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Em Pauta

O primeiro medicamento feito em laboratório foi um anestésico

Mário Sérgio Lorenzetto | 04/11/2020 07:00
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O ópio e a morfina eram produtos naturais, extraídos de uma planta. Assim como quase todos os remédios disponíveis aos médicos em meados do século XIX. Até então, todos os medicamentos eram refinados a partir da natureza. Mas isso estava a ponto de mudar. A ciência, no sentido moderno - baseada totalmente na observação, experimentação, publicação e reprodução -, dava seus primeiros passos. As antigas estruturas erguidas para explicar o mundo natural e a saúde - um emaranhado de teorias antigas da Grécia, Roma, temperadas com descobertas árabes e enquadradas em uma moldura cristã - estavam sendo descartadas. A ciência liberaria uma enxurrada de medicamentos.


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Um alemão mostrou que era capaz de sintetizar fertilizantes.

Em 1832, a ideia de produzir um medicamento em laboratório veio à luz. O químico alemão Justus von Liebig, foi o primeiro a mostrar que certos elementos minerais - nitrogênio, fósforo e potássio - era necessários para que as plantas vicejassem. Em outras palavras, descobriu como funcionavam os fertilizantes. Foi o pai da química agrícola. E esse homem tido como difícil, exigente e cheio de opiniões também se interessou pelos medicamentos.


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O pai da química agrícola e da química clinica.

Além da química agrícola, Liebig demonstrou que a nutrição e o crescimento, os processos fundamentais da vida, vinham de mudanças químicas. Depois dele, a maioria dos cientistas considerou que os processos que ocorrem em organismos vivos podiam ser reduzidos a uma série de reações químicas. O corpo podia ser destrinchado até o tamanho de uma molécula. Ao longo do caminho, Liebig criaria várias substâncias. A primeira foi o hidrato de cloral. Era uma substância completamente sintética, que não existia em nenhum organismo vivo. Nunca existira na Terra. E estava destinada a ser usada como um medicamento.


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Brincando com moléculas.

Liebig adorava brincar com moléculas. Foi assim que ele descobriu que podia transformar o hidrato de cloral, que acabara de criar, em um líquido denso e de cheiro adocicado chamado clorofórmio. Percebeu que seus vapores podiam deixar uma pessoa inconsciente. Mas só por volta de 1850, o clorofórmio passou a ser testado como um método para adormecer pacientes antes de uma cirurgia. Mas era uma substância difícil de manipular. Podia matar em dose excessiva.


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O hidrato de cloro entra na moda.

Os pesquisadores deixaram de lado o clorofórmio e voltaram suas atenções para o hidrato de cloro. Simplesmente testaram em animais uma mistura de hidrato de cloro embebida em álcool. Era ótimo para as pessoas dormirem. Embora o ópio - uma droga natural - deixasse as pessoas sonolentas, havia também outros efeitos. Podia viciar e matar. Isso fez com que o hidrato de cloro se tornasse o primeiro remédio para dormir, uma classe de drogas que chamam de "hipnóticos". Um pouco de "cloral", como passou a ser denominado o hidrato de cloro, podia acalmar pacientes nos hospícios, um pouco mais ajudava a dormir e uma grande quantidade permitia que uma cirurgia fosse realizada sem dor e nem sustos. Dentro de pouco tempo tornou-se uma moda internacional. Virou uma droga recreativa. E assim varou de décadas. Foi o cloral que matou, por exemplo, Marilyn Monroe.
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