MPF investiga atentado contra acampamento indígena em Amambai
Líder guarani teria sido assassinado e foi levado em caminhonete por pistoleiros
O MPF (Ministério Público Federal) divulgou nota nesta sexta-feira em que afirma que investiga o atentado, por volta das 6h30 de hoje, praticado por pistoleiros fortemente armados contra a comunidade Kaiowá Guarani, do acampamento Tekoha Guaiviry, em Amambai, região de fronteira.
Informações dão conta que o líder indígena Nísio Gomes, de 59 anos, teria sido executado com tiros na cabeça. O MPF trata o caso como desaparecimento, já que o corpo da vítima foi levado pelos pistoleiros e não há a confirmação oficial da morte, contudo, depoimentos de indígenas e informação do Cimi (Conselho Indigenista Missionário) confirmem o óbito.
Integrantes da Polícia Federal, MPF e Funai (Fundação Nacional do Índio) estiveram no local nesta tarde e os trabalhos da perícia confirmaram, segundo o ministério público, presença de sangue humano no local em que o cacique levou os tiros. Também ficou comprovado que o corpo foi arrastado.
Há também a informação de que outras duas pessoas foram mortas. Relatos de indígenas também dão conta de que uma mulher a uma criança estão desaparecidos, mas não há a confirmação, pois, das 60 pessoas que residem no acampamento, apenas dez foram ouvidos. O restante da comunidade se dispersou no meio da mata.
Ainda segundo informações do MPF, um dos filhos de Nísio está no Instituto Médico Legal de Ponta Porã realizando exames de corpo de delito. Ele teria levado tiros de balas de borracha, do mesmo tipo encontrado em ataque recente ocorrido contra um acampamento indígena em Iguatemi, em 23 de agosto.
O MPF informa ainda que não deve divulgar mais informações para não comprometer o andamento das investigações.
Caso - Segundo informações do Cimi, pelo menos 40 pistoleiros estariam envolvidos no ataque. Nísio foi executado com tiros de calibre 12, aponta o conselho.
Ainda conforme informações do Cimi, os homens estavam com máscaras, jaquetas escuras e pediram para todos deitarem no chão durante o ataque.
O líder indígena foi executado em frente ao filho, que ainda tentou impedir e foi contido com tiros de bala de borracha, informa o Cimi, acrescentando que a ação dos pistoleiros foi respaldada por cerca de uma dezena de caminhonetes – marcas Hilux e S-10 nas cores preta, vermelha e verde. Na caçamba de uma delas o corpo do cacique Nísio foi levado.
Segundo informações de movimento político guarani-kaiowá, a área de Guaiviry é uma das que foi incluída nos processos de identificação de terras indígenas iniciados em MS pela Funai em 2008 e o relatório está em fase de conclusão.
Os indígenas ocuparam a área onde aconteceu o conflito há cerca de 15 dias e já vinham recebendo visitas da Funai e da Polícia Federal. Ainda assim, como vem acontecendo em outras áreas em conflito, isso não tem sido suficiente para coibir as agressões realizadas por homens armados a serviço dos fazendeiros da região, reclama o movimento.
Comitiva com integrantes da Apib (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil) e conselho Aty Guassu (Grande Assembleia Guarani) também estiveram no acampamento nesta sexta.
Mesmo com o episódio, indígenas já afirmaram que vão permanecer no acampamento.
A comunidade vivia na beira de uma Rodovia Estadual antes da ocupação do pedaço de terra no tekoha Kaiowá, aponta o Cimi. O acampamento atacado fica na estrada entre os municípios de Amambai e Ponta Porã, perto da fronteira entre Brasil e Paraguai.
Relatório - Pelo menos 250 indígenas foram mortos em Mato Grosso do Sul nos últimos oito anos, segundo Relatório Específico de Violência contra os Povos Indígenas lançado pelo Conselho Indigenista Missionário.
A publicação revela que Mato Grosso do Sul concentrou 55% dos casos de assassinatos de indígenas no País nos últimos oito anos.
Em 2008 foram 70%; em 2010, 57% e nos primeiros nove meses deste ano, 27 indígenas foram assassinados dos 38 ocorridos no País, o que representa 71% da totalidade.
Conforme o relatório, neste período, foram registrados aproximadamente 190 tentativas de assassinatos, 176 suicídios e mais de 70 conflitos por terras.
O Estado concentra 31 acampamentos indígenas, o maior número em todo País, aponta o conselho. “São mais de 1200 famílias vivendo em condições subumanas à beira de rodovias ou sitiados em fazendas”, diz o órgão.