Em Campo Grande, caminhoneiros mantêm rotina e não aderem à paralisação nacional
Caminhoneiros dizem que protesto não teria o mesmo alcance da manifestação de 2018
A anunciada paralisação dos caminhoneiros ainda não parece ter chegado em Campo Grande. Hoje, os motoristas encontrados pela reportagem disseram não ter recebido qualquer informação sobre protesto nas rodovias da cidade e o dia está sendo “vida que segue” para os profissionais.
A convocação nacional foi feita pela CNTTL (Confederação Nacional dos Trabalhadores em Transportes e Logística), em protesto contra o governo federal, focando na política de preço dos combustíveis, o retorno da aposentadoria especial após 25 anos de contribuição ao INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) e o julgamento da constitucionalidade pelo STF (Supremo Tribunal Federal) da Lei Piso Mínimo de Frete.
O presidente do Sindicato dos Caminhoneiros Autônomos, Osny Belinatti, diz que a entidade está orientando os profissionais para que não participem da paralisação. Segundo ele, a manifestação também atingiria a população em geral e não é o foco deles. “Tá ruim para todo mundo”, disse.
Há relatos de manifestação no estado de São Paulo, porém sem interdição de vias, como em Pindamonhangaba e Santos.
Em Campo Grande, a reportagem passou pelas BR’s 262 e 163 e não encontrou manifestação dos caminhoneiros. Na 262, o protesto era dos caçambeiros que trabalham na Capital. Na BR-163, a movimentação era a usual nos postos de combustíveis, com os caminhoneiros descansando ou abastecendo para seguir caminho.
Entre eles, estava Harlley Avelar da Costa, 40 anos. De São Gabriel do Oeste, saiu do trabalho de instrutor de trânsito para cair na estrada há apenas dois meses. Embora o ganho tenha dobrado em relação ao trabalho anterior, já descobriu que o momento não está dos melhores para a categoria.
Porém, acredita que ainda não seja o momento de parar. “Mesmo nessas condições, se parar, não vai resolver nada, como ocorreu naquela passada”, referindo-se ao protesto do fim de 2018. Naquele período, que durou de 21 a 30 de maio, causou desabastecimento e afetou todo o País.
Euilson Almeida, 49 anos e a esposa, Sônia Maria Silva, 41 anos, são de Araguaína (TO) e passam cerca de 50 dias na estrada, agora, carregando minério em Corumbá e seguem para Belo Horizonte (MG). Nesta segunda-feira, o casal estava parado em posto de combustíveis na BR-163, na saída para Cuiabá, fazendo café da manhã com cuscuz e linguiça.
Euilson diz que viu nos grupos de WhatsApp algum “burburinho” de paralisação, mas, não em Mato Grosso do Sul e, sim, nos estados de São Paulo e Paraná, neste caso, dos caminhoneiros que atendem as refinarias localizadas em Curitiba. “Se parar lá, para tudo”, disse.
Sônia disse que a situação econômica impactou nos gastos do casal. “Tá muito difícil, porque a despesa na estrada aumentou muito, como produtos de limpeza, alimentos. E nós temos duas casa, né?”, referindo-se ao caminhão e a casa em Araguaína.
Também de Araguaína (TO), Anderson de Mello, 41 anos, disse que eles adotam como estratégia parar perto de mercados atacadistas para conseguir preço mais acessível nos produtos.