MPF denuncia produtor que ameaçou jogar bomba em procuradores
Fazendeiro também é acusado de adotar discurso de ódio em redes sociais contra a atuação do MPF em defesa dos índios
Um produtor rural foi denunciado pelo MPF (Ministério Público Federal) por fazer ameaças a procuradores da República que atuam na causa indígena em Dourados, a 233 km de Campo Grande.
Acusado de “coação no curso do processo” – quando a pessoa usa de violência ou grave ameaça para favorecer interesse próprio contra autoridade que atua em processo judicial – o produtor chegou a ameaçar usar seu avião para jogar uma bomba na sede do MPF em Dourados.
A pena prevista é de um a quatro anos de prisão e multa, além da pena correspondente à violência. O MPF só divulgou as iniciais do nome do produtor: B.N.C.
Segundo a denúncia, o produtor rural parou sua caminhonete em frente à entrada do estacionamento privativo de membros e servidores da Procuradoria da República e por 15 minutos proferiu ofensas de baixo calão direcionadas aos procuradores por ter perdido “um pedaço de terra”.
Ele ainda disse, segundo depoimento do vigilante do local, que “uma hora ia passar aqui em cima e jogar uma bomba”.
Conforme o processo, o produtor é piloto agrícola, atualmente contratado por empresa de aviação comercial e possui um amplo registro de boletins de ocorrências criminais de ameaças (inclusive contra seus próprios familiares), violência doméstica, vias de fato, dano e lesões corporais contra indígenas.
O fazendeiro também é réu por tráfico internacional de drogas, conforme descobriu a Operação Veraneio, em trâmite na Justiça Federal em Sinop (MT). A organização criminosa utilizava aviões brasileiros adulterados para carregar drogas.
Redes sociais - A investigação descobriu diversas postagens em rede social com discurso de ódio, com críticas às prisões dos réus do chamado “Massacre de Caarapó”, ao Ministério Público Federal, à União e sugerindo ações violentas contra os índios.
Em depoimento ao MPF, ele afirmou que, após o falecimento do pai, tentou comercializar parte da fazenda da família, mas as negociações não foram adiante em razão da insegurança jurídica.
A área, denominada Passo Piraju, é reivindicada pelos índios e se encontra parcialmente ocupada desde 2002. Atualmente é objeto de estudo de identificação e delimitação pela Funai.
Durante as investigações, foram cumpridos dois mandados de busca e apreensão, que resultaram em mais elementos de informação para o embasamento da denúncia, segundo o MPF.
A denúncia destaca que “a grave ameaça contra os procuradores da República, consistente na promessa de jogar uma bomba ao passar por cima da Procuradoria da República com seu avião, teve por motivação o processo administrativo de demarcação da terra indígena, além da atuação do MPF na defesa da comunidade indígena em processo judicial de reintegração de posse”, ajuizado pela família do produtor.