Para onde foi o dinheiro do governo. O oitavo ano de déficit
Ainda que seja a cor odiada pelo governo federal, viver no vermelho tornou-se o padrão nos últimos oito anos. Entra governo, sai governo, ficamos no vermelho. Ano após ano, nele permanecemos. No primeiro ano do mandato Bolsonaro, houve o fechamento da Reforma da Previdência. Um soprinho de alento. O segundo ano prometia reformas em profusão: administrativa, tributária e de Estado. Nada funcionou. Pelo contrário, a pandemia mostrou que o ideário ultra-liberal propagandeado por Guedes era impraticável. O governo - e somente ele - tinha condições de segurar a quebra total da economia.
R$ 322 bilhões para o auxílio emergencial.
Até 22 de dezembro, o governo tinha pago R$ 294 bilhões dentro da rubrica "auxílio emergencial". Além do auxílio para trabalhadores informais, parte do dinheiro foi levado para trabalhadores do mercado formal. Bolsonaro editou uma medida, em abril, que permitiu a redução de jornada e salários para empregados com carteira assinada. O governo também criou um programa de crédito para pequenas e médias empresas. No primeiro semestre o programa não funcionou. Mas foi muito bem no segundo. O Pronampe teve grande adesão. O total de ajuda para empresários foi da ordem de R$ 64 bilhões.
R$ 79 bilhões para Estados e Municípios.
Ao contrário dos demais anos, boa parte do dinheiro federal foi para Estados e Municípios. Por conta da redução da atividade econômica, os entes federativos tiveram suas receitas em baixa catastrófica. Para compensar as perdas, o governo federal injetou dinheiro e suspendeu suas dívidas. O efeito foi duplo. Se, por um lado, os Estados e Municípios ganharam boas condições de ultrapassar o 2020 sem maiores problemas, também foram esses R$ 79 bilhões que garantiram a reeleição de 64% dos prefeitos. Sem eles, esse percentual seria, certamente, baixíssimo. "Derrotaram" Bolsonaro com o dinheiro do governo federal. Uma dura lição que nem perceberam.
R$ 42 bilhões para a saúde.
Ao todo, o dinheiro previsto para a saúde somou R$ 51 bilhões. Todavia, até metade de dezembro, essa despesa era de R$ 42 bilhões. A demora para realizar os gastos é uma das críticas recorrentes para esse ministério.
Bolsonaro também assinou, em 17 de dezembro, uma medida que libera R$ 20 bilhões para a aquisição de vacinas. Essa despesa só será executada no próximo ano. Não sabemos qual vacina será adquirida e nem quanto custarão suas doses.
Déficit que se eterniza.
O impacto de R$ 620 bilhões computa apenas as despesas extras com a pandemia. Somando esse número ao restante do orçamento, o déficit estimado é de R$ 831 bilhões. Esse montante não leva em conta o pagamento dos juros da dívida pública. Pelas estimativas do ministério da Economia, isso faria a relação da dívida/PIB - usada para avaliar a situação da saúde financeira de um país - saltar para 93%. No ano passado era de 75%. Isso significa que o governo terá de pagar muito mais juros à partir de 2021.