Eleições: tudo continua igual à época da Roma antiga
Quando se trata de eleições, há muitas coisas que parecem ser modernas, mas os antigos romanos já faziam. Há mais paralelismos entre as condutas deles com as nossas do que diferenças. Afinal, somos seus herdeiros não só na língua, mas nos costumes na utilização da democracia e da república.
Organização de campanhas.
Havia eleições anuais na Roma antiga. Eles se tornaram nossos mestres na organização de campanhas. Apesar de não existir salários para os políticos romanos, as disputas eram acirradas e comumente custavam verdadeiras fortunas. Apresentar-se como candidato a pretor ou cônsul incluía um nível de generosidade que era difícil de distinguir do suborno. Tal como agora, os políticos investiam muito dinheiro pensando em recuperá-lo durante o exercício do cargo. Também contratavam enormes quantidades de "cabos eleitorais", uma concepção que passa a existir com a maior quantidade de militares concorrendo. Eles também foram os precursores da instalação de "comitês eleitorais", prédios voltados exclusivamente para organizar as campanhas eleitorais.
Comícios, discursos e debates.
Os romanos também celebravam algo parecido aos comícios. Eram as "contiones", que se organizavam antes das assembleias quando os candidatos tentavam atrair os votos dos cidadãos com discursos e debates. Também pregavam cartazes nas paredes com palavras em louvor dos candidatos. Saiam durante a noite em grupos que tinham diferentes tarefas: um deles branqueava a parede, outros pregavam os cartazes e o terceiro grupo iluminava o ambiente com lâmpadas de azeite.
Admirar esportistas famosos.
Bolsonaro foi a um jogo do Palmeiras. Ou a um jogo do Flamengo. Essa é uma prática política que remonta a época dos antigos romanos. A diferença era de que ao invés de jogadores de futebol, admiravam - ou fingiam que admiravam - gladiadores e aurigas (condutores das quadrigas, uma pequena carroça com quatro cavalos). O Circo Máximo - onde ocorriam as corridas de quadrigas - podia receber 250.000 torcedores, uma excelente reunião de eleitores. A chave era torcer para os aurigas mais populares. A corrida de quadrigas era a fórmula 1 de nossa época.
Distribuição de vinho.
Os romanos foram os primeiros a preocupar-se com a procedência, a variedade e o ano da colheita das uvas destinadas aos vinhos. Foram eles que criaram o conceito atual de qualidade de vinhos. Os melhores - que saiam do monte Falerno, próximo a Nápoles - eram vendidos apenas para os magnatas e poderosos. Mas havia uma enormidade de vinhos que eram destinados à população mais pobre. Durante as campanhas eleitorais, esses vinhos de menor qualidade eram distribuídos pelos candidatos aos eleitores.
Distribuir apartamentos caindo aos pedaços.
Os edifícios de apartamentos ("insulae" ou "ilhas") ocupavam a maior parte do território da Roma antiga. Via de regra eram oportunidades de investimento atrativas para seus proprietários. Tal como hoje no Brasil, uma imensa massa de "sem teto" viviam nas ruas. Não havia apartamentos para todos. Com essa precariedade, ganhar um apartamento era um dos melhores prêmios para os cabos eleitorais.
Fake news romanas.
Difundir noticias falsas não começou com Donald Trump. Foram os romanos que criaram essa forma de denegrir os adversários políticos. Pintar notícias falsas nos muros era o mesmo que pintar notícias falsas no Facebook. Era comum um candidato mandar pintar que o "grêmio dos ladrões e das prostitutas apoiavam determinado candidato". As campanhas de difamação continuam as mesmas. No Brasil usam a corrupção para denegrir adversários. Nos Estados Unidos, o mote é o sexo.