Os homens de verdade comem carne, as mulheres alface. Será?
Em tempos de carne zero nos pratos de milhões de brasileiros, a polêmica sobre a alimentação vegetariana se eleva com altos níveis de testosterona. Macho come carne. Mulher come alface. Serão verdades definitivas em tempos menos miseráveis?
Desde a pré-história.
A caça foi a primeira técnica para conseguir carne e estava, que surpresa!, dominada pelos homens, enquanto as mulheres eram excluídas dessa atividade. Caçar era masculino e comer carne, também. Mas quem nos contou essa historieta? Todos, absolutamente todos, os historiadores da pré-história eram homens. Quase todos machões de primeiro escalão. Basta lembrar das cenas, por eles descritas, dos trogloditas arrastando suas mulheres pelos cabelos.
Mulher, último degrau na escala social.
Nos Estados Unidos escravista, os negros recebiam o dobro de carne que suas mulheres. Ser mulher, negra e escrava era o mais baixo na escala. Não há nada semelhante no Brasil colonial. No Brasil dos Pedrinhos, aqueles reizinhos de meia pataca, extremamente cruéis, as torturas foram muito piores, mas as insignificantes "doses" de carne eram iguais para homens e mulheres.
Carne poderosa.
Vários países, durante a Segunda Guerra Mundial, adotaram uma política alimentar de reservar a carne bovina somente para os soldados. Tirando-a das mulheres e crianças. Tal decisão governamental aconteceu, em épocas variadas, quando havia escassez. A carne era percebida como poderosa, patriarcal e digna somente dos homens. Força, poder, virilidade estão associados à carne. É um símbolo de masculinidade.
Somos o que comemos?
Esse é um estereótipo muito antigo. Parente do "somos com quem andamos", bem mais recente. Depois, veio o "somos o que vestimos"; santos se usarmos batina, guerreiros se usarmos farda. O "somos o que comemos", vem dos tempos em que os indígenas acreditavam que podiam adquirir as qualidades dos animais que comiam. A força, a destreza e a coragem passavam da onça para o guerreiro só por comer um naco de sua carne.
"Soy boys", os rapazes da soja.
A soja, pelo contrário, vai no caminho inverso da carne bovina. O novíssimo sinônimo de gay, nos EUA, é "soy boy", o rapaz da soja. A perda da masculinidade por comer vegetais. Insulto das olimpíadas de quem tem mais testosterona. Sojicultores, cuidado inventem que plantam "chayote" (chuchu), quando aterrissarem em terras do Tio Sam.
O erotismo de um churrasco.
Churrasco é (ou era) um ambiente exclusivo dos homens. Elas ficam (ficavam) na cozinha assando o que? Mandioca, é claro, um dos símbolos fálicos. Enquanto eles, em rodas exclusivas de homens, disputavam a masculinidade: quem comer carne quase crua é mais macho. Ninguém pode falar dos perigos das tênias. Quem lembrar que a picanha extra macia veio de um bezerrinho que estava vivo até poucos dias é expulso. Dissociamos comida e ser vivo. Comer carne bovina é, para nós, algo mais profundo que a mera alimentação.