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Cidades

Trem plantou cidades, integrou MS ao Brasil e findou o tempo dos sertões

Aline dos Santos | 27/05/2014 17:29
Três Lagoas surgiu com a chegada da ferrovia. (Foto: Acervo Jornal do Comércio)
Três Lagoas surgiu com a chegada da ferrovia. (Foto: Acervo Jornal do Comércio)

Se hoje a ira dos sul-mato-grossenses se acende a cada confusão com o vizinho Mato Grosso, nos idos do Segundo Reinado essa parte do território mal era Brasil. O cenário só se reverteu com a chegada da ferrovia, concluída em 1914, que anexou a região, trouxe desenvolvimento econômico e fez cidades brotarem no Cerrado, findando o tempo dos sertões.

No Império, para proteger o País de ataque dos vizinhos, a primeira defesa contra os invasores foi colocada em São Paulo, na divisa com o que hoje é Três Lagoas. Com cachoeiras de até doze metros, o Salto do Itapura, submerso em 1968 pela represa de Jupiá, foi eleito a região ideal para uma colônia militar.

A ordem para criação da colônia, estabelecimento naval e zona postal foi em 1858. Em busca da soberania no território vizinho ao sertões, áreas isoladas e desabitadas, não se poupou dinheiro. No ano da criação, quando a Lei Orçamentária previa a soma de 200 mil réis  para todo o sistema de presídios e colônias militares, só em Itapura foram gastos 179.966.543 réis.

Mas a tão almejada ligação com província do Mato Grosso só aconteceu no século XX e veio de trem. “Estávamos saindo de uma guerra. Tinha general que dizia que se tivesse implantado a ferrovia não teria tido a Guerra do Paraguai, ocuparia esse espaço. Importante na manutenção do território brasileiro”, afirma a historiadora Maria Madalena Dib Mereb Greco. Ou seja, os trilhos cumpriram papel definitivo na integração nacional, ocupação do território e economia.

Em 1914 foi concluída a integração com São Paulo. A ferrovia foi executada em duas frentes: uma de Porto Esperança, próximo a Corumbá, e a outra de Três Lagoas. A junção foi feita em uma estação entre Campo Grande e Ribas do Rio Pardo, cem anos depois ainda chamada de Ligação. Para trás, o trem deixou cidades.

“Houve impacto. Três Lagoas surgiu em função da ferrovia. Além de Água Clara, Ribas do Rio Pardo e Terenos”, afirma o professor da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), Paulo Roberto Cimó Queiroz, autor dos livros “As curvas dos trens e os meandros do poder” e “Uma ferrovia entre dois mundos”.

Já existente, Aquidauana foi beneficiada por receber as oficinas da ferrovia. Enquanto Campo Grande lucrou duas vezes. Desbancou Corumbá como centro econômico e fez o poder político se deslocar de Nioaque. A cidade também passou a receber os militares e migrantes.

No entanto, o professor lembra que do lado de lá, em São Paulo, o progresso foi bem mais notável. “Aqui, foram quatro cidades em 800 km. Em São Paulo, não chega a 500 km e a cada 10 km tem uma cidade”, afirma.

Uma ferrovia para inúmeras datas - A conclusão da ferrovia foi em 1914, mas falar em data exata é um desafio. “Tem confusão com a chegada dos trilhos, com o dia da ferrovia, que é em maio. Dia dos ferroviários, em setembro”, explica a historiadora.

Pelas narrativas, a ligação dos trilhos foi feita entre 30 de setembro e primeiro de outubro. Segundo Maria Madalena, os relatos dão conta que havia competição entre os dois grupos da frente de trabalho para colocar o último trilho. No dia 10 de outubro, autoridades vieram para a inauguração formal.

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