Pesquisadores alertam para reflexo do feriado nos casos de coronavírus
Só medidas preventivas concretas evitam mortes, afirma professor da UFGD
Pesquisadores que previram a explosão de casos e de mortes pelo novo coronavírus entre maio e junho concluíram novo estudo sobre a expansão da pandemia e cobram medidas concretas para salvar vidas nas regiões de Dourados, Corumbá e Campo Grande.
Elaborado por especialistas da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) e da UFOB (Universidade Federal do Oeste da Bahia), o estudo aponta as dinâmicas geoespaciais entre os municípios interferindo na circulação do vírus e questionam a ausência de políticas de enfrentamento à covid-19 com foco no distanciamento social em Mato Grosso do Sul.
Segundo o documento, o trabalho da vigilância em saúde deve ser intensificado nos próximos 14 dias devido às aglomerações no feriado da Independência.
“Ações descoordenadas, dificuldades de gestão, aplicação e fiscalização das políticas públicas para o enfrentamento da doença e a baixa compreensão da população sobre os riscos e impactos associados ao contexto da disseminação de fake News contribuem para aumento da gravidade do problema de saúde pública e coletiva”, explica Fernanda Vasques Ferreira, pesquisadora em comunicação, saúde e políticas públicas da UFOB.
Adeir Archanjo da Mota, especialista em geografia da saúde e professor da UFGD, afirma todas as ações dos gestores públicos e da população impactam nos indicadores de morbidade e de mortalidade pela covid-19 e, consequentemente, nos níveis de alerta.
“Os aumentos nas dinâmicas geoespaciais interferem significativamente no aumento da velocidade de disseminação do novo coronavírus, o que nos mantêm na situação pandêmica. Não será possível preservar vidas, o sistema público de saúde, garantir recursos financeiros para os hospitais particulares e conter a pandemia simultaneamente. Para conter a covid-19 se fazem necessárias medidas preventivas de fato”, alertou.
No período analisado, dos 33 municípios que compõem a macrorregião de saúde de Dourados, 14 registraram aumento nos índices de morbimortalidade da covid-19. Sete tiveram aumento nos níveis de alerta.
Rio Brilhante e Fátima do Sul passaram do nível 2 para 3 e Dourados subiu do 3 para o 4. Na microrregião de Nova Andradina, Ivinhema passou do nível 2 para 3. Batayporã e Nova Andradina passaram do nível 1 para o nível 2.
Já na microrregião de Ponta Porã, o município de Amambai passou do nível de alerta 1 para o 2 e Coronel Sapucaia registrou aumento expressivo no índice, mantendo-se no nível de alerta 2.
“Ao registrar 31 mortes e 1.887 novos casos em apenas 14 dias [22 de agosto a 05 de setembro], a macrorregião de saúde de Dourados retorna a um patamar de disseminação que já era evidente que iria ocorrer. Poucas ações foram tomadas e de forma tímida foram implementadas e fiscalizadas pelas autoridades sanitárias”, avaliou Archanjo da Mota.
Conforme o estudo, na macrorregião de Três Lagoas, Cassilândia teve aumento de 1,11 no índice de morbimortalidade, aproximando-se do nível máximo que exige “intervenções radicais” para prevenir casos gravíssimos e mortes evitáveis.
Inocência teve queda no nível, saindo do alerta 2 para 1. Já na microrregião de Corumbá, não houve alteração no nível de alerta. Corumbá e Ladário continuaram no nível 4.
Capital – Na macrorregião de Campo Grande, a grande maioria dos municípios se manteve estável. Quatro tiveram queda nos níveis de alerta: Coxim diminuiu do nível de alerta 3 para o 2; e Pedro Gomes, Jardim e Guia Lopes da Laguna saíram do nível de alerta 2 para o 1.
Sidrolândia teve redução do nível de alerta, saindo do 4 para o 3 e Campo Grande se manteve com nível de alerta elevadíssimo, registrando tímida redução no índice de morbimortalidade. Entretanto, conforme o estudo, a capital continua no nível de alerta 5, o mais alto é 12,28 de índice de morbimortalidade.
Aquidauana se manteve estável tanto no nível de alerta (4) quanto na taxa de letalidade (2,84). Miranda e Bodoquena voltaram a subir para níveis 2 e 4, respectivamente, enquanto os municípios de Nioaque e Dois Irmãos diminuíram do nível 3 para os níveis de alerta 2 e 1.
Independência – Os pesquisadores chamam a atenção também para os impactos das aglomerações do final de semana prolongado por causa do feriado da Independência, quando houve aglomeração em vários pontos turísticos de Mato Grosso do Sul.
“Percebemos baixíssimo índice de distanciamento social e observamos que boa parte da população não cumpriu as medidas de prevenção para conter o vírus. No feriado, a população se esqueceu de que estamos em uma pandemia e perdendo vidas. Teremos impactos bastante negativos para a saúde pública e coletiva daqui a 14 dias”, afirmou Fernanda Vasques Ferreira.