O debate sobre as grandes questões da economia é raso, parece um pires
O debate sobre as grandes questões da economia é raso, parece um pires
O único brasileiro a acreditar que a economia brasileira está bem é o Ministro da Fazenda. A economia não está bem. Mas também nada indica que irá explodir em uma recessão. Não temos o crescimento que desejamos. A previsão do mercado é de um crescimento por volta de 1% do PIB (Produto Interno Bruto). Não é nada que possamos nos alegrar. A inflação tem maiores chances de alcançar o teto e não o centro da meta - e isso com controle de preços, algo que pensávamos estar livres. O déficit externo, que estava na casa de 2%, caminha para estar acima de 3%. Mas, por outro lado, temos o pleno emprego. Os técnicos denominam desemprego de 5% como "pleno emprego". É um índice excelente para os tempos de crise econômica mundial e para qualquer tempo. Antes dos petistas assumirem o poder estava acima de 10%
O Ministério da Fazenda tem feito intervenções persistentes na economia. Muitos setores foram beneficiados por subsídios, desonerações de impostos e liberação de créditos em condições favoráveis. Mas as vantagens não são iguais para todos. O resultado é que uma ampla parcela de empresários parou de investir. Passaram a perceber que era melhor gastar energia para influenciar a mudança de regras em seu favor. Em vez de gerar lucros com novos produtos, com melhoria de processos, com inovação, passaram a ganhar dinheiro tentando tirá-lo dos outros.
A produtividade despenca, mas o Ministério da Fazenda insiste...
E insiste nos mesmos instrumentos usados no passado para tentar corrigir os problemas. A esperança reside na mudança da equipe econômica. E as campanhas eleitorais insistem em tratar de escândalos, existentes e imaginários. Não debatem os problemas cruciais do país. Petrobrás, aeroportos em Minas Gerais e os demais - aumentam a adrenalina dos políticos que cada vez mais se distanciam da população.
O relatório de uma das mais importantes empresas do mercado financeiro, a Nomura, corrobora a preocupação: "prevemos mais danos a sua posição (da candidatura de Dilma), dados a deterioração na economia e o aumento de inflação nos meses à frente - a não ser que ela faça algum forte movimento de restauro de confiança antes da eleição, como nomear uma nova equipe econômica". E o relatório da outra empresa do mercado financeiro, o Morgan Stanley, deixa ainda mais claro: "consideramos mais provável é a vitória da atual ocupante do cargo (o que é o motivo pelo qual recomendamos apenas manter ou vender ativos brasileiros)".
A história de Maria e a futura crise bancária brasileira
Um dia Maria comprou um apartamento por R$ 300 mil para vendê-lo no ano seguinte. Ela deu R$ 15 mil de entrada e pegou R$ 285 mil com seu pai para pagar dentro de um ano. Maria alavancou seu patrimônio líquido 20 vezes. Ela acreditava que o valor da casa aumentaria em 10% e poderia vendê-la por R$ 330 mil e, depois de pagar os R$ 285 mil devidos ao pai, teria R$ 45 mil, um lucro e tanto.
Mas suponha que, em vez de subir, o preço do apartamento caiu 10%. Ela só consegue vendê-lo por R$ 275 mil, perderia todo seu patrimônio e teria de se virar para encontrar o dinheiro que falta para saldar o empréstimo tomado com o pai. A lição é clara. Quanto maior a entrada que o pai exigir de Maria, tanto menor será o risco de que uma variação no preço da casa implique uma perda para os dois - pai e filha.
Usando o mesmo método, na versão simplificada do balanço patrimonial de um banco, no lado esquerdo, entre outros ativos, aparecem os empréstimos concedidos.
Do lado direito, entre outras obrigações, os depósitos dos clientes
A diferença entre as duas colunas, ativos e passivos, é o patrimônio líquido dos bancos. Se o patrimônio líquido de um banco representa 20% de seus ativos, o banco pode absorver perdas de 20% de seus ativos antes de se tornar insolvente. Mas se a relação é de 5% ou menos, o banco não tem uma grande folga, fica mais vulnerável diante de pequenas perdas, como foi o caso dos bancos norte-americanos em 2008.
Esses requisitos mínimos para o patrimônio líquido dos bancos dependem de acordos internacionais firmados em Basiléia, na Suíça, sob a liderança do BIS - Banco de Compensações Internacionais.
No seu relatório anual divulgado no dia 29 de julho, o BIS dá a entender, para alguns economistas, que vislumbrou um risco de crise bancária no Brasil dentro de três anos. Relatório no mínimo estranho em período eleitoral para uma Basiléia que não enxergou a crise dos bancos norte americanos nem mesmo quando ela estava ocorrendo, imaginem com três anos de distanciamento.
Ser solidário é rentável e lucrativo
A solidariedade bem entendida e administrada vende bem. Uma das empresas mais elogiadas no mundo, que iniciou essa prática há 26 anos é o Grupo Sifu, na Espanha. São 3 mil pessoas trabalhando com algum tipo de dificuldade especial. Podem ser físicas, especialmente cadeirantes, podem psíquicas ou enfermidades mentais graves. O compromisso é ter 90% dos funcionários com alguma dificuldade especial. O melhor é que esse grupo, de nome que nunca seria adotado no Brasil, não para de contratar. Só no ano passado foram abertas 500 novas vagas para pessoas com dificuldades.
A ideia começou com um dos sócios que tinha um irmão com algum tipo de dificuldade física. Contrataram 100 pessoas com vários tipos de dificuldades para seus postos de combustíveis e o sucesso foi tão grande que, não pararam mais. Ampliaram o portfólio da empresa para serviços em prédios e residências - jardineiros, porteiros, faxineiros e toda ordem de funcionários possível. Incrementaram as contratações com as indústrias oferecendo os mesmos serviços que a essa altura já eram creditados como da melhor qualidade e confiabilidade. Atualmente contam com mais de 1 mil clientes.
O crescimento financeiro tem sido incrível. Contavam com um faturamento de R$ 93 milhões em 2010 e no ano passado atingiram R$ 114 milhões.
O que ocorrerá com o capitalismo em 2015?
Esta é a primeira crise sistêmica verdadeiramente mundial: trata-se de uma crise muito mais profunda que a de 1929, que afeta todos os países e muda o núcleo de poder. Talvez tenhamos de enfrentar um mundo ainda mais perigoso em fins de 2014. Estas são as conclusões do GEAB 81. O Global Europe Anticipation Bulletin - GEAB é o informativo mais lido pelos grandes capitalistas do mundo todo. Só os brasileiros não o conhecem.
Existe uma batalha para destronar o dólar como moeda internacional de referencia. Esta seria uma "pá de cal" no comatoso império norte americano. A atual conjuntura, portanto é muito delicada. Atualmente reina uma forte sensação de insegurança que está sendo testada a capacidade geopolítica dos novos atores que se acham na primeira linha. Os novos atores - China, Rússia, Brasil, Índia e África do Sul - não buscam provocar abertamente a derrubada do dólar, mas estão se separando dele. Um colapso global baseado no dólar significaria que a maioria dos países seriam arrastados sem maior possibilidade de resgate. A receita usada pelos Brics (Brasil, Rússia, Índia e China) é procurar uma separação sem muito ruído. Uma transição sem sobressaltos.
O dólar mantém suas aparências de força, mas a base que o sustenta está se desmoronando
A aceitação do yuan como moeda de intercambio internacional constitui a principal ameaça para o dólar. Devido à guerra do Vietnan ocorreu um importante aumento no déficit das reservas de ouro dos EUA. Elas baixaram nos anos da 60, anos da guerra, de 20 mil para 8 mil toneladas. Para evitar a quebra do país, Nixon decidiu em 1971 acabar com a conversão do dólar em ouro e transformou a sua moeda em uma moeda fiduciária internacional, emitida e aceita por decreto. Decreto e economia não andam de mãos dadas.
Esta base era muito frágil e teria curta duração. Todavia, depois da guerra árabe-israelense de 1973, ano que se produziu também a crise do petróleo, nasceu o petrodólar, ou seja, o dólar ancorado pelo ouro negro. Os Estados Unidos negociaram com o principal exportador do petróleo - a Arábia Saudita - que cada barril de petróleo só poderia ser comprado por uma moeda: o dólar. Assim, os EUA conseguiram um sistema mais favorável para manter sua hegemonia econômica.
A introdução do petrodólar permitiu aos EUA imprimir grandes quantidades de dólares e endividar-se com todo o mundo, especialmente com a China e a Europa. Mas quanto maior a instabilidade no Oriente Médio, maior era o preço do petróleo, e maior a demanda de dólares. O Pentágono praticamente substituiu a Receita Federal norte-americana, pois cada guerra no Oriente Médio, nos países produtores de petróleo, mais favorecia a economia norte americana.
Atualmente a China é o país que mais importa petróleo e paga em yuan e não em dólar, força adquirida pela fortuna impagável que os Estados Unidos devem aos asiáticos.
Adicione-se as ligações do pré-sal brasileiro com os chineses e a compra, em 2013, da Lone Star State, a principal companhia de energia do mundo com sede no Canadá. O petrodólar poderá ser substituído por um "petroyuan" ou um "petro-Brics".