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Em Pauta

Diário de uma feia muito formosa

Mário Sérgio Lorenzetto | 08/09/2019 08:57
Diário de uma feia muito formosa

Perguntem a um sapo o que é a beleza, o verdadeiro belo, o "to kalon". Ele responderá que consiste em sua fêmea, com seus dois belos olhões redondos que se destacam na cabeça pequena, a garganta larga e chata, o ventre amarelo e o dorso escuro.
Interroguem um negro de Angola: o belo consiste para ele na pele negra e oleosa e no nariz achatado. Conversem com o diabo: dirá que o belo é um par de chifres, quatro patas e um rabo.
Acontece que para cada marido, a bela é sua esposa. Cada namorado considera bela, exclusivamente bela, a própria namorada. Não há regra fixa para a beleza. Nem para a feiura.

Diário de uma feia muito formosa

O ideal da beleza grega.

Uma beleza europeia, desagradaria um chinês. Esse chinês também tem um conceito de beleza diferente de um negro do Congo. Geralmente temos uma imagem estereotipada do mundo grego antigo, criada no seu breve período neoclássico. Nos museus vemos estátua de Afrodite que exibe na brancura do mármore, uma beleza idealizada. Foram eles que criaram as "regras" atuais da beleza. A proporção ideal para ser belo deveria ter um rosto com 1/10 do comprimento total do corpo, a cabeça 1/8, o comprimento do tórax 1/4... e assim por diante.
O ideal grego da perfeição era representado pela "kallokagathia", termo que nasce da união de "kállos" - traduzido como belo - e "agáthos" - termo traduzido como bom, mas que cobre toda uma série de valores positivos. É a noção aristocrática que chegou até nós com a ideia de “gentleman“ de “madame”. Uma pessoa de aspecto digno, de coragem, estilo, habilidade e conclamadas virtudes morais. Mas há um paradoxo nesse ideal de beleza que tanto nos agrada. A expedição de Tróia foi motivada pela beleza de Helena. No entanto, Helena esposa infiel de Menelau, certamente não poderia ser considerada um modelo de virtude.

Diário de uma feia muito formosa

Posso comprar a beleza?

O dinheiro, na medida que possui a propriedade de comprar tudo, de apropriar-se de todos os objetos... Logo, minha força será tão grande quanto maior for a força de meu dinheiro. O que sou e posso não é, portanto, efetivamente determinado pela minha individualidade. Sou feio mas posso comprar a mais bela entre as mulheres. Muitas mulheres comportam-se como objetos. Logo, não sou feio. O efeito da feiura, seu poder desencorajador, é anulado pelo dinheiro. Sou manco, mas o dinheiro me dá vinte pernas: donde, não sou manco.
Ora, basta entender esta reflexão sobre o dinheiro, para entendermos o uso do poder.

Diário de uma feia muito formosa

A estética do feio.

O feio vem sendo definido como o contrário do belo. Uma espécie de possível erro que o belo contém em si, de modo que toda estética, como ciência da beleza, é obrigada a enfrentar o conceito de feiura. Há um feio da natureza. Há o feio espiritual. Há feio até nas artes. A ausência de forma, a assimetria, a desarmonia, o desfiguramento e a deformação. Feio é o mesquinho, o vil, o débil, o banal, o casual, o tosco. As várias formas de repugnante: o desajeitado, o horrendo, o insosso, o nauseabundo, o demoníaco... Isso tudo é demais para que se continue a dizer que o feio é o simples oposto do belo, entendido como harmonia e proporção. Tinham razão as bruxas, que no primeiro ato de Macbeth, gritam: "Belo é feio, feio é belo".

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