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Cidades

Gestante morre após quatro cirurgias na maternidade de Corumbá

Laudo mostra choque hemorrágico, mas família acredita em negligência

Por Kamila Alcântara | 25/06/2024 16:15
Última foto de Idileuza viva, quando deu entrada na maternidade (Foto: aquivo pessoal)
Última foto de Idileuza viva, quando deu entrada na maternidade (Foto: aquivo pessoal)
Os familiares de Idileuza da Silva, de 32 anos, pedem justiça pela morte dela após uma semana internada na maternidade da Associação Beneficente de Corumbá, a 428 km da Capital. Grávida do quinto filho, ela deu entrada no dia 12 com sintomas de infecção urinária, ficou internada por uma semana e morreu na última quinta-feira (21), por choque hemorrágico.

Segundo relato da família, ela deu entrada com um quadro inicial de infecção urinária, recebeu remédios para dor e soro por uma semana. Até que na noite de quarta-feira (20), o coração do bebê apresentou alteração ela foi para o Centro Cirúrgico, na madrugada seguinte, passar pela cesariana e “a coisa desandou”.

Relato de servidores da unidade de saúde, enviado aos familiares, informam que Idileuza amanheceu, no dia 20, sangrando pelo corte da cirurgia. Ela teria ido e voltado mais três vezes ao Centro Cirúrgico, sendo a última vez, às 19h, saiu sem vida.

"Todo mundo ficou muito triste aqui hoje. Eu sonhei, na quarta-feira, que tinha uma paciente que sangrava muito, muito e muito. Quando chega quinta, no trabalho, acontece tudo que sonhei. Nem a gente acredita o que aconteceu, ela e o bebê estavam bem ainda na quarta a tarde”, desabafou uma servidora.

O relatório da morte, assinado pelo médico Paulo Vinícius Boza, diz que ela sofreu: choque hemorrágico e refratário; teve a retirada do útero em medida de urgência por “atonia uterina”; além da própria cesariana.

Nas redes sociais, mais pessoas dizem ter testemunhado as negligências sofridas. “Eu vi o sofrimento dela, pedindo para fazer a cesária logo. Ela só faltou implorar. Na terça-feira a ultrassom deu que só tinha líquido [amniótico] no cordão umbilical, mesmo assim não agiram nada”, escreveu uma mulher.
Idileuza da Silva, de 32 anos, morreu após passar por uma cesariana na Maternidade de Corumbá (Foto: arquivo pessoal)
Idileuza da Silva, de 32 anos, morreu após passar por uma cesariana na Maternidade de Corumbá (Foto: arquivo pessoal)

Para a prima de Idileuza, a dona de casa Gleicy Urquiza, a família não vai desistir de procurar justiça e ficam apenas as boas lembranças deixada por uma mãe dedicada aos filhos.

“Não lembro dela triste. Só sorrindo o tempo todo. Sempre que ia para Corumbá. Ela sempre era a primeira que queria ver, já nos esperava com aquele banquete no almoço. Era cozinheira de mão cheia, as festas de final de ano de aniversário ela sempre deixava risadas e alegria’, compartilha a prima.

O bebê está internado, com suspeita de problemas cardíacos. Ele está sendo cuidado pelo pai e terá a companhia dos irmãos de 14, 12, 9 e 3 anos.

A reportagem entrou em contato com a Prefeitura de Corumbá e com a Maternidade, na sexta-feira (21) e na segunda-feira (24), mas não houve um posicionamento sobre o caso. É importante lembrar que o local é a única instituição hospitalar da região que atende pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde), sendo referência de atendimento aos municípios de Corumbá, Ladário e cidades fronteiriças da Bolívia.

No mês de março, o recém-nascido Téo morreu na mesma maternidade. O atestado de óbito trouxe como causa "anóxia intra uterina, descolamento de placenta". Inconformados e crendo que a criança passou mais de 24 horas morta na barriga da mãe, a família registrou um boletim de ocorrência.  

Já em abril, após o registro de cinco mortes de bebês recém-nascidos só este ano, a diretoria da Santa Casa de Corumbá reconhece a necessidade do investimento na criação da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) Neonatal na maternidade.  

O MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), em 2022, abriu investigação para apurar quase 70 mortes de bebês em dois anos na Maternidade de Corumbá. Foram 35 óbitos em 2020 e 34 no ano seguinte.

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