Resgate de filhote de cervo é prenúncio de trabalho das próximas queimadas
Equipes já estruturam estratégias de resgate das principais vítimas dos incêndios, que voltaram com a estiagem
Após quatro dias de devastação no Banhado do Rio da Prata, entre Bonito e Jardim, a situação dos animais silvestres que habitam a região começa a preocupar as equipes que trabalham no combate ao incêndio. Nesta sexta-feira (9), um dos militares que atua na linha de frente da Operação Panemorfi precisou resgatar um filhote de cervo perdido em meio a área queimada.
Durante os trabalhos de combate às chamas, o sargento Mendes, do serviço de capelania do Corpo de Bombeiros Militar de Mato Grosso do Sul, ouviu o chamado do filhote pela mãe. O encontrou perdido no meio da área já devastada pelo incêndio. Sem saber para onde ir, o animal caminhava para o meio do fogo.
Ele acompanhou o cervo pelo terreno e só na terceira tentativa conseguiu segurá-lo, com paciência, levou o filhotinho para outra área, longe do fogo que ainda ameaça toda a biodiversidade do Banhado.
“Eu creio que toda vida é muito importante, é uma satisfação tremenda poder salvar que ainda tem toda a vida dele pela frente, podendo restaurar a natureza que o fogo insiste em querer queimar, e isso traz uma satisfação tremenda”, diz Mendes.
A cena poderia um episódio isolado, mas todo ano se repete na rotina de quem dedica a vida a combater os incêndios que atingem o Estado na época de seca. Principais vítimas da destruição, animais de todas as espécies tem patas e corpos queimados, ninhos destruídos. Eles sofrem com a falta de socorro e de tempo para escapar, muitos não sobrevivem.
É por isso que a equipes envolvida no combate as chamas do Banhado começam os preparativos para resgatar os animais feridos. Segundo Ana Cristina Trevelin, secretária Municipal de Meio Ambiente e Coordenadora da Defesa Civil de Bonito, equipe da PMA (Polícia Militar Ambiental) está em alerta e fará o suporte assim que acionada pelo ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade).
Os animais socorridos receberão o primeiro atendimento ainda em Bonito – cidade a 257 quilômetros de Campo Grande – em locais que ainda serão definidos pela prefeitura. Em Campo Grande, o CRAS (Centro de Reabilitação de Animais Silvestres), também já se prepara para atender os bichos.
“O CRAS está à disposição dos 79 municípios do Estado para receber qualquer animal, oriundo da nossa fauna. Ainda contamos com equipe multidisciplinar para qualquer tipo de atendimento”, reforçou o Lucas Cazati, médico veterinário e responsável técnico pela instituição.
Conforme apurado pela reportagem com as equipes que estão no local do incêndio, a situação na região não é pior porque apesar de persistente, o fogo se espalha lentamente, o que possibilita a fuga dos animais.
Levantamento da Fundação Neotrópica do Brasil feito neste sábado (10) revela que mais de 3 mil hectares da área do Banhado do Rio da Prata já foram atingidos. Cerca de setenta pessoas entre militares do Corpo de Bombeiros, brigadistas do Parque Nacional e do ICMBio (Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade) e funcionários das fazendas da região atuam no combate.
Veja depoimento do sargento Mendes: