty Guassu (Grande Assembleia Guarani) também estiveram no acampamento nesta sexta.

Mesmo com o episódio, indígenas já afirmaram que vão permanecer no acampamento.

A comunidade vivia na beira de uma Rodovia Estadual antes da ocupação do pedaço de terra no tekoha Kaiowá, aponta o Cimi. O acampamento atacado fica na estrada entre os municípios de Amambai e Ponta Porã, perto da fronteira entre Brasil e Paraguai.

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