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Interior

"Nem avaliou o peito": pai suspeita de negligência após morte de bebê

Atendimento recebido pelo filho em três idas ao Pronto Socorro municipal e na UTI da Santa Casa é questionado

Por Cassia Modena | 10/07/2024 13:07
Laurindo Borges dorme com o filho Mateus, que perdeu no último sábado (Foto: arquivo pessoal)
Laurindo Borges dorme com o filho Mateus, que perdeu no último sábado (Foto: arquivo pessoal)

Mateus Vinícius Borges morreu aos 9 meses de idade, na noite do último sábado (6), após uma série de negligências suspeitas no Pronto Socorro e na Santa Casa de Corumbá. O pai denunciou o caso ao MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul).

O menino e a irmã gêmea, Maitê Vitória, já haviam resistido a uma gestação e parto com complicações. A mãe, Claudinéia Oliveira, 34, também correu risco de morte e precisou ser levada ainda gestante para Campo Grande, por não haver UTI (Unidade de Terapia Intensiva) neonatal para dar suporte aos recém-nascidos na cidade onde mora.

Os bebês passaram saudáveis os primeiros meses de vida. Na quinta-feira passada (4), começaram a vomitar e a ter diarreia. Foram levados ao Pronto Socorro municipal pelos pais no mesmo dia.

A irmã gêmea Maitê (amarelo) ao lado de Mateus Vinícius (Foto: arquivo pessoal)
A irmã gêmea Maitê (amarelo) ao lado de Mateus Vinícius (Foto: arquivo pessoal)

"Disseram que não havia desidratação, aplicaram uma injeção para dor e deram uma receita de medicamentos", conta o mecânico industrial Laurindo Borges Mendoza, 36, pai do Mateus e da Maitê.

Maitê melhorou, mas Mateus seguiu apresentando sintomas. O menino foi até o Pronto Socorro novamente na noite de sexta-feira (7). Laurindo saiu com outra receita médica, mas notou que o bebê não foi bem avaliado no local. "O médico nem levantou da cadeira. Nem avaliou o peito", afirma.

Direto para a UTI - O bebê continuou se sentiu mal e foi levado ao Pronto Socorro de Corumbá pela terceira vez no sábado. "Saiu de lá direto para UTI", relata o pai, após descobrirem uma pneumonia.

Claudinéia acompanhou o filho durante a internação. Laurindo conta que, no fim da tarde, a mãe presenciou o bebê tendo convulsões. A enfermeira foi chamada, mas "não quis chamar o médico, disse que o Mateus estava bem", fala o pai.

A mãe Claudineia segura Mateus, que estava bem até o início da semana passada (Foto: arquivo pessoal)
A mãe Claudineia segura Mateus, que estava bem até o início da semana passada (Foto: arquivo pessoal)

O médico plantonista foi até o quarto somente 30 minutos depois, diz também o mecânico industrial. Foi quando o bebê teve uma parada cardiorrespiratória. "Tentaram reanimar com massagem cardíaca, mas ele não resistiu", lamenta.

Para os pais, Mateus estaria vivo se tivesse recebido o atendimento adequado desde a primeira ida ao Pronto Socorro e se o médico tivesse ido ao quarto de UTI quando a mãe observou as convulsões.

"Foi negligência. A gente não é atendido como a gente deve. Tratam a gente como se alguém estivesse pedindo favor. Faltam equipamentos e faltam bons profissionais. Poderiam ter salvado a vida do meu filho e não fizeram o que tinha que fazer", denuncia Laurindo.

O diagnóstico da irmã gêmea do bebê foi "virose", segundo pai, mas agora ela está bem. Mateus fará falta. "Não desejo essa dor para ninguém. A gente ver nosso filho saudável e depois ele perder a vida assim", desabafa.

O Campo Grande News entrou em contato com o presidente da junta interventora que gerencia a Santa Casa e com a assessoria de imprensa da Prefeitura de Corumbá, a responsável pelo Pronto Socorro.

Apenas a assessoria se manifestou na nota seguinte:

"No dia 04/07/2024, às 21h29, Mateus Vinicios Oliveira Borges foi admitido no Pronto Socorro Municipal Dr. Rogério Takaki Bento, onde recebeu atendimento de um enfermeiro e do médico plantonista, que prescreveram medicamentos para tratar sintomas de vômito e diarreia. Retornou no dia seguinte, às 19h, com febre além dos sintomas anteriores, embora estivesse em tratamento com a medicação prescrita. Foi reavaliado pelo médico. Em 06/07, às 06h34, Mateus voltou ao pronto socorro com sintomas agravados, sendo atendido e internado na Santa Casa de Corumbá. Por fim, informo que estão em andamento as providências para investigar as causas de seu óbito".

Ação e investigação - O MPMS move duas ações civis públicas para cobrar providências ao Município de Corumbá em relação a falhas nos serviços públicos de saúde. Ambas estão em fase de recurso.

O órgão também abriu dois inquéritos para investigar os óbitos ocorridos na cidade entre 1º de janeiro e 18 de março e a destinação dos recursos do FONPLATA (Fundo Financeiro para o Desenvolvimento da Bacia da Prata) à saúde do Município de Corumbá.

Matéria atualizada às 20h45 para adicionar nota enviada pela prefeitura.

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