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Economia

Índios de MS não podem ficar parados no tempo, diz presidente da Funai

Paulo Nonato de Souza | 06/04/2017 18:08
Em entrevista para a BBC, o presidente da Funai, Antônio Costa, citou Mato Grosso do Sul como exemplo para defender a ideia de que os índios devem ser produtivos (Foto: BBC Brasil)
Em entrevista para a BBC, o presidente da Funai, Antônio Costa, citou Mato Grosso do Sul como exemplo para defender a ideia de que os índios devem ser produtivos (Foto: BBC Brasil)

O presidente da Funai (Fundação Nacional do Índio), Antônio Costa, disse em entrevista para a BBC de Londres, levada ao ar nesta quinta-feira, 06, que os povos indígenas devem se inserir no sistema produtivo brasileiro.

Há dois meses e meio no cargo, o dentista e pastor evangélico Antônio Costa é especialista em saúde indígena pela Universidade Federal de São Paulo, e fala do assunto com a experiência de quem trabalhou entre 2005 e 2009 na Missão Evangélica Caiuá, em Dourados, no Mato Grosso do Sul.

“Os índios que querem ser produtores para a subsistência, ótimo, mas não vejo como índios do Mato Grosso do Sul, nem do Mato Grosso, onde as terras são férteis, possam ficar parados no tempo, vendo ao seu redor a produção dos não índios crescendo, sem que eles tenham condições de produzir”, declarou o presidente da Funai.

Sobre a ideia de que os povos indígenas devem participar do sistema produtivo nacional, Antônio Costa disse que isso não significa inserir os indígenas no sistema capitalista.

“No sistema capitalista, não. Mas no sistema produtivo, na cadeia produtiva. Precisamos dar a eles condições de cultivo, através de patrulha mecanizada, sementes, adubos, ensinar como plantar e colher melhor. Eles devem participar dessa cadeia. Os não índios já têm essa prerrogativa, por que os índios não tem? O índio quer universidade, quer ser médico, engenheiro, dentista, enfermeiro, advogado, e temos de dar condições a eles de avançar nesse mercado”, afirmou.

Na entrevista, o presidente da Funai falou de diversos temas, e por diversas vezes a comunidade indígena sul-mato-grossense, a segunda maior do Brasil, esteve no foco da conversa.

O reporter da BBC perguntou: “O senhor citou os indígenas em Mato Grosso do Sul. Para muitas comunidades lá, a prioridade é a demarcação de terras. Como resolver esse impasse e concretizar todos esses planos sem que eles tenham terras?”

Antonio Costa em reunião com lideranças indígenas na sede da Funai, em Brasília (Foto: Funai/Divulgação)
Antonio Costa em reunião com lideranças indígenas na sede da Funai, em Brasília (Foto: Funai/Divulgação)

Na resposta, o dirigente da Funai falou do problema, mas não sinalizou como os índios poderiam ser inseridos no processo produtivo se brigam por áreas de terras na Justiça

“O governo federal precisa pensar que existem demandas reprimidas de demarcações de terras em Estados importantes, principalmente na Bahia, Mato Grosso do Sul, Santa Catarina. Elas só vão ser resolvidas quando se pensar dentro do Orçamento brasileiro num fundo especial que possa vir a pagar essas demarcações. Se você não demarca, cria-se um acúmulo de retomadas, que são ações indígenas na ocupação de fazendas em áreas reivindicadas, e a situação fica inviável”, declarou.

Segundo ele, hoje a Funai tem um passivo de mais de R$ 90 milhões de indenizações que precisam ser pagas a proprietários desalojados, mas elas não fazem parte do orçamento.

“Precisamos buscar um diálogo entre as três partes: indígenas, donos da terra e governo federal. Muitas terras em disputa ocupadas por não índios são provenientes da União e não têm nem documentos. Isso só será resolvido quando o governo se comprometer”, ressaltou.

A evangelização dos índios - A BBC questionou Antônio Costa sobre denúncias de indígenas de que algumas igrejas condenam práticas tradicionais dos índios, e que algumas delas tratam xamãs como se fossem adoradores do demônio.

“Essas incidências são insignificantes. Dou o exemplo da Missão Caiuá, que tem um hospital dentro da aldeia em Dourados, no Mato Grosso do Sul. Se tirar esse hospital de lá, como ficaria a assistência desses povos?”.

Diante da insistência do reporter de que o poder público deveria assumir esse papel, Antônio Costa disse que quando o Estado não assume, as parcerias têm de assumir.

“No Mato Grosso do Sul, 95% da população terena é evangélica. Temos pataxós evangélicos na Bahia, com igrejas e tudo. O país está crescendo, mudando. Geralmente a iniciativa de buscar as igrejas parte dos indígenas”, afirmou.

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