Paliteiro e banhado, o que restou do finado Rio Taquari
Durante milênios o Pantanal parecia um colosso inquebrável. Cenário de uma onda de três anos consecutivos de incêndios florestais, amplamente divulgado por vozes que gritam, o Pantanal tem também um problema ambiental mais silencioso: o assoreamento do Rio Taquari. Causado pela ocupação desordenada e gananciosa da agropecuária na região onde nasce, esse assoreamento começou na década de 1.980 e tornou esse rio no mais degradado do país, deixando impactos, além dos ambientais, sociais e econômicos.
O que era o Taquari.
Era um rio de 805 quilômetros de extensão. Nascia na cidade de Alto Taquari, no vizinho Mato Grosso, em uma área de planalto, mais elevada que o rio, e corria até Alcinópolis, Pedro Gomes e Coxim, no Mato Grosso do Sul, uma planície típica pantaneira, mais baixa. Esse declive, terras altas no norte e baixas no sul, nascia a 850 metros de altura em terras arenosas e desaguava no Rio Paraguai a meros 80 metros, serviu para arrastar milhões de toneladas de terras, originárias da exploração desenfreada do solo, para o leito do rio. Quase 90% do rio estava no MS.
Arrombados, um rio virou banhado.
"Arrombado" é o nome dado aos desvios desse rio, onde ia para a esquerda, passou a correr para a direita... e vice-versa. O mais famoso é o arrombado do Caronal, tema de estudos e debates que vem desde 1.966. Esse processo de arrombar as margens do rio ocorreu em diferentes pontos. Os fazendeiros e comunidades de pescadores e indígenas não perceberam no início. Dai vem a ideia de que esse desastre foi silencioso. Só no Arrombado do Caronal foram 6.500 quilômetros quadrados de terras cobertas por água. O Taquari virou um imenso banhado, impróprio para qualquer atividade econômica.
Impactos socioeconômicos.
O assoreamento do Taquari comprometeu a biodiversidade, a navegabilidade na região e a vida de fazendeiros e comunidades tradicionais que dependiam do rio. Todos foram desalojados e passaram a viver em Corumbá. Os mais pobres, abandonados na periferia. Foram destruídas pelo menos 100 fazendas e três comunidades tradicionais.
Os paliteiros do Taquari.
Além da marca do assoreamento, a cena do que resta do Taquari é a dos chamados "paliteiros", esqueletos de árvores mortas que hoje substituem antigas matas atingidas pela inundação. Há um filme que mostra como esse escândalo é um modelo para os fazendeiros que nasceram e foram criados no Pantanal. "Ruivaldo, o homem que salvou a Terra", conta a história desse fazendeiro que lutou até o fim para salvar suas terras. Construiu um sistema de diques para tentar garantir sua sobrevivência. De nada adiantou, hoje, ele possui no máximo uma chácara. Os "fazendeiros de fora" vem, destroem e vão embora. Os verdadeiros pantaneiros passam a ser proprietários de pequenos sítios. Um modelo em alta velocidade.