Apesar de alerta, beneficiários do Auxílio Brasil comemoram chance de consignado
Lei que permite consignados foi sancionada por Bolsonaro na última quinta-feira
Beneficiários sul-mato-grossenses do Auxílio Brasil, o programa de transferência de renda do Governo Federal, ainda estão conhecendo a possibilidade de contratação de crédito consignado liberado a esse grupo. Apesar de todos os alertas sobre endividamento, a novidade desperta interesse entre contemplados do programa.
A medida foi aprovada pela Lei nº 14.431/2022, sancionada pelo presidente Jair Bolsonaro na última quinta-feira (4). A nova regra facilita o acesso a empréstimos, com desconto automático das parcelas em folha, a beneficiários de programas federais de transferência de renda e também amplia a margem de crédito consignado a pessoas registrados pela CLT (Consolidação das Leis do Trabalho), assim como aos segurados da Previdência Social.
Otimismo - A dona de casa Fernanda Correia, 23 anos, está bastante empolgada com a possibilidade. “Acho super bom. Fiquei feliz com a notícia”, compartilha. Ela mora com o marido e uma filha de 3 anos. Como ela não trabalha, só a renda do marido é que sustenta a família.
“Isso seria uma boa ajuda, ainda mais com criança por criar. Tenho interesse em pegar (o empréstimo), dependendo da quantia que vai ser disponibilizada e quanto vai ser descontado do auxílio”, avalia. Ela acredita que o recurso seria uma boa saída para pagar a conta de água de casa.
Alerta - O benefício, que a partir desse mês passou a ser de R$ 600, quantia que vai valer dezembro deste ano, pode ser comprometido em até 40%, índice também reajustado recentemente, o que fez especialistas acionarem o sinal de alerta. A avaliação é que o programa foi criado para assegurar condições mínimas de sobreviência de uma família, para segurança alimentar. O empréstimo consignado comprometeria até o mínimo necessário.
Os contemplados poderão comprometer com empréstimos até R$ 240 do auxílio. No entanto, depois de dezembro, o benefício volta a ser no valor de R$ 400, o que significa que comprometer até 40% dessa renda é ter que pagar até R$ 160 em parcelas, restando apenas R$ 240 do benefício para uso com outras necessidades, como alimentação.
Daiane Marcucci, 34 anos, também dona de casa, acredita que o consignado pode ajudar a pagar contas, mas vai além. Pensa até a comprar um carro. “Eu achei muito boa essa ideia. Vou pegar esse dinheiro do empréstimo para pagar as contas e comprar um carro, parar de andar de ônibus. Mesmo se tiver juros, eu quero”, afirma.
Ela divide a casa com os três filhos e o esposo. No entanto, eles só têm os ganhos do marido para manter a família, por isso, vendem pano de prato para ajudar a compor a renda. “O dinheiro do auxílio mal dá para a alimentação. Eu não sei se vai comprometer muito a minha renda (pegar o empréstimo), mas mesmo assim eu quero porque eu preciso”, finaliza.
Não vão emprestar - Alguns dos maiores bancos privados do país não vão oferecer empréstimo consignado aos beneficiários do Auxílio Brasil. Levantamento feito pelo jornal O Globo constatou que Bradesco, Itaú, Santander, Nubank e BMG já decidiram não oferecer o crédito devido à preocupação com o endividamento das pessoas em condição de vulnerabilidade social ao contratarem empréstimo que pode comprometer até 40% do valor-base do benefício (R$ 400).
Vão liberar - O Banco do Brasil afirmou que ainda analisa a possibilidade de operar a linha de crédito, assim como o Banco do Nordeste. Já a Caixa informou que os consignados do Auxílio Brasil começarão após o governo regulamentar a linha, e que as taxas de juros serão informadas posteriormente. Além disso, disse que orienta os clientes sobre a importância do “crédito consciente”.
Para a doméstica Ana Carolina Fonseca, de 34 anos, a medida é “muito boa porque não é fácil conseguir empréstimo”, e completa: “Se eu precisar para alguma necessidade, vou querer. Mas eu não faria por causa dos juros, então não tenho interesse agora”, pondera. A também doméstica Alessandra Pedrosa, 32 anos, pensa parecido.
Ela também não pretende contratar o recurso por enquanto, mas não elimina a possibilidade. No entanto, caso decida pelo consignado, afirma que vai analisar com cuidado. “Vou estudar, ver os juros certinho”, conclui.
Especialistas em finanças encaram a possibilidade com cautela por causa do grande risco de endividamento. “A dívida aprisiona. Assim como na antiguidade o devedor passava a ser escravo do seu credor quando não podia pagar a dívida, quando se contrai uma dívida, está criando uma obrigação para o futuro que vai te aprisionar”, resume a educadora financeira Graziela Gonçalves.