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Cidades

MS não faz transplantes há 4 meses e 400 agonizam na fila de espera

Lidiane Kober | 06/05/2014 17:33
Cleuza espera há nove anos pelo transplante de rim para ter de volta sua rotina (Foto: Cleber Gellio)
Cleuza espera há nove anos pelo transplante de rim para ter de volta sua rotina (Foto: Cleber Gellio)

Há mais de quatro meses, Mato Grosso do Sul não realizou nenhum transplante de rim e de coração e pelo menos 400 doentes renais agonizam na fila de espera. Nos últimos 10 anos, as doações de órgãos e cirurgias apresentavam linha crescente, mas, desde o início do ano, o clima é de alerta também em nível nacional, que registrou queda de 5% no número de transplantes no primeiro trimestre de 2014.

No dia 20 de dezembro do ano passado, a Santa Casa, único hospital do Estado com oferta deste tipo de cirurgias, fechou a unidade por tempo indeterminado, após algumas mortes suspeitas. Em 2013, a instituição realizou 45 transplantes de rim e, em 2012, 44. Em nível nacional, depois de aumentar, entre 2010 a 2013, de 21.040 para 23.457 o número de procedimentos, 2014 começou com queda de 5%, segundo o Ministério da Saúde.

“Mato Grosso do Sul está dentro do parâmetro nacional de diminuição por conta da suspensão temporária dos transplantes na Santa Casa”, disse o secretário estadual de Saúde, Antônio Lastória. De acordo com ele, em maio o hospital colocará em campo pelo menos a primeira equipe para atender pacientes renais. “Também estamos em negociação a abertura de um segundo posto de atendimento no Estado”, acrescentou.

Enquanto isso, pelo menos 400 pessoas aguardam por um novo rim. É o caso da diarista Cleuza da Silva, 47 anos. Há nove anos, ela se cadastrou na Central de Transplante e sonha ter de volta sua vida normal. “Neste período, minha vida mudou muito, quase não consigo trabalhar e preciso gastar muito para manter uma alimentação de acordo com o tratamento”, contou.

Antes, Cleuza fazia pelo menos três diárias por semana. “Hoje, se dou conta de uma já fico faceira”, comentou. Agora, três dias semanais são comprometidos com visitas à Abrec (Associação Beneficente dos Renais Crônicos de Mato Grosso do Sul) para realizar o tratamento.

No pós-tratamento, ela enfrenta quedas de pressão, tonturas e dor no corpo. “Meu sonho é fazer o transplante e poder voltar a beber água a vontade”, revelou. Além da saúde frágil, a diarista faz “milagre” com os R$ 700, que recebe de auxílio, para comprar alimentos de uma dieta restritiva. Além de Cleuza, a Abrec atende outros 799 doentes renais.

Mortes – Questionado se a demora na fila de espera resulta em mortes no Estado, Lastória garantiu que “dificilmente” algum doente renal vai a óbito. “O tratamento evoluiu muito e, hoje, a sobrevida do paciente é de 20 a 30 anos”, informou. Ele, porém, admite que a rotina muda. “O tratamento torna a pessoa improdutiva”, completou, fazendo menção as hemodiálises em pelo menos três dias da semana.

O secretário ainda relatou a dificuldade em conseguir doadores. “É uma abordagem difícil, dolorosa, geralmente são mortes de jovem em acidentes traumáticos”, explicou. “Além disso, ainda existe uma resistência em doar”, acrescentou.

Sobre a fila de espera por um coração, Lastória revelou que oito aguardam pelo transplante no Estado. “Um deles está em Brasília se preparando para a cirurgia”, contou. No ano passado a Santa Casa realizou três procedimentos, dos quais duas pessoas morreram, uma 39 dias após da cirurgia e a outra 12 horas depois.

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