Erva-mate começa a dominar o mercado da Espanha

O mate não é uma bebida. Ninguém toma mate por ter sede. É mais um costume, como coçar-se. O mate é exatamente o contrário da televisão. Te faz conversar quando está com alguém, e te faz pensar quando está só. É a única que compartilham pais e filhos sem discutir e nem fechar a cara. Esquerdistas e direitistas tomam mate sem brigar. No verão e no inverno. É o único que une verdugos e vítimas. Os bons e os filhos da p…

55.000 toneladas.

O Brasil é o principal exportador da erva-mate. São mais de 55.000 toneladas anuais vendidos para o mundo. Os números de vendas são crescentes para a Espanha. Acaba de empatar com a venda de energéticos. Originário do Paraguai, esse arbusto faz parte de sua mitologia. A “Ilex paraguariensis” tem uma história tão rica como algumas de suas propriedades, com alguns momentos amargos, tal como seu sabor.

A bebida proscrita do demônio.

“Isso vicia?”. A ideia de que a erva-mate era uma droga e provocava efeitos psicotrópicos talvez venha de seu modo peculiar de beber. É um ritual e necessita de implementos. No inicio, usavam uma abóbora seca onde despejavam o líquido, sempre pouco a pouco. Em seguida, uma bombinha, feita de bambu, para sorver o líquido quente ou frio, dependendo da região onde era bebido. Talvez, por ser bebido em comunidade e aportar hidratação e, principalmente, pelo indígenas considerarem um presente dos deuses, os primeiros evangelizadores católicos que chegaram ao Paraguai viam a erva-mate como uma bebida demoníaca. De fato, chegaram a perseguir e proibir nas Missões. Só por volta do século XVII, dois séculos depois da chegada dos cristãos, foram aceitar, para não perder fiéis e, principalmente, poder comercializar com essa erva que se tornou a principal fonte de sustento das Missões.

Excomungados. A bebida afrodisíaca.

Os franciscanos passaram a excomungar e condenar os fiéis que bebiam erva-mate. Não funcionou. Os fiéis mais humildes seguiram impavidamente sorvendo a infusão. Os dominicanos reagiram contra seu consumo afirmando que era afrodisíaca e, portanto, “contrária aos princípios da continência cristã”. É claro que ninguém se surpreenderá ao saber que teve um efeito contrário: o consumo de erva-mate aumentou. A devoção pela erva-mate era maior que o medo de Deus.

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.