Aftosa volta a assombrar e Exército vai às ruas em Mato Grosso do Sul
RETROSPECTIVA
Foco surgiu no mês de setembro no Departamento de San Pedro, no Paraguai, e voltou a assustar Mato Grosso do Sul após cinco anos
Cinco anos depois que o pior foco de aftosa atingir a região de fronteira, a doença voltou a dar as caras e assombrar a economia de Mato Grosso do Sul após a confirmação do registro da doença em fazenda no departamento de San Pedro, a cerca de 150 quilômetros do Estado, em solo paraguaio. Desta vez, no entanto, três meses depois, o reflexo ficou longe do território sul-mato-grossense.
Iagro (Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal) e Exército, além de policiais do DOF (Departamento de Operações de Fronteira), montaram uma força tarefa para fazer barreira e reforçar a vigilância. A ordem era clara: abater animais sem identificação.
A tarefa em vigiar de forma efetiva os 650 quilômetros de fronteira seca com o Paraguai, que compreende 11 municípios e 800 mil cabeças de gado, era vista como missão impossível. O efetivo da Iagro chegou a ter 25 equipes móveis, responsáveis, também, pela pulverização dos veículos que transitavam pela linha de fronteira.
“É impossível que não passe algum animal numa linha de fronteira que tem 650 quilômetros de extensão. O que é possível está sendo feito. A ordem é abater o animal que não possuir identificação”, afirmou o superintendente da SFA (Superintendência Federal da Agricultura), Orlando Baez.
A fragilidade foi exposta em reportagem publicada pela Agência Estado, que afirmava ter flagrado boiada cruzando a fronteira a menos de 30 quilômetros do bloqueio que o Exército montou na BR-463, que liga Ponta Porã e Dourados.
O governo paraguaio decretou situação de emergência sanitária e estimou prejuízo de R$ 300 milhões, além de suspender as exportações de carne. A crise foi classificada como desastre para a economia do País.
No Estado, a entrada de carne, produtos e subprodutos do país vizinho foi proibida, conforme determinado em memorando do Ministério da Agricultura.
“A aftosa não é um problema só do Paraguai. Caso seja possível e necessário, tanto a força pessoal quanto a material do Estado, vão estar disponíveis para a vacinação do gado paraguaio”, chegou a declarar o governador André Puccinelli (PMDB).
O drama como ajuda - Além da vigilância, o governo do Estado apostou na mobilização dos produtores da região de fronteira, motivada pelo trauma de 2005.
A secretária de Produção e Desenvolvimento Agrário de Mato Grosso do Sul, Tereza Cristina Corrêa da Costa, disse o amadurecimento dos produtores de Mato Grosso do Sul para lidar com a ameaça era o principal trunfo.
“Nosso principal exército são os produtores. A experiência em 2005 foi dura e até hoje não houve recuperação financeira plena de alguns setores. Ninguém quer passar por isto de novo”, disse, por sua vez, a diretora-presidente da agência, Maria Cristina Carrijo.
Durante dois dias, a própria secretária, juntamente com integrantes da Famasul e sindicatos rurais, reuniram-se com fazendeiros da região de fronteira para esclarecer a situação.
Como precaução, o governo do Estado decidiu antecipar, em outubro, a vacinação, por meio da Agulha Oficial, rebanhos de propriedades rurais localizadas em aldeias e assentamentos, classificadas como áreas de risco. A antecipação do início da campanha oficial chegou a ser especulada, no entanto, começou dentro do calendário em 1º de novembro.
Preconceito - Em reunião no dia 18 de outubro na sede da Famasul, em Campo Grande, o presidente da Associação Rural do Paraguai, o veterinário Juan Néstor Nunez Irala, reclamou do preconceito ao País por conta do foco.
“Não somos um perigo para a região, pelo contrário“, criticou Irala, ressaltando que a crise surge como oportunidade para “detectar erros e aprimorar os trabalhos de vigilância sanitária”.
Conforme ele, no ano que vem, o prejuízo do governo paraguaio pode chegar a R$ 600 milhões.
Juan Néstor Nunez Irala também lamentou em Campo Grande o foco de aftosa ter surgido num momento em que o Paraguai registrava crescimento na ordem de 14% no PIB (Produto Interno Bruto).
Um dia antes, em Assunção, reunião foi realizada alinhar estratégias de sanidade animal. O encontro foi na sede da Sociedade Rural Paraguaia. O presidente da Famasul, Eduardo Riedel, o coordenador da Câmara Setorial de da Cadeia da Bovinocultura e Bubalinocultura e presidente da Comissão da Pecuária de Corte da Famasul, José Lemos Monteiro, e o presidente da Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul), Chico Maia, participaram do encontro.
“Paraguai e Mato Grosso do Sul têm 35 milhões de cabeças de gado. Não podemos dar motivos para a comunidade internacional, que foi um mercado conquistado à duras penas. Estas reuniões são um grande avanço” disse Maia, à época.
Status - No dia 8 deste mês, dois meses após a confirmação do foco, o Paraguai perdeu o status de área livre da doença com vacinação, que havia sido concedido este ano, pela OIE (Organização Internacional de Epizootias).
Segundo informações da Seprotur, a notícia não altera os procedimentos já adotados no Estado.