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Em Pauta

Enclaves, a origem da pequena população do MS

Por Mário Sérgio Lorenzetto | 30/08/2024 06:50
Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

“Enclave” é uma palavra pouco usual em nossa língua. É um território dentro de outro território. Ladário, por exemplo, é um enclave dentro do território de Corumbá. O Vaticano é um enclave dentro de Roma. Alguns são consentidos; outros, são prejudiciais. Na história de nossa economia e do crescimento populacional alguns enclaves foram danosos, até infecciosos. A empresa Matte-Laranjeira foi a mais importante, mas existiram outras.


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Falta tudo.

No início do século passado faltava tudo no Mato Grosso do Sul. As queixas registradas, generalizadas para a economia do Estado, referiam-se a quatro aspectos: carência de mão-de-obra, carência de dinheiro para investir, deficiência de meios de transporte e falta de apoio do governo de Cuiabá. Das quatro, a falta de “braços” era a mais sentida.


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Somente três atividades produtivas.

A pecuária bovina, a extração e o beneficiamento da erva-mate e a industria do charque tinham efetiva projeção. Empregavam muitas pessoas. Mas todas não colaboravam com nosso crescimento populacional. Instalaram-se em nosso território apenas para aproveitar a abundância das matérias-primas. As da erva-mate e do charque visavam exclusivamente mercados de fora de nosso Estado. Eram enclaves. Há um quarto empreendimento que também tem alguns sinais de enclave - a exploração de manganês e de ferro.


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A Matte-Laranjeira levava tudo, nada deixava.

Era gigantesca. Um absurdo. Seus trabalhadores eram paraguaios, contratados aos milhares e mantidos sob coerção física. Dispunha de mais de 500 carretas, 30 chatas, lanchas a vapor, vários depósitos, muitos burros, boas estradas e 18 mil bois mansos para puxar carretas. Era o maior enclave dentro do Mato Grosso do Sul.


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As charqueadas de Miranda.

Há um debate entre historiadores sobre se era apenas uma charqueada ou duas. Seja qual for a verdade, não empregava brasileiros. Eram todos bolivianos, que afluíam da fronteira relativamente próxima em enorme quantidade. Também era um enclave muito pernicioso para nossa economia e crescimento populacional. Tal como a Matte-Laranjeira, uma vez fechada, nada deixou. Todos retornaram para seus países.


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Compagnie de l‘Urucum.

Esse investimento belga em Corumbá trouxe seus principais mandatários de Montevidéu. Não contratou um corumbaense sequer para exercer funções administrativas. Os operários não qualificados eram bolivianos. Foi outro enclave infeccioso.


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Paraguaios e indígenas.

Os proprietários rurais, por sua vez, lançavam mão da força-de-trabalho preferencialmente de indígenas; eventualmente de paraguaios. Era raro ver um brasileiro nas primeiras fazendas.


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Apenas 2,9 milhões de habitantes.

O IBGE acaba de retificar o tamanho de nossa população. Passamos de 2,7 milhões de habitantes para 2,9 milhões. Nada mudou, apenas um número para uma manchete de jornal. Temos 7 pessoas vivendo em cada quilômetro quadrado. Se todos plantassem, ninguém passaria fome. Apesar dessa característica, fazendeiros e indígenas sempre estão se matando. É muita terra para tão pouca gente. Fazendeiros e indígenas são vitimas e reféns da ausência de governo. Por outro lado, nosso mercado consumidor é diminuto, e é o grande responsável por tudo que há de ruim em nosso comércio. Para cada melancia vendida no MS, mais de mil são vendidas em São Paulo. E tem problemas graves na industria. Já não são enclaves, mas parte importante da mão-de-obra de nossa indústria não é constituída por sul-mato-grossenses, vem de outros Estados.

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