A OMS reconhece a Medicina Tradicional Chinesa.
Digitopuntura. Moxibustão. Fitoterapia. Esses são alguns dos exóticos termos do jargão oriental cada vez mais familiar no Ocidente. Os nomes pertencem a uma coleção difusa de práticas ancestrais que se aglutinam em torno do chamativo Medicina Tradicional Chinesa - MTC. Mas, nem as ervas e nem as agulhas resistiram às investigações científicas. Isso não impede que uma grande parte da população brasileira siga utilizando esses antigos - e ineficazes - métodos de cura.
A arte de curar com agulhas foi refutado pelas pesquisas ocidentais.
A arte de curar com agulhas - acupuntura - protagonizou numerosas pesquisas para desgraça de seus partidários. Desde o momento em que utilizaram metodologias e em trabalhos não realizados na China, onde descobriram que fraudes são sistemáticas, observaram que essa alternativa não pode ser considerada científica para a cura de patologias humanas e nem para o alívio de dores. Verificaram que é apenas um teatro simulado que gera um efeito placebo. Para tristeza de todos, a acupuntura não foi eficaz nem mesmo onde todo o mundo científico apostava suas fichas: não se comprovou eficaz no tratamento de dores crônicas. A dúvida sobre a eficácia da acupuntura foi resolvida à luz de avaliações de 70 revisões elaboradas por cientistas da Universidade de Maryland, nos EUA: não aprovaram. Também deixaram claro que as evidências são escassas ou de má qualidade. Mas isso não vem convencendo um público ávido por soluções milagrosas a seus problemas de saúde.
A decisão da OMS promoverá o crescimento da Medicina Tradicional Chinesa - MTC.
A exposição mundial a essas duvidosas técnicas receberá um incremento significativo - e perigoso - devido a uma recente decisão da Organização Mundial de Saúde (OMS). O suposto poder curativo da Medicina Tradicional Chinesa reside na crença de que a enfermidade é uma alteração do fluxo de nossa energia vital, denominada "chi", que provoca um desequilíbrio do "yin" e "yang". A novidade é que por mais excêntrico que pareça, a OMS decidiu que a MTC faça parte da nova Classificação de Enfermidades - CIE - 11 - à partir de janeiro de 2022. Esse documento que aprova a prática da MTC será apresentado em maio de 2019 na Assembleia Mundial de Saúde. É essa classificação que norteia a agenda dos médicos em mais de 100 países. Ela influi nos diagnósticos, na cobertura das empresas de seguro e nas verbas para pesquisas clínicas. Ainda não é definitivo que a OMS aprove a Medicina Tradicional Chinesa, alguns de seus dirigentes estão afirmando que a proposta não é de aprovação, mas de apenas poder contar quantas pessoas no mundo são atendidas pela MTC.
A construção de centros de MTC está no horizonte da medicina mundial.
O debate sobre a MTC não está pautado apenas pela sua eficácia ou ineficácia. Sua provável expansão é um negócio muito rentável. Em finais de 2017, surgiram 17 centros em países como Hungria, Emirados Árabes e Malásia, segundo a revista científica Nature. Está prevista a construção de outros 30 centros de MTC até 2020. A exportação de medicamentos à base de ervas e outros produtos relacionados com a MTC (pó de chifre de rinoceronte e similares) aumentou 54% no ano passado, atingindo um total de 250 milhões de euros.
Como se vê esse debate, de eficácia ou ineficácia da MTC vale fortunas incomensuráveis. Não está em jogo apenas uma certificação para aquele que deseja praticá-la, os interesses são gigantescos.
A grande diferença entre a Medicina Tradicional Chinesa e Medicina Científica Ocidental.
Para a Medicina Científica, os tratamentos devem ser universais, enquanto para a MTC, a cura depende do indivíduo. Este último é um argumento muito utilizado quando não se quer demonstrar alguma coisa. Um antibiótico funciona no Brasil, na China, no Egito e em qualquer lugar do mundo. Não depende de indivíduo, de sua crença, ou de seu caso concreto. Essa fuga para o papel do indivíduo na cura das doenças está na raiz de todas as pseudociências, de todas as "bruxarias" usadas como se tivessem poder curativo. Não há como comprová-las cientificamente pois cada pesquisa teria de ser feita com os mais de 7 bilhões de pessoas existentes no mundo. Que o mundo medico brasileiro prepare-se, os centros e medicamentos da MTC estão chegando... E eles não são os pobres médicos cubanos. Chegarão com cofres abarrotados para enfrentar a Medicina Científica Ocidental.