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Em Pauta

Vamos viver 140 anos? O bilionário estudo do envelhecimento

Mário Sérgio Lorenzetto | 24/09/2017 07:00
Vamos viver 140 anos? O bilionário estudo do envelhecimento

Alcançaremos os 140 anos? Onde está o limite? A investigação científica sobre o envelhecimento vive um momento flutuante. Há avanços, flui o dinheiro, seduz os gigantes de Silicon Valley. Atrás ha uma imensa perspectiva de negócio. E inclusive um setor que começa a falar de imortalidade. O princípio é evitar o darwinismo.
Os cientistas precisam entender como se desenvolve a vida. Como à partir de uma célula são geradas 250 tipos de outras células que constituem o ser humano. E como isso se controla ou descontrola e nos leva à enfermidade ou à morte.
Há muitos centros científicos estudando o envelhecimento. O mais afamado é o Instituto Salk da Califórnia, de onde saiu mais de uma dezena de prêmios Nobel. A equipe é constituída por 25 pessoas. Investigam sobre células-mãe, edição genética, regeneração e reprogramação celular. Muitas dessas questões podem ser agrupadas hoje em uma categoria superior: o estudo do envelhecimento.Um dos campos mais avançados das ciências. Dopado com bilhões de tecnodólares de Silicon Valley. E onde os avanços dão alento a um futuro em que sejamos capazes de curar muitas da enfermidades da velhice. De fato, existe uma mudança de paradigma: a comunidade científica começa a considerar o envelhecimento como uma enfermidade. Pensam em "curar" o envelhecimento.

Vamos viver 140 anos? O bilionário estudo do envelhecimento

A quimera mais velha do planeta.

Os cientistas do Instituto Salk apresentam suas ideias usando imagens de Schwarzenegger. Uma ilustração da velhice. Mostram uma imagem de Schwarzenegger criança, outra em seu apogeu, nos anos de "Conan, o bárbaro", e uma de hoje, com os músculos flácidos. E perguntam: "Se trata de um caminho unidirecional ou somos capazes de reverter esse processo?" E continuam explicando. "Na mitologia grega existiam monstros formados por diferentes animais, eram as quimeras, no nosso caso, experimentos que bordeiam a ficção-científica". Mostram, na continuação, um rato em quem inocularam células de rata embrionária, as quais irão progredir e diferenciar-se. O pequeno roedor que mostraram é, provavelmente, a quimera mais velha do planeta. Mas foram mais além. Repetiram o experimento do rato com células humanas injetadas em embrião de porco. Também se dividem e diferenciam. E, outro passo mais, inocularam células progenitoras de rins humanos em um porco na metade da gestação. Resultado: o animal começa a desenvolver um rim humano. Dizem que ainda não é final, estão em um estágio preliminar.
Esta é uma das abordagens possíveis para atacar enfermidades associadas ao envelhecimento: gerar células, tecidos e órgãos em laboratório com o objetivo de prolongar a vida. Enxergam um futuro prometedor. Falam de células moribundas que rejuvenescem, e músculo flácidos que recuperam sua força e suavidade, de cortes e colagem de gens, de modificações em embriões para evitar doenças em recém-nascidos. Concluem que nossa existência resulta de 4 milhões de anos de mutações ao acaso, e seleção natural dessas mutações. "Podemos evitar o darwinismo", asseguram. "Mudar a evolução da espécie humana".

Vamos viver 140 anos? O bilionário estudo do envelhecimento

Estenderam a vida em 40%.

Existem estruturas microscópicas de DNA e proteína chamadas "telômeros". Similares a um capuz colocados nos extremos dos cromossomos, constituem um "biomarcador" para os cientistas. Cada vez que uma célula se divide, os telômeres se encurtam. Seu tamanho pode ser tomado como uma medida da magnitude do envelhecimento. Quanto menores os telômeros, mais velhos estamos. Digamos que não é a idade que obrigatoriamente nos envelhece e sim o encurtamento dos telômeros. Uma boa explicação do porque alguém com 65 anos pode parecer mais novo que outro de 60 anos. O corpo humano, de forma natural, tentar frear essa tendencia minguante do telômero com uma enzima chamada telomerase, algo como o botão de reset dos telômeros. Esta é uma das chaves dos cientistas para "curar" a velhice. Uma pesquisa já demonstrou que a telomerase têm a capacidade de atrasar o envelhecimento. Inocularam telomerase em ratos e estenderam a vida em 40%. Se for permitido pelas autoridades aplicar em humanos, os cientistas dizem que alcançaremos os 130 anos sem doenças. Morreríamos jovens aos 140 anos. Este é um projeto ultra-secreto da Google com uma empresa denominada Calico. Só se dedica às pesquisas sobre envelhecimento. Já investiram 1,26 bilhões de euros. O que se sabe é que trabalham com vários "indicadores moleculares do envelhecimento".

Vamos viver 140 anos? O bilionário estudo do envelhecimento

A baleia que vive 200 anos sem câncer e a salamandra que regenera qualquer extremidade.

O envelhecimento se converteu no campo "sexi" da ciência. Todos querem estar nele. Google está nele. PayPal também. Há muitos outros. A universidade de Liverpool estuda a genética da baleia boreal, capaz de viver 200 anos sem desenvolver câncer. Sondaram o governo britânico para financiá-lo. Consideraram arriscado. Foram ao Silicon Valley e conseguiram o dinheiro. Disseram aos cientistas: "Nunca sabem o que vão encontrar, talvez seja algo incrível". Avançam o estudo da axolote mexicano, uma salamandra que regenera qualquer extremidade que for cortada. Foi com ela que outros cientistas conseguiram produzir rins humanos em porcos. Se lograrem descobrir os truques de outras espécies, talvez possamos copiá-las. Acreditam que curaremos o envelhecimento em 20 anos. Isso não significa que será uma injeção como a penicilina. No será tão simples. Será uma combinação de diferentes tratamentos.

 

Os artigos publicados com assinatura não traduzem necessariamente a opinião do portal. A publicação tem como propósito estimular o debate e provocar a reflexão sobre os problemas brasileiros.

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