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Em Pauta

Bolsa de couro de crocodilo: 5 anos de espera. E se fosse de jacaré?

Mário Sérgio Lorenzetto | 18/01/2014 07:40
Bolsa de couro de crocodilo: 5 anos de espera. E se fosse de jacaré?

Para comprar uma bolsa de couro de crocodilo tem fila de 5 anos. Existe mercado para o couro do nosso jacaré?

Para leigos pode ser difícil diferenciar o jacaré do crocodilo. Crocodilos e jacarés pertencem a famílias diferentes. São diferentes no formato da cabeça, no alinhamento dos dentes e na maciez do couro.

O centímetro da pele de jacaré-do-papo-amarelo custa aproximadamente, 2 euros a menos que a do crocodilo. No mercado internacional, a do crocodilo custa 24 euros o centímetro. Já a do jacaré é comercializada por 22 euros o centímetro. Entretanto, a pele do crocodilo é aproveitada apenas em 70%, enquanto a do jacaré brasileiro tem 100% de aproveitamento. A pele do crocodilo é mais dura.

Em Alagoas, a Mister Cayman, empresa que cria de maneira sustentável jacarés para exportação de couro, têm um plantel de 16 mil animais, com valor estimado em R$180 milhões. No ano passado, comercializou 120 mil centímetros de pele de jacarés. Da produção total, 70% tiveram como destino o mercado externo.

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Grandes marcas disputam a matéria prima

A pele de jacarés e crocodilos é matéria-prima muito disputada por grandes marcas, que as utilizam em produtos caríssimos – um sapato de couro de jacaré custa, em média, US$ 3 mil na Europa, e uma bolsa Hermés de pele de crocodilo pode ser encontrada em sites de venda de segunda mão, nos EUA, por US$ 18 mil. Caso o cliente deseje entrar na fila para comprar uma peça nova, terá de esperar 5 anos e pagar três vezes a mais que a usada , a bagatela de US$ 54 mil.

No Mato Grosso do Sul essa produção é incipiente e encontra dificuldade para melhorar preços. Mas o esforço de poucos é criativo e inteligente. Estão trabalhando com o jacaré precoce. Esse couro facilita o processo industrial por ser menos espesso, ter maior flexibilidade e resistência. A maior agregação de valor vem das placas ósseas que estão presentes no couro de acordo com o avanço da idade. O jacaré jovem não tem estas placas na pele.

Bolsa de couro de crocodilo: 5 anos de espera. E se fosse de jacaré?
Bolsa de couro de crocodilo: 5 anos de espera. E se fosse de jacaré?

A fábrica de genes, ambição aliada à qualidade

Situada em Shenzhen, no sul da China está uma ambiciosa fábrica chinesa. Sua especialidade, ao contrário do preconceito atrelado aos produtos chineses não é a produção de artigos de qualidade duvidosa, mas, a decodificação de genes. Shenzhen é uma cidade predominantemente industrial, sendo comparada com Detroit. Agora que os cientistas dão ênfase com grande intensidade para a transformação dos códigos genéticos de cada criatura viva em informação que pode ser usada para tratar e prevenir doenças, Shenzen recebeu uma nova fábrica, o maior centro de pesquisa genética do mundo, o BGI - Beijing GenomicsInstitute. Com 178 máquinas que realizam o sequenciamento genético, produz ao menos um quarto dos dados genéticos do mundo, em suma, ganha de qualquer outro centro tecnológico de excelência.

Boa parte da biologia molecular e da microbiologia contemporâneas estão focadas na busca por decifrar o código básico da vida. Desde 1995, quando Craig Venter sequenciou a primeira bactéria, biólogos travaram uma cruzada para catalogar o DNA de todas as espécies na Terra. Nenhum grupo foi mais agressivo nesta luta do que o BGI, a empresa já sequenciou o genoma de 77 mil pessoas. Além disso já realizou o sequenciamento do arroz, do grão de bico, do panda gigante, do camelo, da galinha e 40 tipos do bicho-da-seda. Os últimos têm um lugar sagrado na economia chinêsa há séculos. A empresa também sequenciou o antílope tibetano, o vírus responsável pela SARS e o DNA do cadáver de 4 mil anos de um homem descoberto no solo permanentemente congelado da Groenlândia.

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Sem experimentação com animais também é possível avançar

A empresa tem 4 mil empregados que trabalham no que era a antiga planta de uma fábrica de sapatos. Não existem tubos de ensaio ou ratos de laboratório na indústria, uma série de matrizes avançadas de sequenciamento genético, mais altas que geladeiras e cheias de hard drives, elas realizam o sequenciamento de amostras de DNA que chegam do mundo inteiro. Para preservar os produtos químicos necessários para processar o DNA, as máquinas são mantidas em salas geladas às quais poucas pessoas possuem acesso.

A empresa, assim como a sua cidade, parecem ter sido formadas em um instante, em 9 de setembro de 1999. Eles começaram em Pequim (Beijing) como uma ONG e na sequência se afiliaram à Academia Chinesa de Ciências. Mas, como explica o presidente da empresa, Jian Wang, eles foram expulsos da Academia pois eram vistos como “muito loucos”. Ele entende que a expulsão foi essencial para o sucesso da empresa. Wang e seu sócio além de possuírem formação ocidental lutaram para que a China participasse do Projeto Genoma Humano.

Além disso, sugeriram que o governo chinês fizesse um centro de sequenciamento, porém, não foram escutados. Por isso, resolveram criar uma empresa própria, levantando capital para contratar 50 pesquisadores e comprar algumas máquinas essenciais. Começaram a trabalhar em Pequim em um apartamento que tinha divisórias feitas com o papelão que havia embalado as máquinas. O grupo foi responsável por apenas 1% da pesquisa do Projeto Genoma Humano. Porém, em 2000, quando Bill Clinton anunciou que um grande pedaço do sequenciamento havia sido concluído ele incluiu a China nos agradecimentos. A BGI estava ajudando a abrir o mercado chinês pela via da colaboração científica internacional.

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DNA como biblioteca de referência universal: está perto

O time de pesquisadores internacionais levou mais de 10 anos e US$ 3 bilhões de dólares para mapear o primeiro genoma humano. Hoje a BGI pode fazer o mesmo em alguns dias por cerca de US$ 4 mil. Estima-se que no fim de 2015 o preço seja reduzido para US$ 1 mil. A intenção da BGI é transformar o DNA em um recurso comum, em uma espécie de biblioteca de referência universal. Os objetivos da empresa não são modestos, pretendem explicar as origens e a evolução da humanidade, aumentar a média da expectativa de vida em 5 anos, aumentar a produção global de alimentos em 10%, decodificar metade de todas as doenças genéticas existentes, entender as causas do autismo e reduzir pela metade os problemas genéticos ligados ao nascimento.

Isto só pode ser sonhado pois o processo de sequenciamento genético se tornou uma produção industrial. As finanças da empresa não são transparentes, mas ele ganham dinheiro de diferentes formas, como a análise de dados para empresas farmacêuticas, com o sequenciamento de genomas de pessoas para pesquisas e foi contratada por um grupo americano para sequenciar o DNA de dez mil pessoas de famílias com crianças autismo.

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Enquanto aqui estão discutindo, lá estão trabalhando

Para os cientistas na Dinamarca, que estão estudando a genética da obesidade e do diabetes, a empresa decodificou os genomas de mil pessoas obesas e mil pessoas saudáveis. Além disso, oferece uma tese para a síndrome de Downque analisa o DNA do feto circulando no sangue da mãe. Ainda, a fábrica de genes procura decifrar a base genética da inteligência humana, um tema que os cientistas no Ocidente ainda estão discutindo.

Wang reconhece que existem preocupações éticas com pesquisas desse tipo, que existe um modo de lidar com as coisasdo Ocidente, que acredita ser melhor e mais avançado que o resto do mundo. O presidente da BGI de maneira provocativa afirma que nos últimos séculos o Ocidente liderou o caminho da inovação tecnológica, contudo, os chineses não querem seguir este caminho. Eles estão criando o próprio caminho que, ao contrário do que parece, não se trata da produção de quinquilharias, mas de um projeto mais amplo de dominar todos os espaços de produção e de conhecimento. A fábrica de genes é apenas um pequeno exemplo daquilo que ainda está por vir.

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