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Finanças & Investimentos

A defesa moral do capitalismo

Emanuel Steffen | 03/06/2019 17:33

Uma das razões de nossa moral estar hoje tão deturpada é porque, vários anos atrás, nossos pais, avós e bisavós fizeram várias concessões aos inimigos da liberdade justamente em termos morais. Para ser mais específico, eles permitiram que os inimigos da liberdade pudessem se arvorar os únicos detentores da superioridade moral.

Aqueles que defendiam o socialismo, o comunismo e o fascismo ganharam credibilidade perante o nascente movimento progressista, e o movimento progressista ganhou credibilidade perante todas as gerações de lá pra cá.

Essas ideias, cujo centro irradiador foi a Alemanha do século XIX, afirmavam defender a compaixão e o esclarecimento. O objetivo, obviamente, era transformar a estrutura do mundo, o que levou àquele pensamento mais moderno e progressista de que poderes totais deveriam ser dados ao governo para que este — desde que, obviamente, sob o comando destes progressistas iluminados — controlasse, direcionasse e alterasse as pessoas, tudo para torná-las seres humanos melhores.

Obviamente, o que eles fizeram foi substituir o mais benevolente e radical sistema que o mundo já viu pelo mais diabólico e destrutivo dos ideais — a ser implementado pela mais antiga das ferramentas: a força bruta.

Se quisermos recuperar a superioridade política na batalha pela liberdade, temos também de resgatar, de maneira clara e inequívoca, a superioridade moral. Eis a seguir, portanto, parte do que vejo como a defesa moral do capitalismo e daqueles princípios de livre mercado que permitem que as forças produtivas e criativas do capitalismo floresçam e prosperem em sua totalidade.

1) O capitalismo cria valor

Toda a função e finalidade do capitalismo é facilitar a criação e produção de valor — bens e serviços que contribuem para a vida de uma pessoa e para seu bem-estar. O capitalismo estimula que os esforços criativos e produtivos sejam direcionados para a satisfação dos desejos e das necessidades dos outros.

Costumamos aceitar como natural, como um presente da natureza, o formidável processo de criação de valor — algo que nos foi legado por gerações anteriores — que ocorre por meio da livre troca de bens e serviços. Nós nos acostumamos de tal modo às nossas atuais condições de vida, que a maioria das pessoas jamais parou para considerar como tudo seria caso não houvesse capitalismo.

Se o fizessem, constatariam o óbvio: ainda estaríamos vivendo e manuseando uma única ferramenta de pedra, a mesma que os ancestrais da humanidade utilizaram por milhões de anos. E o nosso único modo de adquirir riqueza seria por meio de guerras, as quais seriam mais brutais do que a maioria de nós poderia imaginar.
2) O capitalismo estimula o planejamento de longo prazo, desestimula a impulsividade e não permite que os indivíduos se entreguem ao deleite excessivo de suas tentações e desejos. Isso facilita o desenvolvimento da civilização, da paz e da prosperidade.

Se você quer criar algo de valor, você tem de pensar, tem de utilizar suas faculdades mentais. Você tem de estar disposto a dedicar muito tempo para aprender novas habilidades e saber como praticá-las; tem de saber conectar longas relações de causa e efeito a fim de trazer ao mundo algo que não existia antes. E esse algo de tem de ser proveitoso ou desejável para outras pessoas.

Como você tem de considerar as necessidades e desejos de terceiros, isso significa que você tem de criar empatia. Você tem de se tornar capaz de perceber e entender o que vai dentro das outras pessoas, o que significa que você tem de desenvolver habilidades que lhe permitam entrever o que outras pessoas pensam, sentem e desejam.

Você tem ser capaz de estabelecer contato com outras pessoas de maneira pacífica, o que significa que você deve saber ter bons modos e desenvolver outras habilidades sociais. O capitalismo estimula um comportamento mais extrovertido, uma maior cautela quanto aos seus modos e mais atenção a como seu comportamento afeta os outros.

O capitalismo também estimula a transmissão de habilidades intelectuais, emocionais e sociais que foram duramente conquistadas ao longo de gerações. O que você aprendeu, você quer repassar aos seus filhos e netos, alunos, amigos e colegas, de modo que eles continuem a desenvolver no futuro tudo o que você aprendeu.

É sobre esses fundamentos que se constrói a civilização, e esta é exatamente a definição de cultura. A humanidade possui uma característica singular em todo o mundo: ela possui cultura. Lobos, uma manada de búfalos e um conjunto de golfinhos também são organizações sociais; mas somente nós humanos transferimos conhecimento e expressões tangíveis desse conhecimento ao longo de gerações.

Fazemos isso porque temos a capacidade mental para fazê-lo. Porém, é o capitalismo que nos estimula a utilizar essa capacidade mental, e a utilizá-la de tal maneira que sabemos como aperfeiçoar tudo o que já foi criado anteriormente.

3) O capitalismo facilita o incremento da satisfação pessoal de longo prazo, bem como a capacidade de se ter felicidade na vida. Isso, por sua vez, estimula as pessoas a se empenharem na excelência pessoal — que é a virtude da felicidade.

Temos dentro de nós os impulsos e os desejos que podem nos levar a prazeres de curto prazo e a ações que podem causar grandes danos para nós mesmos e para outros. Podemos ser violentos, podemos ser insultuosos, podemos ser absortos, e podemos ser totalmente desatentos para com os efeitos que temos sobre os outros.

Ceder a estes impulsos e desejos regularmente significa criar uma vida destrutiva, perigosa, dolorosa e curta. Estimular tal estilo de vida como cultura é criar um autêntico inferno na terra.

O capitalismo faz com que seja supremamente recompensador e lucrativo fazermos algo completamente diferente. Afinal, também temos dentro de nós a capacidade de pensar, de planejar, de antever as potenciais consequências de nossas ações, de aprender com nossos erros e com as respostas de terceiros.

Quanto mais utilizamos essa capacidade, mais desenvolvemos uma apreciação pela grande felicidade e satisfação pessoal que pode advir do fato de sermos muito atentos ao que fazemos; e aprendemos, com uma profundidade continuamente maior, como aquilo que nós fazemos afeta a nós mesmos e aos outros.

O capitalismo cria as circunstâncias externas que faz com que utilizar essa capacidade seja um benefício. São essas qualidades empáticas, recíprocas, de longo prazo e voltadas para o nosso exterior que tornam possível uma grande diversidade de virtudes — gratidão, coragem, empatia, produtividade, criatividade, perdão, bondade, integridade, compaixão e perseverança, para citar apenas algumas.

4) O capitalismo nos estimula a cooperar

A noção da "competição selvagem", em que impera a "lei do mais forte", é uma antiga, duradoura e permanente imagem criada pelos inimigos do capitalismo. No entanto, é justamente o tipo de força bruta empregada pelo estado e pelos defensores do estatismo que estimula tal comportamento violento.

A competição dentro do capitalismo pode ser intensa e difícil, e insucessos (como falências) são parte integrante deste sistema. Porém, para ser bem sucedido em qualquer empreendimento, você tem de aprender a cooperar com outras pessoas, saber trabalhar em conjunto com elas e aprender com seus próprios erros e fracassos. Quanto melhor você se tornar nisso, maior será o potencial que você criará para o futuro.

São os seus concorrentes que lhe obrigarão a aprimorar suas habilidades, a preservar suas melhores práticas e a fornecer os melhores produtos e serviços para os seus consumidores. Neste sentido, seus concorrentes são seus aliados — eles não estão no ramo para destruir você pessoalmente; eles estão concorrendo com você, envolvidos em uma relação ativa que irá manter cada um de vocês dentro de suas margens de crescimento.

Nossos antepassados cometeram o erro de aceitar as reivindicações morais do socialismo.

Eles aceitaram as virtuosas reivindicações de compaixão feitas pelos progressistas, e foram seduzidos pela visão que lhes foi apresentada de um mundo melhor, com pessoas melhores. Mas podemos perdoá-los por isso, uma vez que eles não tiveram — ao contrário de nós — o benefício de poder olhar para os últimos cem anos e testemunhar os resultados de tais visões idealistas.

Recordo-me vivamente de minha (conservadora) avó dizendo que "o socialismo pode ser uma boa ideia na teoria, mas ele simplesmente não funciona." O que ela — e milhões de outras pessoas — não entenderam é que a teoria é também igualmente péssima e nojenta.

O que eles não entenderam é que os progressistas, os socialistas, os comunistas, os fascistas... os estatistas de todas as matizes — aqueles que defendem o uso da força do governo para moldar e construir os seres humanos à imagem e semelhança daqueles que detêm o poder — não tinham absolutamente nada que pudesse ser comparado ao poder benevolente das trocas voluntárias.

O contraste entre o capitalismo e todas as formas de estatismo é tão nítido quanto a diferença entre o que acontece quando uma madeireira é dona de sua própria terra vis-à-vis quando ela faz uma locação de curto prazo para explorar uma terra cujo dono é o estado.

Quando uma empresa é dona de sua própria terra, ela possui vários incentivos para cuidar muito bem daquela terra. Sua preocupação é com a produtividade de longo prazo. Assim, ela vai ceifar apenas um número limitado de árvores, pois não apenas terá de replantar todas as que ceifou, como também terá de deixar um número suficiente para a colheita do próximo ano.

Já quando a madeireira possui um arrendamento de curto prazo, seu incentivo é ceifar o máximo de árvores o mais rápido possível antes que o período de locação expire.

O capitalismo leva à civilização, ao planejamento de longo prazo, à empatia e à contínua e crescente criação de valores.

O estatismo gera em termos pessoais e culturais algo comparável a uma devastação florestal. O capitalismo estimula o homem ambicioso a pensar: "O que eu posso criar ou produzir que viria a ser de grande valor e benefício para as outras pessoas, de modo que elas iriam voluntariamente e com prazer abrir mão de seu dinheiro arduamente ganho em troca desta minha criação?

Como eu poderia me comunicar com elas e persuadi-las de que minha criação possui esse valor? Como elas poderiam fazer o melhor uso possível desta minha criação?"

Já o estatismo estimula o homem ambicioso a pensar: "Como eu posso adquirir mais poder para satisfazer minhas vontades, para utilizar a força para impor meus ideais — bem intencionados ou perversos — sobre as outras pessoas?"

Em uma disputa honesta para se determinar qual arranjo possui uma superioridade moral incontestável — o capitalismo ou qualquer outra forma de estatismo —, simplesmente não haveria disputa. Foi o capitalismo o que nos tornou humanos.

É o capitalismo que nos estimula a apresentarmos nossas melhores qualidades, a utilizar o que há de melhor em nossa natureza humana, a considerar e respeitar toda a experiência de terceiros e a trabalhar conjuntamente, e de maneira pacífica, para fazer com que as boas coisas aconteçam.

A defesa moral do capitalismo não é ambígua.

Muito menos se trata de uma questão de opinião.

Ela é tão clara e nítida quanto a diferença entre guerra e paz, liberdade e escravidão, sacrifício humano e empatia e amor.

Aprendamos com os erros de nossos antepassados e corajosamente passemos a afirmar a benevolência desta que é a maior força social que transforma para o bem: as relações de troca possibilitadas pelo capitalismo.

Fonte: Joel F. Wade | Mises.org.br Disclaimer: A informação contida nestes artigos, ou em qualquer outra publicação relacionada com o nome do autor, não constitui orientação direta ou indicação de produtos de investimentos. Antes de começar a operar no SFN - Sistema Financeiro Nacional o leitor deverá aprofundar seus conhecimentos, buscando auxílio de profissionais habilitados para análise de seu perfil específico. Portanto, fica o autor isento de qualquer responsabilidade pelos atos cometidos de terceiros e suas consequências.

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