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Interior

2º caso na família: mãe perde bebê e denuncia negligência em Corumbá

Diagnóstico de descolamento de placenta não foi suficiente para socorrer criança a tempo

Por Kamila Alcântara | 14/03/2024 17:37
Pai Eduardo e mãe Luana no aguardo do bebê Téo (Foto: arquivo pessoal)
Pai Eduardo e mãe Luana no aguardo do bebê Téo (Foto: arquivo pessoal)

Pela segunda vez na mesma família, um bebê morre na maternidade da Associação Beneficente de Corumbá, a 428 km da Capital. O caso mais recente aconteceu na terça-feira (12) e a suspeita é de negligência.

A família conta que Luana Guimarães, de 28 anos, deu entrada no hospital no último dia 4, com fortes dores e sangramento, mas o diagnóstico de descolamento de placenta não foi suficiente para a equipe considerar o caso dela grave.

Quem conta a história é a cunhada de Luana, a dona de casa Tainara Gomes dos Santos, que também perdeu uma bebê com três dias de vida na mesma maternidade, em 2012. “Eu avisei que uma tragédia ia acontecer novamente na nossa família, minha cunhada implorou para tirarem o bebê, mas não foi atendida”, desabafa a tia indignada.

Segundo Tainara, a cunhada deu entrada na unidade com dores muito fortes e sentiu líquido escorrer pelas pernas. Mesmo com o descolamento de placenta, mandaram ela voltar para casa e esperar, já que ainda estava no oitavo mês de gestação.

“No Dia da Mulher (8), ela voltou porque não estava suportando a dor e lá ficou. Ainda no domingo disse que sentiu o bebê mexer, mas na segunda a barriga endureceu e ela passou a ter febre alta. Passou segunda, terça o dia todo pedindo ajuda, mas só a noite o médico plantonista viu a gravidade do caso e a levou para sala de cirurgia”, conta.

Foi quando a situação ficou ainda mais preocupante, segundo Tainara. Ela relata que foi decidido por cesariana, mas a mãe não pôde ver e nem ouviu o primeiro choro. Naquela confusão, a justificativa era de que a criança já estava nos braços do pai, no quarto, garante Tainara. “Só quando minha cunhada chegou no quarto, com meu irmão Eduardo chorando no corredor, que a enfermeira falou a verdade”, completa Tainara.

O atestado de óbito traz como causa "anóxia intra uterina, descolamento de placenta". Inconformados e crendo que a criança passou mais de 24 horas morta na barriga da mãe, a família registrou um boletim de ocorrência. O menino já tinha nome: Téo. Ele passou por exames no Instituto Médico Legal, mas o laudo sai em dois meses.

“Minha cunhada não pode participar do enterro, ainda está internada com febre e  necessita de transfusão de sangue pela hemorragia que passou. Está a base de calmante, pois tudo que podia fez para ter o filho, ela implorou pela cirurgia e não teve”, termina a tia do bebê.

Por nota à imprensa, a Associação Beneficente de Corumbá – Santa Casa de Corumbá confirma que Luana deu entrada no dia 8 e que o óbito foi no dia 12, na troca de plantão noturno. Também ressalta que "eventuais transferências de pacientes para fora do domicílio de origem acontecem por orientações médicas, e no caso em tela, não houve qualquer motivação pelos profissionais para a solicitação de vaga em outro hospital de referência".

O local é a única instituição hospitalar da região que atende pacientes do SUS (Sistema Único de Saúde), sendo referência de atendimento aos municípios de Corumbá, Ladário e cidades fronteiriças da Bolívia. "Reforçamos nosso compromisso com a saúde de toda a população", consta na nota.

Em 2022, o MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) abriu investigação para apurar quase 70 mortes de bebês em dois anos na Maternidade de Corumbá. Foram 35 óbitos em 2020 e 34 no ano seguinte.

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