Não chamaram a educação para ajudar a controlar a pandemia
A verdade é que uma das maiores falácias sobre o Brasil é que ele é um país que não sabe o que são catástrofes e, assim, não sabe controlá-las. É verdade quando se trata de terremotos ou furacões. Mas inundações e queimadas são costumeiras, apenas não são prevenidas pelos permissivos governantes. As tragédias humanas são ainda mais comuns. Chacinas, pobreza extrema, violações múltiplas são corriqueiras no país.
Tiroteios tiram crianças das escolas.
Apenas um exemplo pouco conhecido e catastrófico: no Rio de Janeiro, mais de 20% dos alunos da rede municipal perdeu de 1 a 15 dias de aula em função dos tiroteios. Substituindo tiroteios por brigas, bullyings e assédios, por aqui, os números não devem ser muito diferentes. Crianças das escolas públicas são as que perdem país, irmãos ou outros parentes para mortes intencionais violentas. E elas são bem acolhidas pelas precárias escolas. As escolas são um bom ponto de controle das catástrofes brasileiras.
Como agir no início das catástrofes.
Faltou aos prefeitos, governadores e Brasília - inclusive os da educação - a articulação institucional e o aproveitamento do conhecimento dos profissionais acostumados a lidar com emergências: assistentes sociais, agentes de saúde, organizações da sociedade civil e professores não foram chamados para ajudar a controlar a pandemia. Há três questões que poderiam ter sido convocados: 1) identificar e contatar os afetados, 2) oferecer-lhes as necessidades mínimas, 3) consolidar uma rede de apoio e construir com eles um plano de ação de médio prazo.
Segunda onda é sempre mais mortal.
As autoridades fingiram desconhecimento de que as segundas ondas de uma pandemia qualquer são sempre mais mortais que a primeira. Assim foi com a gripe espanhola, no começo do século passado. Será com a próxima. Entre uma e outra onda, a primeira tarefa deveria ser chamar país, alunos e professores para identificar as suas necessidades imediatas e, com eles, construir uma rede de apoio aos mais necessitados. Mas isso dá trabalho. E se há algo que autoridade tem ódio é trabalhar em dois turnos. Só gostam de conversa fiada.
A merenda escolar.
Muitas cidades deixaram de entregar a merenda escolar. Em algumas, não tinham contato com a residência dos alunos. Outras, entregaram via cartão eletrônico. Mas há uma falha gigantesca pouco debatida: Brasília não permitiu que a merenda do Programa Nacional de Alimentação Escolar fosse entregue nas residências dos alunos. Com essa atitude, não só deixaram de alimentar milhões de crianças, como promoveram o recuo das pequenas comunidades agrícolas que fornecem a merenda, assim como os pequenos comerciantes.
Rastreamento de contatos funciona bem em uma pandemia.
Todos conhecem o sucesso do rastreamento de casos de covid-19 na Coreia do Sul. Por lá, empregaram o que tem de melhor: a alta tecnologia. Mas há outra experiência que também se saiu bem. Na Inglaterra, convidaram as escolas para participar dos esforços de contatar as pessoas com a doença. É assim, lhes fornecer testagem e informações corretas. Temos mais de 140 mil escolas públicas no país. E se algumas delas fossem disponibilizadas para que famílias pobres pudessem se isolar temporariamente?