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Interior

Terra da impunidade, disse Marcelo Piloto antes de matar mulher em cela

Traficante carioca concedeu entrevista ao jornal The New York Times pouco antes de assassinar jovem paraguaia; ele foi extraditado dois dias depois para o Brasil

Helio de Freitas, de Dourados | 08/01/2019 14:19
Marcelo Fernando Pinheiro Veiga, o Marcelo Piloto, no dia em que foi extraditado para o Brasil (Foto: Arquivo)
Marcelo Fernando Pinheiro Veiga, o Marcelo Piloto, no dia em que foi extraditado para o Brasil (Foto: Arquivo)

“O Paraguai é a terra da impunidade”. Essa é a manchete da entrevista que o narcotraficante brasileiro Marcelo Fernando Pinheiro Veiga, o Marcelo Piloto, deu ao jornal norte-americano The New York Times no dia 17 de novembro passado, minutos antes de matar, em sua cela, a garota de programa Lidia Meza Burgos, 18, que o visitava pela segunda vez.

Quando falou com o repórter Ernesto Londoño em sua cela na Agrupación Especializada, em Assunção, Marcelo Piloto já tinha planejado o crime.

Com o assassinato de Lidia, sua intenção era continuar preso no Paraguai, “o país da impunidade”, como ele mesmo definiu, e de onde, por vários anos, mandou drogas e armas para o Brasil, com proteção de policiais corruptos.

Mas o presidente do país vizinho, Mario Abdo Benítez, passou por cima das leis e mandou entregar o bandido à polícia brasileira dois dias após a morte de Lidia. Atualmente ele está no Presídio Federal de Catanduvas (PR).

No tempo em que esteve no Paraguai enviando drogas e armas para os morros do Rio de Janeiro, Piloto usava rotas que passam por Mato Grosso do Sul e recebia dinheiro de bandidos cariocas sacado em agências de Ponta Porã (MS) e Dourados (MS).

A entrevista de Londoño com Marcelo Piloto só foi publicada no sábado, dia 5 de janeiro. Na reportagem, o jornalista conta como foi recebido na prisão e “mal revistado” por um dos guardas antes de entrar na cela.

O repórter do mais influente jornal norte-americano trata Marcelo Piloto como um “barão da droga” no Paraguai e como “um dos maiores contrabandistas e armas e drogas do Paraguai para o Brasil”.

Entretanto, policiais dos dois países afirmam que ele era apenas um “peixe médio” representante do Comando Vermelho, mas distante de ser um “barão da droga”, como Jorge Rafaat (morto em 2016), Jarvis Gimenes Pavão e Luiz Carlos da Rocha, o “Cabeça Branca”, seu atual vizinho de cela.

Na conversa com o jornalista Ernesto Londoño – um colombiano de 28 anos que mora no Rio de Janeiro desde 2017 – Marcelo Piloto repetiu a história de sua vida e como pagava propina a policiais paraguaios para trabalhar impunemente naquele país por vários anos.

Ele já tinha feito as denúncias em entrevista coletiva a repórteres paraguaios, alguns dias antes, e citou nomes de oficiais da Polícia Nacional a quem pagava mesadas de até 5 mil dólares por mês.

“Eu lhe perguntei se sentia alguma responsabilidade pela epidemia de violência que assola o Brasil, onde no ano passado houve um número recorde de assassinatos: 63 mil”, escreveu Ernesto Londoño.

“Eu não quero ver mortes. Não sinto satisfação com a morte. Mas infelizmente nessa guerra as coisas acontecem”, respondeu Marcelo Piloto.

Minutos após o jornalista deixar a cela, Marcelo usou uma faca de mesa para desferir 17 golpes no pesco, nas costas e no peito da garota de programa.

“Como um ex-repórter criminal e correspondente de guerra, entrevistei muitos homens violentos. Mas esse episódio me abalou como nunca antes”, descreveu o repórter em seu artigo.

A reportagem traz ainda uma entrevista com o promotor Hugo Volpe, chefe da força-tarefa contra o crime organizado no Paraguai, que promete recorrer aos colegas brasileiros para Marcelo Piloto ser condenado pelo assassinato de Lidia Burgos.

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