O papel fundamental dos militares na luta pela abolição
Zumbis, Princesa Isabel e outros, vem obscurecendo, ao longo das décadas, o papel fundamental dos militares na luta abolicionista. Os últimos discursos dos dois mais proeminentes militares - Bolsonaro e Mourão - dão a entender, às novas gerações, que os militares são escravocratas, que a abolição ocorreu sem a participação dessa instituição ou contra ela. Precisam dar a "volta volver", olhar para o glorioso passado, especialmente do exército, no que tange a liberação do cativeiro.
Sem Caxias, não haveria abolição.
Quando Caxias retorna da Guerra do Paraguai, proclama a decisão da tropa para o reizinho D.Pedro II, um dos mais fanáticos escravocratas do mundo. Diz Caxias que não perseguiria escravos, pois eles eram seus "irmãos de armas". A partir dessa declaração, estava findada a escravidão. Na prática. Papelzinho assinado por princesinha valeu quase nada. Os escravos já tinham fugido das fazendas e constituído quilombos. Algo em torno de 5.000 quilombos foram montados. Não há um estudo que projete a quantidade de escravos que foram viver em quilombos, mas os 5.000 montados, dizem tudo.
As relações conflituosas entre exército e o reizinho D.Pedro II.
O ano de 1869 pareceu começar sob bons augúrios. O Brasil e seus aliados entravam na etapa final da Guerra do Paraguai. Solano Lopez estava derrotado. Só faltava render-se. Não aconteceu. Para o exército de Caxias, o que importava, no entanto, na era a rendição de Solano, era, sobretudo, o pós-guerra. As relações com o reizinho eram, no mínimo, embaraçosas. Oficiais inferiores tinham começado um movimento pela abolição. O preço de recrutar negros escravos e libertos tinha de ser pago. Os jornais voltados para os militares clamavam ostensivamente - e até provocativamente - pelo fim da escravidão. Surgiu um texto anônimo no jornal Diário do Rio de Janeiro conclamando a tropa pela luta contra a escravidão. Muitos diziam que tinha sido Caxias ou Osório que o escrevera. Os jornais estrangeiros profetizavam uma revolução no Brasil. Uma guerra entre militares abolicionistas contra o reizinho D.Pedro II.
Uma fase de sucessivas crises políticas.
A questão abolicionista não tinha como base somente a moral e a fraternidade dos "irmãos de armas". Havia, entre eles, uma clara orientação para inaugurar um novo papel político. Estavam cansados dos desmandos da corte imperial. Quando o oficialato uniu-se aos praças, deixaram as reuniões internas para buscar o apoio de médicos, advogados, engenheiros, pequenos comerciantes e industriais. Se não a mais determinante, o abolicionismo foi a razão da passagem para a nova ordem. Os novos tempos chegariam com a expulsão do reizinho D.Pedro II. Acabaria na proclamação da República. O exército tinha iniciado a sua transformação em uma tropa treinada e unida.