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Cidades

No caminho da rota, vale a pena viajar de carro por lugares fantásticos

Sílvio Andrade, integrante da expedição | 12/09/2017 10:03
No caminho da rota, vale a pena viajar de carro por lugares fantásticos
Integrantes da expedição contemplam o céu estrelado no deserto do Atacama - Foto: Equipe Paulo Cruz

Chegar à costa do Pacífico chilena de carro, saindo de Campo Grande ou outra cidade de Mato Grosso do Sul, era um sonho distante para o turista quando se depara com as dificuldades de acesso para transpor a fronteira do Paraguai com a Argentina por um caminho mais curto, porém perigoso, sem infraestrutura e segurança – além do atoleiro em épocas de chuva.

A decisão do governo paraguaio de pavimentar o último trecho da Transchaco, de quase 600 km, entre Porto Murtinho (MS) e a fronteira com a metrópole argentina Jujuy, muda esse cenário desafiador e o incorpora a uma rota bioceânica, que servirá não apenas para o comércio do Mercosul, mas, atrairá turistas brasileiros e do mundo a uma região fantástica, a 5.000 metros de altitude e inversões térmicas extremas.

Turismo tem cenário favorável

Completando a infraestrutura viária que hoje não existe e isola uma rica região paraguaia ocidental, cercada por ambientes naturais que são os pantanais de lá, o governo brasileiro também assina embaixo e garante a construção de uma ponte de concreto sobre o Rio Paraguai, entre Murtinho e a guarani Carmelo Peralta. Dali a Iquiqui (Chile), de frente para o Pacífico, são apenas 2 mil km. Viajar de carro em família proporcionará fortes emoções.

No caminho da rota, vale a pena viajar de carro por lugares fantásticos
Turistas lotam a entrada para as cordilheiras, em Jujuy: belíssimo altiplano com sua morraria colorida. Fotos: Sílvio Andrade

A expedição realizada durante oito dias por uma caravana formada por 29 camionetes e quase uma centena de empresários do setor de transporte de cargas e gestores públicos, encerrada no dia 2 de setembro, mostrou uma rota de grande futuro para o comércio e, sobretudo, o turismo. O sul-mato-grossense está tão próximo da Cordilheira dos Andes e do Deserto do Atacama, como chilenos e argentinos de Bonito e Pantanal, e poucos conhecem esses destinos ao volante.

Enfrentar o novo caminho nas condições atuais é uma aventura arriscada por conta da travessia do chaco paraguaio. Muito pó na seca (temperatura de 40 graus, entre novembro e dezembro) e atoleiros nas águas (ocorrem chuvas torrenciais entre janeiro e fevereiro). No trecho de terra não existe apoio, como postos de combustíveis ou serviços de socorro. Sem sinalização, risco de se perder e se surpreender chegando à fronteira com a Bolívia.

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Símbolo da colonização em Filadélfia

No Paraguai, surpresas no caminho

Com a Transchaco asfaltada e a ponte, viaje com absoluta certeza que será umas férias inesquecíveis. No caminho do nada, cruzando o chaco, você se surpreende ao chegar a Loma Plata (270 km de Murtinho), um dos departamentos paraguaios na região, cuja capital, Filadelfia, tem bons hotéis, restaurantes, comércio e... internet! A comida é ótima. Aqui (e na Argentina) você descobre que a melhor carne bovina não é a brasileira.

Com o asfaltamento parcial da Transchaco, ligando Assunção à fronteira com a Bolívia, o isolamento dos povoados e colônias aos poucos vem sendo rompido. A ligação com o Brasil, para eles, representa o mesmo sentimento nosso: aproximação dos laços culturais, desenvolvimento e turismo. Depois do agronegócio, o setor que mais cresce em Filadélfia é a indústria sem chaminé. A região recebe cada vez mais visitantes, atraídos pela mistura de tradição, religiosidade, povos nativos e a agreste natureza do lugar.

No caminho da rota, vale a pena viajar de carro por lugares fantásticos
Jornalista no pico da cordilheira: frio e mal estar

Segundo o blog “Sopa Brasiguaia”, um dos atrativos turísticos da área urbana é o Jakob Unger Museum, que conta a história da chegada dos menonitas ao Paraguai, no início do século 20, e reúne material etnológico de culturas pré-colombianas. Além de Filadélfia, vale a pena conhecer as colônias de Loma Plata e Neuland, onde modernas indústrias cooperativas funcionam, lado a lado, com o tradicional artesanato indígena, produzido nas aldeias e nas esquinas.

Argentina e Chile, outra realidade

Outros atrativos são as áreas protegidas, como os parques nacionais Defensores del Chaco, Teniente Agripino Enciso, Médanos del Chaco, Coronel Cabrera-Timane, Chovoreca y Río Negro, assim como as reservas privadas Campo María, Chaco Lodge, e outros. Em Fortín Toledo, a 40 km de Filadélfia, não deixe de visitar o Projeto Taguá, importante área de preservação do frágil ecossistema local, composto por árvores, como o quebracho, e grandes mamíferos, como o puma pardo.

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planícies desérticas, geleiras e animais adaptados à dificil vida sem o verde: natureza exótica

Quando se atravessa a fronteira com a Argentina, um outro mundo nos surpreende. Grandes cidades, como as vizinhas Jujuy (mesma população de Campo Grande) e Salta, esta famosa pelos vinhos e a legítima saltenha. Cidades com uma infraestrutura viária que surpreendeu os integrantes da expedição, excelência em rodovias que se seguem até o Chile, mesmo no deserto, e com um fluxo moderado de veículos.

Saímos de Campo Grande com uma altitude de 500 metros e chegamos a dois mil metros, nenhuma alteração – aparente. Jujuy e Salta estão localizadas em um amplo vale seco no noroeste argentino, rodeado por altas montanhas verdejantes, que atraem milhares de turistas o ano todo. Assim como nós, estão ávidos pelo asfaltamento do último trecho da rota para conhecerem os paraísos naturais, Bonito e Pantanal.

No caminho da rota, vale a pena viajar de carro por lugares fantásticos
Salares da Argentina visitados por turistas. Os mais atrativos ficam localizados no Atacama, que competem com o Salar de Uyuni, na Bolívia

Emoção na Cordilheira dos Andes

Salta, de 600 mil habitantes, tem um centro histórico do século 19, museus interessantes, como o Museo Provincial de Bellas Artes e sua exposição de arte sacra, e o Arqueologia de Alta Montanha, onde, entre coleções fantásticas, estão as múmias ritualísticas incas encontradas no pico Llullaillaco, simplesmente a 6.739 metros, na fronteira com o Chile. E quando se fala em vinhos, os rótulos da região estão cada vez mais em evidência.

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GPS do carro mostra estrada sinuosa na cordilheira

Jujuy (“rrurrui”, para los hermanos), como Salta, vai além de suas atrações exóticas e algumas das mais belas paisagens da América Latina. Ali, no árido noroeste argentino, também se pratica rafting, trekking, trilha de bicicleta, passeios a cavalo e muito mais! A culinária também se destaca, uma das mais apreciadas. Da famosa saltenha, conhecida por nós como “boliviana”, aos pratos com truta e carne de lhama e cabra também se destacam.

As duas províncias estão aos pés da Cordilheira dos Andes, que tem uma estrada incrivelmente sinuosa e uma vista de tirar o fôlego. No pico da cordilheira, quase 5 mil metros de altitude e sensação térmica de zero grau (a expedição estava preparada para 15 graus negativos). Dá uma zonzeira, mas é bom estar preparado. Vale até mascar folha de coca vendida no começo da escalada...

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Veículo do Campo Grande News e o Vulcão Licancabur

Atacama, um lugar incrível

No caminho, os salares argentinos, com receptivo para os turistas, um cenário surreal cercado por morros e moradores nativos. Sem dúvida, um espetáculo a parte, embora, segundo especialistas em turismo, não tão visitado quando o Salar do Atacama, no Chile, que atrai turistas do mundo inteiro ao povoado de San Pedro de Atacama, cujas ruas estreitas e pequeno comércio são invadidos por mochileiros.

San Pedro fica a 160 km depois da fronteira Argentina-Chile, a 2.400 metros de altitude. Você sai de um frio intenso para um calor seco de 28 graus na entrada do deserto e se depara com outro mundo, de paisagens irreais, montanas em formas exóticas – ou lunares -, tentando entender como alguns animais e plantas resistem àquele lugar (aparentemente) sem vida. Afinal, estamos atravessando a região mais árida do planet

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"A vida se impõe no Atacama, no gelo, na areia, no céu, no sal, apesar de tanta aspereza", escreve a jornalista Kátia Arima, de Viagem

Atacama oferece um leque de opções. Um dos atrativos é a Laguna Miscanti (4.100 metros), com um azul das águas de arder os olhos e seus vulcões. Tem comunicação subterrânea com outra lagoa, a Meñique, ambas na Reserva Nacional dos Flamingos. O Vale da Lua é um dos passeios mais populares, na Cordilheira do Sal, a 17 km do povoado, caminhando ou pedalando. A Laguna de Chaxa é ideal para observar os flamingos, que se alimentam de um pequeno camarão que vive na água salgada. www.lugares.eco.br

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