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Desvendando o fenômeno 'nem-nem'

Por Carlos Alberto Rezende (*) | 30/05/2024 09:00

O termo, surgiu na década de 1990, na Inglaterra, sob a sigla NEET´s (not in employment, education, or training) sem emprego, educação ou treinamento, em tradução livre.

Este fenômeno pode ser observado em diversos países e é uma preocupação social significativa, pois esses jovens podem enfrentar muitas dificuldades para se inserirem na própria família e, consequentemente, na sociedade: amizades, na escola, no mercado de trabalho, bem como alcançar estabilidade econômica no futuro.

De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), levantados pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), 5,4 milhões de jovens de 14 a 24 anos não estudam, não trabalham e não procuram trabalho. O dado revela um crescimento do contingente dos jovens chamados de “nem-nem” em relação ao mesmo período do ano passado, quando o Brasil tinha 4 milhões de jovens de 14 a 24 anos nesta situação. Esses dados foram divulgados no último dia 28 de maio, pelo Centro de Integração Empresa-Escola (CIEE).

Segundo o levantamento, no primeiro trimestre de 2024, o Brasil tinha 34 milhões de jovens de 14 a 24 anos. Desse total, 11,6 milhões só estudavam; 14 milhões estavam ocupados; 3,2 milhões estavam desocupados e 5,4 milhões, correspondente a quase 16% do total, não estavam trabalhando, nem estudando ou procurando trabalho.

Dentre os jovens ocupados, a maioria (45%) estava envolvida com trabalhos informais. Enquanto 15% dos ocupados são jovens de 18 a 24 anos que só estudam. Outros 41%, de 18 a 24 anos, só trabalham. Entre os adolescentes de 15 a 17 anos, 12% estudam e trabalham. Outros 2% da mesma faixa etária, só trabalham.

Entre os jovens que só estudam (11,6 milhões), 81% são adolescentes de 15 a 17 anos, e 17% têm de 18 a 24 anos.

De acordo com o governo, a parcela de jovens desocupados (3,2 milhões) é formada por 51% de mulheres e 65% de negros. A parcela dos que não estudam, não trabalham, nem procuram trabalho (5,4 milhões) é formada por 60% de mulheres, a maioria com filhos pequenos, e por 68% de negros.

Os jovens classificados como "nem-nem", aqueles que nem estudam e nem trabalham, estão na faixa etária entre 14 e 24 anos, e podem ser afetados por uma variedade de fatores, tais como:

1. Falta de oportunidades de educação ou emprego: muitos jovens podem enfrentar dificuldades para ingressar no mercado de trabalho devido à falta de experiência, qualificações ou oportunidades disponíveis.

2. Condições econômicas desfavoráveis: famílias com baixa renda podem não ter recursos para apoiar a educação continuada ou para ajudar os jovens a encontrar emprego.

3. Falta de suporte familiar: ambientes familiares disfuncionais, falta de apoio emocional ou pressões financeiras, podem levar os jovens a se desvincularem da educação e do trabalho.

4. Problemas de saúde mental: questões como ansiedade, depressão ou outras condições de saúde mental podem impactar a capacidade dos jovens de se envolverem em atividades educacionais ou de trabalho.

5. Desigualdade social: disparidades socioeconômicas e falta de acesso a recursos, podem dificultar o progresso educacional e profissional dos jovens em certas comunidades.

A questão de quem é o "culpado" pela geração "nem-nem" é complexa e multifacetada. Culpar exclusivamente as famílias pode ser simplificar demais um problema abrangente que envolve uma variedade de fatores sociais, econômicos e individuais.

Embora o ambiente familiar desempenhe, sem dúvida, um papel muito significativo no desenvolvimento e nas escolhas dos jovens, o que é resultado da educação sem limites e acesso ilimitado à tecnologia acaba formando uma geração imediatista, gerando problemas de saúde mental e barreiras estruturais que dificultam a transição dos jovens para a vida adulta de forma bem-sucedida.

Uma pessoa afetada pelo imediatismo, além de impaciente, é de certa forma apática. Essa apatia, por sua vez, tem a ver com uma percepção equivocada de que tudo tem que ser para agora.

Em vez de atribuir culpa, é mais construtivo abordar o problema de forma empática e colaborativa, buscando soluções que ajudem a apoiar e capacitar os jovens "nem-nem" a saírem dessa situação. Isso pode envolver a implementação de programas de educação e formação profissional, o fortalecimento da rede de suporte social, a criação de oportunidades de emprego e a abordagem das causas subjacentes que contribuem para a desconexão dos jovens da educação e do trabalho, além do retorno da Educação Física escolar obrigatória em todas as escolas.

De acordo com especialistas, para lidar com esse fenômeno, é preciso retomar a valorização do trabalho e do estudo como fonte de formação do próprio caráter. Na minha opinião, além de tudo que já foi falado e escrito, o fortalecimento dos laços familiares e da atividade esportiva na formação escolar são de suma importância para combater esse fato; uma educação com limites, carinhosa e participativa, exerce funções fundamentais para o enfrentamento da situação.

E aí, até quando vamos ficar "nem, nem" para isso?

(*) Carlos Alberto Rezende é conhecido como Professor Carlão. Siga no Instagram @oprofcarlao.

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