A cozinha em uma caravela na época dos “descobrimentos”
Tudo que conhecemos sobre uma cozinha nas caravelas vem dos documentos deixados por três cozinheiros espanhóis. Simón, e os dois Diegos, viveram parte de suas vidas em Cádiz. Deixaram seus testamentos que nos dá uma boa noção de como funcionava a cozinha a bordo.
Os viveres a bordo.
Quando partiam, as caravelas levavam grande quantidade de alimentos. Uma relação mostra que carregavam 7.800 quilos de biscoito comum e 3.200 de biscoito branco. Era o principal alimento para os marinheiros. As figuras proeminentes se alimentavam melhor. Havia 4.800 quilos de carne salgada, 1.200 quilos de presunto, 690 quilos de toucinho, 552 quilos de bacalhau, e 590 quilos de arroz. Ainda levavam passas, amêndoas, açúcar, azeite e vinagre. Iam em barris que não eram herméticos e estragavam rapidamente.
Animais vivos e bêbados.
Embarcavam poucas verduras frescas. Mas levavam 1.000 galinhas e 80 carneiros, que eram os primeiros a ir para o caldeirão. Nos primeiros dias de viagem, os marinheiros recebiam meio quilo de biscoito por dia, 230 gramas de carne às segundas e quintas-feiras, 144 gramas de bacalhau às quartas e sextas-feiras, e um pedacinho de queijo aos sábados. Mas só havia uma maneira de não ter deserção em massa: trancar a caravela onde paravam e dar quase um litro de vinho diariamente para a marinheirada. Estar meio bêbado era condição obrigatória para manter a ordem na embarcação. Mas o que mais temiam era o escorbuto, provocado por deficiência de vitamina C.
A podridão no porão e o fogo.
O que os marinheiros mais ouviam eram seus estômagos. A fome era comum em uma caravela. O fogo em uma nave de madeira era muito controlado, não só para evitar incêndios como para não ser vistos pelos inimigos durante a noite. A água potável também era um problema sério. Era bem rançosa pois ficava em barris no porão. A umidade, as galinhas enjauladas e todos os demais alimentos geravam uma fauna de insetos, vermes e ratos que não poucas vezes levavam a “doenças do porão”.