O Forrest Gump de Aquidauana que conheceu Robert de Niro
Forrest Gump é um filme de Hollywood de 1.994. O personagem principal é um gentil e simpático homem que presencia os principais fatos daqueles tempos. Andando, sem parar, vai contando inúmeras histórias. É assim que ele se define: um contador de histórias. É com o nome desse personagem hollywoodiano que Macsuara Kadiwéu, um indígena de Aquidauana, se identifica. Um homem com mil histórias de seu tempo para contar. O único aquidauanense que virou artista de cinema, de novelas e conheceu alguns dos nomes mais estrelados da capital mundial do cinema.
O trem da vida partiu de Aquidauana.
Macsuara teve uma ideia rocambolesca. Filho de pai Kadiwéu e mãe terrena, munido com uma curiosidade inacreditável, tomou o trem da Noroeste do Brasil, que passava por Aquidauana, e foi até o fim dos trilhos. Chegou na Bolívia. Começava a carreira do Forrest Gump de Aquidauna. E nunca mais parou. Está andando até hoje. Sua próxima parada, seria em uma aldeia próxima à cidade de São Paulo.
O pajé da selva de pedra.
Foi nessa passagem por uma aldeia de São Paulo que Macsuara Kadiwéu aprendeu os possíveis poderes medicinais das plantas das florestas. Foi às praças apresentá-las e vendê-las. Quando chamado de “raizeiro”, Macsuara contestava, era o pajé da selva de pedra. De praça em praça, o aquidauanense andou do Amazonas ao Rio Grande do Sul. Sempre com suas plantas e histórias.
“Mãe, ele fala”.
Certo dia, conta Macsuara, estava em uma praia no Rio de Janeiro, quando encontrou uma mãe com seu filho. Percebendo a curiosidade da criança, ela disse: "ele é um índio”. Quando Macsuara o cumprimentou, foi tomado pela surpresa. O menino, estupefato, constatou: “mãe, ele fala”. A criança descobriu o que muitos adultos ainda não sabem: indígena é gente, é humano.
Macsuara, o primeiro artista indígena.
No Rio de Janeiro, ele conheceu Paulo Barbosa, apresentador de um programa na televisão e outro de rádio. Paulo o convidou a participar do programa de rádio para um quadro onde se apresentava como um pajé. Receitava plantas para curar as mais variadas moléstias. Tornou-se, assim, muito conhecido.
O vingador dos indígenas.
Depois de algumas participações menores em filmes brasileiros, Macsuara foi convidado para o papel principal do filme “Avaeté - Sementes da Vingança“. Nesse filme, baseado em uma história real, um avião lança dinamites em uma aldeia do vizinho Mato Grosso. Em seguida, matadores de aluguel, assassinam todos aqueles que sobreviveram. Ava, foi o único menino que restou. Quando adulto, dedica-se a vingar a morte de seus parentes e amigos da aldeia massacrada. O filme recebeu prêmios nos festivais de Veneza e de Moscou. Na capital russa, foi ovacionado. Mas, no Brasil, teve uma diminuta distribuição, poucas salas de cinema projetaram o filme tido como “perigoso”. O argumento era: “imagine se essa história de vingança indígena vira moda”.
Após 36 filmes, uma novela em que não é índio.
Macsuara tem uma longa trajetória de ator. Seu currículo mostra que participou de 36 filmes. Como ator e como indígena, conheceu Robert de Niro, Russel Crowe, Robin Williams e outras estrelas de Hollywood. Após 40 anos de atuação, participou, pela primeira vez de uma novela onde não é um personagem indígena. Chico das Mortes, na novela Renascer, é um matador.
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