Estado se despede de Lúdio Coelho, o homem do chapéu
RETROSPECTIVA
Nelson Trad e Celina Jallad foram outras perdas sentidas pela política sul-mato-grossense neste ano; Cultura também teve suas baixas
O ano de 2011 foi marcado pela morte de um dos personagens históricos da política em Mato Grosso do Sul.
Início da tarde do dia 22 de março. Vítima de falência múltipla dos órgãos, o ex-senador e ex-prefeito de Campo Grande, Lúdio Coelho, falecia no Proncor na Capital aos 88 anos depois de quatro dias internado.
Seis dias antes, ao não comparecer à Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul) para receber uma homenagem, o “homem do chapéu” dava indícios da saúde fragilizada e que a despedida estava por vir.
Nascido em 22 de setembro de 1922, Lúdio Coelho foi produtor rural e político ao mesmo tempo, sendo considerado, por muitos anos, um dos nomes mais fortes na política estadual.
Na vida pública, foi prefeito de Campo Grande em duas oportunidades (1983-1985 e 1989-1992). Também foi senador da República e vice-líder do PSDB no Senado. Presidiu o PSDB em Mato Grosso do Sul e participou de inúmeras comissões.
Com manifestações do Congresso Nacional à Assembleia Legislativa, políticos exaltaram a marca do ex-prefeito.
Lideranças destacaram obras importantes executadas por Lúdio como projetos sociais, sobretudo, o de desfavelamento da Capital, a canalização do córrego da avenida Fernando Corrêa da Costa e avanços no transporte coletivo urbano.
“A menina dos olhos dele eram os projetos de assentamentos sociais urbanos. Ele criou no Dom Antônio Barbosa e o José Pereira”, lembrou o governador André Puccinelli.
O lado da fala simples, quase caipira, também foi enaltecido por amigos e familiares. “Ele ia aos bairros, tomava mate com as pessoas humildes”, disse, à época, o presidente da Acrissul, Chico Maia.
Destacado pelas virtudes, a face controversa de Lúdio não teve como passar despercebida como a relação com integrantes do MST e a posição contrária à reforma agrária. Ruralista, o episódio em que atirou terra num protesto de sem-terra na praça Ary Coelho foi lembrado.
Já o diretor da Fetems (Federação dos Trabalhadores em Educação de MS), Jaime Teixeira, recordou das duras negociações com profissionais da educação. “Certa vez, durante greve dos professores, o então prefeito dizia que os professores estavam em greve, pois queriam descanso. E que depois ele voltaria a conversar conosco”, mencionou.
Nelson Trad - O ano também foi marcado pela despedida de Nelson Trad. Deputado estadual por dois mandatos e deputado federal por sete vezes, ele morreu no último dia 7, no Proncor, em Campo Grande, aos 81 anos, vítima de problemas no coração.
Trad apresentava problemas cardíacos desde 1983, quando operou e passou a fazer revascularizações frequentes. No ano passado ele implantou um marcapasso e, recentemente, teve diagnosticada obstrução de artérias.
Nascido em Aquidauana, em 1930, o advogado e professor Nelson Trad se formou em Direito na UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro), em 1957, e voltou a Mato Grosso do Sul como advogado criminalista. Acabou entrando na política, elegendo-se deputado estadual ainda no Mato Grosso uno.
Depois, chegou à Câmara Federal. Durante a carreira política no Congresso foi ainda líder do PMDB, 2º Secretário da Câmara, membro da CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) e do Conselho de Ética. Foi ainda presidente do diretório do PTB em Mato Grosso do Sul.
Culto e habilidoso com as palavras, Nelson Trad era um crítico ácido principalmente ao PT. Foi ativo na política até as eleições passadas, quando deixou de concorrer. Também demonstrava paixão pelo futebol. Ex-jogador, torcia para o Comercial.
Ao longo da carreira política, teve postura de combate frente aos governos militares e chegou a ter os direitos políticos cassados. Na despedida, ele teve um dom evidenciado. Conseguiu transferir o legado político para os três filhos, que ocupam cargos importantes: o deputado estadual Marquinhos Trad, o deputado federal Fábio Trad e o prefeito de Campo Grande Nelsinho Trad, bem como o sobrinho Luiz Henrique Mandetta. Deixa também duas filhas, Fátima Trad, que é advogada, e Maria Tereza Trad, psicóloga.
O irmão do patriarca da família Trad, Ricardo Trad, definiu: “o pai de todos”.
“Como advogado, foi o maior tribuno que o Mato Grosso uno e Mato Grosso do Sul tiveram. Defendeu grandes causas no Tribunal do Júri. Como político, foi exemplo para todos. Em uma época com tantas desgraças e corrupção no país, ele morreu praticamente sem nada. Foram 43 anos de vida política e morreu deixando uma casa onde hoje é o escritório do Nelsinho”, salientou Ricardo.
Celina Jallad - A primeira baixa do ano na política do Estado foi Celina Jallad, que morreu dia 28 de fevereiro, aos 64 anos, no hospital Sírio-Libanês em São Paulo, em decorrência de um aneurisma no abdômen.
Filha do ex-governador Wilson Barbosa Martins, Celina foi a primeira mulher a presidir o diretório municipal do PMDB, apontado como um dos partidos mais tradicionais no Estado. Professora e empresária, desbravou a importância feminina na política estadual.
Ocupou secretarias municipais e de governo e foi a primeira mulher a ser eleita deputada no Estado, em 1995, cargo que ocuparia quatro vezes.
Também foi a primeira mulher a ocupar a presidência da CCJR (Comissão de Constituição, Justiça e Redação), a comissão mais importante da Assembleia Legislativa, e a vice-presidência da Casa.
Em novembro do ano passado, assumia vaga de conselheira no TCE (Tribunal de Contas do Estado) na vaga de Osmar Dutra.
“Ela foi uma inspiração para que eu decidisse entrar na vida pública. Ao ver que a Celina superou preconceitos por ser filha de político e mesmo assim decidir entrar para a polícia, eu pensei: ‘Se ela pode, eu também posso’”, comentou, à época, a vice-governadora Simone Tebet.
Ela era casada com o desembargador do Tribunal Regional do Trabalho, Abdalla Jallad, há 43 anos. Celina lutava contra o câncer de mama desde 2009.
A morte de Celina ainda abriu uma corrida pela sucessão à vaga no TCE e a mudança da bancada federal de Mato Grosso do Sul no Congresso. O deputado estadual Antônio Carlos Arroyo (PR) e a ex-senadora Marisa Serrano (PSDB) protagonizaram meses de articulação para assumir o cargo. Serrano foi escolhida e o então suplente dela, o pecuarista Antônio Russo Neto (PR), tornou-se senador.
Outras baixas - 2011 foi marcado ainda por perdas sentidas por outros setores em Mato Grosso do Sul como a morte, em acidente de trânsito na rodovia MS-164, o coordenador geral do MST (Movimento dos Trabalhadores Sem-Terra) em Mato Grosso do Sul, Egídio Brunetto, que seguia rumo ao Assentamento Itamarati, um dos maiores projetos da reforma agrária.
A morte dele foi lamentada pelo ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva e a ex-primeira-dama Mariza Letícia. Eles o definiram como “exemplo de militante incansável, com grande compromisso pela luta dos trabalhadores rurais”.
“Com pesar, registro o falecimento de uma das maiores lideranças do MST, não só no meu estado, mas em todo o Brasil, um homem que dedicou a vida a causa da reforma agrária. Egídio era muito bem articulado e graças a sua liderança milhares de famílias conquistaram o direito de ter seu lote, produzir e sustentar seus filhos”, afirmou, no dia, o senador Delcídio do Amaral.
Em nota, a coordenação nacional do movimento afirmou que Brunetto era um “guerreiro sem-terra que andou pelo mundo, construindo alianças com a classe trabalhadora”. Ele foi lembrando por sua atuação no movimento internacionalmente, já que era integrante da Via Campesina, entidade internacional que defende a reforma agrária.
Já a cultura esteve de luto pela morte da presidente da Fundação de Cultura e Turismo de Corumbá, Heloisa Helena da Costa Urt, aos 61 anos, após um infarto. Militante história do PT, Helô, como era conhecida, era referência na área cultural. Formada em Letras pela UFMS, participou do movimento de resgate da manifestação do Cururu e do Siriri, que resultou no registro da Viola-de-Cocho como Patrimônio Imaterial da cultura brasileira.
Como presidente da Fundação de Cultura de Corumbá, ampliou o atendimento às crianças e jovens, implantou a Noite da Seresta e resgatou os Cordões Carnavalescos daquele município.
O setor cultural do Estado lamentou também a morte do ator e coreógrafo Célio Adolfo, aos 48 anos, no dia 9 de junho, após ser internado com infecção urinária. Ele foi um dos nomes mais representativos no meio teatral e da dança em Campo Grande. Recentemente, ocupava a função de coordenador de atividades lúdicas da Omep (Organização Mundial para a Educação Pré-escolar).
O livro Vozes do Teatro, lançado este ano, tem Célio Adolfo entre as personalidades retratadas pela contribuição à cultura do Estado.
“Amante da arte por inteiro, Célio Adolfo se destacou no cenário teatral e de dança de Mato Grosso do Sul, sendo homenageado pela competente atuação nas duas artes”, dizia nota emitida pela Fundac (Fundação Municipal de Cultura).