Tereza Cristina, de musa veneno a musa Novalgina
Enquanto os governos brasileiros padecem com máquinas obsoletas, o campo brasileiro está abarrotado das melhores tecnologias mundiais. Enquanto a indústria nacional parou no fim do século passado, não há inovação tecnológica, surgida ontem em algum ponto do planeta, que não chegue amanhã à lavoura nacional. O campo brasileiro vive, há algumas décadas, seu estouro, seu trabalho exemplar. E altamente lucrativo.
Mas há a seu lado um outro campo, um espelho sujo e com pouca capacidade de refletir qualquer imagem. Um campo que necessita ser escondido. Um campo destrutivo e pouco lucrativo. É um parto. Um gigantesco parto, que precisa ser apoiado por um lado... e criminalizado por outro. Quem está encarregado desse dificílimo e arrastado parto é uma sul mato-grossense. Tereza Cristina é seu nome. E as dores da transformação não cessam... Como mudar um bebê chorão e cagão em um que possa aparecer - belo e saudável - nas capas dos jornais e revistas do mundo?
A Sociedade Rural Brasileira contra a União Democrática Ruralista.
A sede da Sociedade Rural Brasileira fica em um imponente prédio no centro de São Paulo. Representa os setores mais avançados do agronegócio. Já foram a público afirmar que são contra o produtor se armar. Desejam uma política pública de segurança para o campo, como existe na cidade. Também são a favor de uma agricultura sustentável. São eles que auferem os maiores lucros. Já nasceram há tempo. Não choram e nem vivem sujos. Para eles, trabalho escravo deve ser caso de prisão. São verdadeiros capitalistas.
A União Democrática Ruralista tem sua sede em Brasília. São os maiores provedores da bancada ruralista, também conhecida como bancada do boi. São exatamente o oposto dos representados pela Sociedade Rural, estão na capital para chorar e gritar. Também são os grandes incentivadores do armamentismo e da destruição ambiental. A grande tecnologia que almejam é um bom par de óculos. Acreditam que a boiada só cresce com o olhar do dono da fazenda. E bastam os óculos.
Tereza é a Novalgina entre esses dois campos tão diferentes. Procura curar as dores de ambos com conversa. O primeiro, não vai a público reclamar do segundo, mas vê seus lucros ameaçados pelo obsoletismo do segundo grupo.
A Europa contra o Brasil.
Já escrevemos nesta coluna que uma picanha irlandesa custa mais do dobro de uma picanha brasileira em um açougue belga. O principal motivo dessa estrondosa diferença está no cumprimento das normas higiênicas e ambientais. Boa parte do pecuarista brasileiro a veem como nossos bisavós administravam, ao arrepio das leis e das normas. É o tradicional "coroné".
Pelo menos a Irlanda e a França são nossos concorrentes na venda dos produtos do campo. Essa é uma verdade esgrimida pelos fazendeiros brasileiros. Eles estão - e continuarão - opondo toda sorte de obstáculos para que não ocorra uma invasão de carne e grãos nacionais nos supermercados europeus. Só há uma saída para essa guerra que mal começou: total e completo cumprimento das normas e leis. Não adianta chorar e gritar. Não adianta xingar a mulher dos outros. E nem a mãe.
Tereza foi quem conseguiu superar todos os últimos obstáculos para que existisse alguma esperança de vendermos uma picanha na França e nos demais países europeus. Ela é a Novalgina para curar as dores desse parto ainda mais difícil que o obsoletismo x alta tecnologia do produtor nacional. Se xingar, não vende.