Programas de Governo: o que é ruim a gente esconde, até ano que vem
2015: 30 anos de democracia
Há uma informação que não está sendo considerada: no próximo ano, o Brasil comemora o mais longo ciclo de democracia da sua história, 30 anos. Para quem viveu o período ditatorial, é um fato da maior relevância. São 30 anos de progressos extraordinários de um país que ousou ir além do modelo determinado pelo “eurocentrismo”. Basta um dado: não há país no mundo que tenha concedido tanta terra a indígenas e quilombolas.
Mas há um conjunto de políticas que foram mudando a tal ponto a imagem do Brasil que, enquanto em 1985 éramos um país condenado, hoje somos, no mínimo, resgatados, com forte influência na política, na economia, nas questões ambientais e no comércio mundial. Os méritos são devidos a todos os governantes desse período, por mais difícil que seja admitir algum mérito ao governo Collor, mas todos acrescentaram alguma evolução nas aspirações democráticas e de melhoria de vida. Sem essa compreensão, nos submetemos apenas à jogatina do período eleitoral. E elas são muito bem construídas.
Programas de Governo visam ganhar eleição, não governar
O debate do momento é sobre programas de governo. No nosso país, os programas são feitos para ganhar eleições e não para governar. Ainda prevalece a velha lógica segundo a qual "o que é bom a gente divulga e o que é ruim a gente esconde". Todos os candidatos procuram esconder as medidas impopulares que terão de adotar.
Todos sabemos que o próximo presidente fará um forte ajuste no gasto público, promoverá reformas impopulares, como a previdenciária e trabalhista, e terá de reajustar a tarifa da energia e dos combustíveis, mas esse debate não existe. Esse, talvez, seja o grande problema de nossa democracia. Falta amadurecimento, falta transparência e coragem para explicitar as medidas impopulares que são obrigatórias.
Questões cruciais estão sendo escamoteadas
O debate local aproxima-se da mesmice. Movidos apenas pelas pesquisas que detectam os apelos da população por melhorias na saúde, esgrimem o tema sem tocar nas questões cruciais - os problemas de gestão e de recursos insuficientes. Qual a equipe que administrará a saúde? Qual o modelo a ser adotado, será apenas estatal ou em parceria com os empresários? Teremos mais saneamento e políticas hospitalares contemporâneas ou o governo estadual será apenas um mero repassador de recursos para os municípios e hospitais? Se for verdade que as despesas crescerão para a Secretaria de Saúde, qual a Secretaria que perderá recursos?
A população está distanciada desta festa de novas ideias e compromissos. Sente a superficialidade.
Smartphones ganham relevância nestas eleições
A principal mudança dos últimos anos na Internet certamente tende a ter um grande impacto no resultado das eleições: o crescente acesso à Rede por meio dos celulares (smartphones). A explosão do acesso à Web por esses aparelhos aumenta a relevância e o uso político que já se esboçava na campanha anterior. O fato de 77% dos brasileiros conectados utilizarem frequentemente as redes sociais traz novos desafios para as campanhas. Na Zona Urbana, são 63% da população conectada; na Rural chega a 30%. São números muito mais expressivos que os 30% a 40% que assistem ao programa eleitoral na televisão. Tem mais: 87% dos jovens entre 16 e 24 anos usam esse meio de comunicação.
Entre trolls e cavaletes: a poluição visual e intelectual das eleições
Mas os trolls estão invadindo os celulares e as redes sociais. A palavra "troll" é uma gíria da Internet que designa uma pessoa cujo comportamento tende
sistematicamente a desestabilizar uma discussão, geralmente induzindo a baixar o nível, usando palavrões e ataques peçonhentos.
Tal como os trolls que invadem os celulares, os cavaletes de propaganda eleitoral só servem para poluir o belo visual de nossas avenidas. Agridem a visão e o bom senso. Será possível conquistar um único voto, somente um, com as agressões dos trolls e dos cavaletes? Candidato que acreditar nessa façanha, deve crer em mula-sem-cabeça.
Onda de pessimismo varre economia
Depois de ser alçado a preferido de analistas e investidores de todo o mundo, na crise de 2008, o Brasil passou a enfrentar uma enorme onda de pessimismo nos últimos meses. Mas, se pelo lado governamental, existe a "contabilidade criativa", que causou impacto entre economistas e empresários e foi o condutor maior do descrédito do Ministério da Fazenda. Por outro lado, existe uma grande quantidade de analistas, economistas e empresários fabricando contas e opiniões duvidosas. Provavelmente a realidade esteja em um ponto intermediário.
Há um ambiente de incertezas que costuma acompanhar um ano de eleições presidenciais. Elas arrefecem o apetite pelo risco e contêm o estado de ânimo dos empresários. O "espírito animal", na expressão cunhada pelo economista britânico John Maynard Keynes, está mais para o espírito do avestruz - enfiar a cabeça na terra para esperar a tempestade passar.
Queixas tradicionais e recorrentes, como a elevada carga de impostos e o excesso de regras, exercem pressão sobre o ambiente de negócios. Compor um quadro e medir a temperatura do mercado em relação ao que o próximo presidente da República vai enfrentar é mera futurologia.
Como espantar os elefantes brancos de Cuiabá, Manaus e Brasília?
Cuiabá, Manaus e Brasília construíram elefantes brancos para a Copa do Mundo e agora não sabem o que fazer com eles. A ideia latente é demoli-los. Todas as opções que surgiram são inviáveis. A mais comum é a de transformá-los em arenas para shows. Um evento musical rende no máximo R$ 1 milhão para o estádio onde é realizado. Haveria a necessidade de, aproximadamente, 15 shows por ano em cada um dos elefantes brancos. Nem o Morumbi consegue, mesmo ainda sendo o estádio onde se realizam o maior número desses eventos - uma média de três shows por ano ocorrem naquele estádio.
Um desembargador sugeriu transformar esses estádios em centros de triagem para presidiários. Cabe perguntar quem serão os primeiros na fila dessa triagem? A outra ideia é somente para o elefante branco cuiabano. Por lá, o Cuiabá Arsenal, time de futebol americano leva 2,5 mil pessoas por jogo, quatro vezes mais que o futebol "tradicional". E a última demonstração de "genial" criatividade é a dos elefantes brancos receberem as grandes equipes europeias em seus treinamentos e jogos durante a pré-temporada com o argumento das belezas naturais existentes nas capitais que construíram os elefantes brancos. O calor médio de 40 graus deve ser um chamariz para as equipes europeias.
Estados devem sustentar elefantes?
O resultado de toda a fanfarronice futebolística deverá ser um só: os governos estaduais arcarão com as despesas de manutenção que se situam entre R$ 12 milhões e R$ 20 milhões por ano.
Onde encontrarão tanta criatividade para espantar os elefantes brancos que deram à luz? Como sustentarão o leite e os 100 quilos de capim, folhas e ervas que eles consomem por dia?
Talvez a resposta para o histórico "chupa Campo Grande", que o prefeito cuiabano nos agrediu quando da construção do estádio-elefante seja: "crie Cuiabá, que o elefante é teu"? E ainda cabe perguntar: matar (demolir) elefante branco é crime ambiental?