Morte de Rafaat foi estopim para guerra entre facções, diz secretário
O secretário de Segurança Pública do Acre, Emylson da Silva, afirma que o estopim da guerra entre o PCC (Primeiro Comando da Capital) e o CV (Comando Vermelho) foi a morte do traficante Jorge Rafaat Toumani, no mês de junho, em Pedro Juan Caballero, fronteira de Ponta Porã com o Paraguai - distante cerca de 323 quilômetros de Campo Grande. Somente nesta sexta-feira (21), nove pessoas foram mortas em presídios do Estado do norte, por conta da guerra entre as facções.
Em entrevista ao jornal Folha de São Paulo, o secretário disse que o aumento da violência no Acre está relacionado à briga entre facções, detonada pelo assassinato do traficante. Rafaat foi morto a tiros de fuzil, durante uma emboscada, no dia 15 de junho deste ano.
O Acre atravessa um forte aumento da violência. Desde janeiro até 16 de outubro, foram 220 homicídios no Estado de 816 mil habitantes – aumento de 48% em relação ao mesmo período do ano passado.
Segundo o secretário, esse aumento se concentra nos últimos três meses."Tem hoje uma situação instalada no país, de guerra entre facções, e um comando dado no Rio de Janeiro ou em São Paulo acaba provocando uma onda em todos os Estados. Isso é absolutamente inaceitável", disse Silva.
Entre a noite de quinta-feira e a madrugada desta sexta (20), nove pessoas foram assassinadas em Rio Branco. Quatro dessas mortes ocorreram no complexo penitenciário Francisco d'Oliveira Conde . O local abriga 50% de presos além de sua capacidade.
O ataque, que deixou outros 19 feridos, teria partido de integrantes da facção local B13 (Bonde dos 13), aliados do PCC. Todos os mortos pertenceriam ao CV.
Um agente penitenciário foi preso por supostamente ter fornecido as pistolas 9 mm usadas no ataque. Outro agente que teria ajudado o colega está foragido.
Silva disse que a ação na penitenciária foi uma retaliação pelo assassinato de cinco membros do B13 nas ruas de Rio Branco, horas antes.
"Não há nenhuma execução de pessoas que não tenham envolvimento com o mundo criminoso", afirmou o secretário. "Não estou dizendo se é bom ou ruim, estou apenas esclarecendo."
Desde domingo (16), 22 presos morreram em presídios do Norte do país por causa da briga entre facções. O primeiro caso ocorreu em Boa Vista (RR), onde dez presos foram mortos na Penitenciária Agrícola de Monte Cristo.
Investigações paradas– Em Pedro Juan Caballero, onde Rafaat morava e tinha várias empresas, as investigações de sua morte pouco avançaram. Pelo menos dez pessoas que estavam envolvidas no ataque foram presas, mas nove eram seguranças do narcotraficante.
O único integrante do bando que eliminou Rafaat que está preso é o brasileiro Sergio Lima dos Santos, 34. Ferido com um tiro no rosto por seguranças do narcotraficante, o carioca foi abandonado em um hospital particular de Pedro Juan Caballero horas após o ataque.
Na mesma noite, Sergio foi levado para um hospital de Fernando de la Mora, na região metropolitana de Assunção, onde foi preso. Atualmente está recolhido na penitenciária de Tacumbú, na capital paraguaia.
A polícia do Paraguai diz que Sergio Lima dos Santos manuseou a metralhadora usada para matar Rafaat.
O brasileiro seria integrante do Comando Vermelho, facção carioca apontada pelas autoridades do país vizinho como “sócia” do PCC (Primeiro Comando da Capital) no plano para eliminar Jorge Rafaat e assumirem o controle do crime na região.
O chefão não permitia que os brasileiros atuassem na fronteira e mandou matar vários deles, segundo a polícia paraguaia.
Substituto está preso – O Paraguai também acusa de envolvimento na morte de Jorge Rafaat o pontaporanense Jarvis Chimenes Pavão, que está preso desde 2009 e cumpre pena em Tacumbú.
Ex-sócio de Rafaat na atividade criminosa, Jarvis teria, segundo a polícia paraguaia, se aliado ao PCC – que tem forte atuação na penitenciária de Assunção – para eliminar o chefão do narcotráfico e assumir, com apoio das facções brasileiras, a distribuição de drogas e armas na fronteira.
Uma semana depois da morte do empresário-traficante, a família de Rafaat divulgou uma carta pedindo paz e negando a participação de Jarvis Pavão no crime.
Galã na Bolívia – Outro brasileiro acusado pela polícia paraguaia de participação direta na morte de Rafaat é Elton Leonel Rumich da Silva, 32, o “Galã”. Responsável por planejar e colocar em prática o ataque ao narcotraficante, ele dirigiu a caminhonete Toyota onde estava a metralhadora manuseada por Sergio dos Santos.
Na semana passada, autoridades paraguaias informaram que Elton da Silva fugiu para o território boliviano depois que a Promotoria de Justiça do país vizinho determinou a prisão dele por associação criminosa e falsificação de documento.
O brasileiro usa pelo menos três identidades falsas - Elton Rumich Leonel da Silva, Oliver Giovanni da Silva e Rodrigo Ronald Benites. De acordo com policiais paraguaios, Galã é o representante do PCC na fronteira entre Brasil e Paraguai.
Para entrar na Bolívia, Elton usou com uma identidade verdadeira emitida no Paraguai, usando o nome de Rodrigo Benites. O promotor Samuel Valdez, que ordenou a prisão de Galã, pediu também informações da Justiça brasileira para descobrir a verdadeira identidade do criminoso.
- Com informações Folha de São Paulo