Time gastou em posto 10x mais na véspera de eleição
Nesta quarta-feira, PF faz buscas na sede do Naviraiense e na casa de vereador eleito
O Clube Esportivo Naviraiense gastou, em agosto deste ano, R$ 2.900 em combustíveis no Posto da Praça, no centro de Naviraí, cidade a 359 km de Campo Grande. No mês seguinte, o valor em abastecimentos feitos na conta do time saltou para R$ 25 mil e se manteve “fora do padrão” nos primeiros dias de outubro.
Para a Polícia Federal, os dados apontam suspeita de fornecimento de combustíveis em troca de voto para o vereador eleito Brendo Caíque Barbosa dos Santos (PSDB) e para a atual prefeita Rhaiza Matos (PSDB), que não conseguiu se reeleger.
Nesta quarta-feira (9), policiais federais fazem buscas na sede do Naviraiense, que atualmente disputa a série B do campeonato sul-mato-grossense, na casa de Brendo e em endereços ligados ao pai dele, o ex-vereador Cícero dos Santos, o “Cicinho”, ex-presidente da Câmara de Naviraí e atual gestor financeiro do Clube Esportivo Naviraiense.
O Campo Grande News apurou que as buscas de hoje são desdobramento das investigações iniciadas pela PF ainda no sábado (5), véspera da eleição. Naquele dia, devido ao grande movimento de pessoas abastecendo seus carros, o Posto da Base chegou a enfrentar falta de combustíveis e não havia petróleo nem mesmo para abastecer viaturas da polícia.
Após denúncia anônima de que os candidatos estariam aliciando eleitores fornecendo combustíveis, a Polícia Federal fez buscas no posto e apreendeu notas fiscais e anotações manuais indicando suposta compra de votos. O mandado foi autorizado pelo juiz da 2ª Zona Eleitoral de Naviraí, Eduardo Lacerda Trevisan.
Segundo a PF, os abastecimentos estariam sendo registrados em nome do Clube Esportivo Naviraiense em troca de votos para a candidata Rhaiza Matos (PSDB), bem como em nome de "Cicinho" ou alguma pessoa jurídica por ele administrada, em troca de votos para o candidato a vereador Brendo (PSDB).
“Policiais desta DPF diligenciaram no local e constataram movimentação de veículos além do comum no referido posto de combustível; teria faltado combustível em pelo menos duas ocasiões, inclusive para o abastecimento de viaturas, tamanha a quantidade de abastecimentos que estavam sendo realizados. Transeuntes confirmavam as informações acerca das possíveis compras de votos”, afirma trecho do relatório da PF ao qual o Campo Grande News teve acesso.
O documento continua: “Denota-se em tese a prática de entrega e recebimento de vantagem patrimonial (combustível) a diversos populares, ao que tudo indica para obtenção de votos em benefício do candidato a vereador nas atuais eleições municipais de nome Brendo Caique Barbosa dos Santos, por parte do mesmo e também de seu genitor Cícero dos Santos, mediante o uso de conta de abastecimento mantida em tal estabelecimento pelo Clube Esportivo Naviraiense”.
Ao analisar as vendas através do sistema informatizado do posto, feitas para a entidade CEN (Clube Esportivo Naviraiense), os investigadores observaram aumento de vendas promovidas para o time a partir de setembro de 2024.
“A título de evidenciação, em todo o mês 08/2024, foram emitidas 28 NFC-e de vendas para o clube no valor total aproximado de R$ 2.900,00. Já no mês 09/2024, em menos de 6 dias, o mesmo valor foi alcançado, fechando o mês 09/2024 com aproximadamente 350 NFC-e emitidas, somando total de vendas de aproximadamente R$ 25 mil, continuando a mesma sistemática de diversas emissões de venda no mês 10/2024”, afirma o documento.
Além disso, foi observado padrão nas notas fiscais, constando em diversas vendas o abastecimento exato de 10 litros de combustível, indicando possível distribuição.
Questionada pela PF sobre o motivo do aumento expressivo de vendas para o CEN, a funcionária responsável pelo financeiro do posto respondeu que antes do período eleitoral, os abastecimentos se davam somente por meio de requisição e que, a partir do mês 9, Cícero dos Santos havia comunicado que demais veículos iriam abastecer sem o respectivo registro formal de requisição e os abastecimentos marcados “na conta do CEN”.
Ao verificar o controle da conta de recebimentos do CEN, a PF observou mudança no modo de pagamento, pois antes os abastecimentos eram quitados por meio de cheques e Pix e que, a partir da autorização de Cicinho, os pagamentos passaram a ser também, e principalmente, em espécie, como ocorreu no dia 4, com pagamento de R$ 7.800 em dinheiro vivo.
“Em consulta aos documentos físicos encontrados, foi possível observar algumas NFC-e emitidas junto com anotações sobre o abastecimento, observando-se que em alguns constava a menção de que ‘Cicinho’ ou Brendo, filho de Cicinho e candidato a vereador, teriam autorizado o abastecimento”, diz o relatório da PF.
A investigação revelou que os abastecimentos autorizados pelo time de futebol sem vinculação com a questão eleitoral eram feitos através de requisição com timbre do CEN e nome do funcionário solicitante, diferente da maioria dos abastecimentos feitos de setembro em diante.
“As notações apresentadas fazem referência a somente alguns abastecimentos, contudo, já podendo notar que o combustível fora destinado a diversas pessoas distintas sem aparente vínculo com o CEN, reforçando os indicativos de que a sucessão de vendas em nome do Clube tenha sido imbuída na vontade de comprar votos de eleitores”, afirma a Polícia Federal.
Outras empresas – Ao analisar as notas fiscais emitidas pelo Posto da Praça, a PF constatou aumento significativo de venda de combustíveis para outras duas empresas da cidade, que também estão sendo investigadas.
Para uma delas foram emitidas 18 notas fiscais de vendas de combustível em 08/2024 no valor aproximado de R$ 3.900 e de 20 notas, no valor de R$ 4.700, em setembro. “Desse período, foi observado que comumente era emitida uma nota por dia. Contudo, passando-se a analisar o mês de 10/2024, foi observado que somente no dia 5 foram emitidas 10 NFC-e no valor total aproximado de R$ 1.300, destoando dos períodos anteriores”.
Além disso, a investigação encontrou requerimento de abastecimento de 150 litros, sendo que os abastecimentos realizados no dia 5 foram, coincidentemente, em sua maioria, de 10 litros, indicando distribuição de combustível.
Questionada sobre essa alteração de abastecimento, a funcionária do posto disse que “poderia ser doação feita pela empresa para algum candidato”, ou seja, autorização de abastecimentos a fim de compra de votos.
Para a outra empresa suspeita, foram emitidas 24 notas no valor de R$ 3.200 em agosto e 139 notas no valor de R$ 11.500 em setembro. “Além disso, diversas notas tiveram valores semelhando de R$ 62,50, correspondendo a aproximadamente 10 litros de combustível, apresentando também distribuição e uma possível compra de votos”, afirma o relatório da PF.
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