Siqueira lesou 25 pessoas e prejuízo chega a R$ 345 mil
A Decon (Delegacia Especializada de Repressão aos Crimes contra as Relações de Consumo) apresentou nesta quinta-feira o relatório final sobre a investigação do caso Siqueira, envolvendo a família do ex-garagista acusado de formação de quadrilha e estelionato.
O inquérito concluído hoje tem 850 páginas e apresenta denúncias de 25 vítimas contra o ex-empresário e outras 5 pessoas da família. O prejuízo chega a R$ 345.545.
De acordo com o delegado Adriano Garcia Geraldo a apuração confirmou o dolo, ou seja, a consciência de que as ações da família eram criminosas. A Siqueira Automóveis funcionou por 27 anos na Avenida Bandeirantes e começou a apresentar problemas financeiros no começo de 2006, fechando as portas em dezembro de 2008.
"A alegação de todos os envolvidos é que o negócio passava por dificuldades financeiras e que a crise mundial agravou a situação. Porém, a crise só estourou em setembro de 2008 e os golpes vinham sendo aplicados desde o final de 2007", afirma o delegado.
Ao terem ciência de que o negócio afundava em dívidas a família optou por não declarar falência e continuar no mercado. A mudança de endereço na mesma avenida dava provas de que a situação era difícil. A investigação mostra também que todos os 5 presos tinham participação no que o delegado chamou de "fábrica de golpes".
"A prática mais recorrente era quando a pessoa ia até a garagem vender um carro e recebia com cheque sem fundos. Eles tinham um forte poder de argumentação. Teve pessoas que esperavam até 6 meses para receber um dinheiro e acabou sem nada. Há casos de cheques em nome da Fábia, preenchido pela Flávia, assinado pelo Genival e pré-datado pela Ione. Eles tinham facilidade em assinar contratos e cheques, o que comprova a participação nas ações criminosas", detalhou Adriano.
Na hierarquia dos golpes, Genival encabeça a lista de responsáveis, seguido de Fábia, Flávia, Aparecida e Ione têm a menor participação nos crimes. Outros crimes apurados mostram o repasse de carros financiados a terceiros, que perderam o valor investido e não continuaram com o veículo.
O titular da Decon relata: "Temos um caso de uma pessoa que chegou na loja com veículo no valor de R$ 32 mil, pegou outro carro financiado com valor menor, com a segurança passada pelo Siqueira de que assumiria as parcelas do financiamento. As parcelas não eram pagas e o carro foi resgatado pelo banco".
A maior valor registrado nos golpes foi de R$ 32 mil e o valor mais baixo foi de R$ 1.200. Ontem uma senhora de 78 anos, utilizando um andador, esteve na Decon para apresentar queixa. O delegado conta ainda que as vítimas procuravam a área cível no intuito de terem o valor ressarcido, mas sequer registravam a ocorrência policial. Desde o início da divulgação da investigação, 13 pessoas provaram ser vítimas da garagem.
A investigação durou 17 meses por conta da dificuldade em encontrar os envolvidos. Genival Siqueira esteve foragido em Goiânia (GO), Londrina e Maringá, no Paraná, e em propriedades rurais no interior de Mato Grosso do Sul. Fábia foi presa em Engenheiro Coelho, interior paulista, onde cursava faculdade e trabalhava com loteamentos residenciais.
Genival, Ione e Flávia continuam em prisão, mas já tem pedido de liberdade protocolado. Aparecida Siqueira da Silva e Fábia Siqueira estão livres e responderão em liberdade. A pena para estelionato é de 1 a 5 anos de reclusão, e para formação de quadrilha podem ficar reclusos de 1 a 3 anos. No caso de estelionato por ser considerado continuado, o julgamento dos casos de cada vítima pode somar as penas.